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Pedaço;

Fiquei olhando a Estrelinha concentrada, fazendo um curativo novo no meu peito. Porra, eu fui livrado da morte de uma maneira que é quase impossível de acreditar, questão de centímetros, pô. A bala podia muito bem ter acertado o coração, um nervo ou veia importante, mas por centímetros isso não aconteceu.. é um livramento do caralho e acredito que isso tenha um propósito, Deus não ia me livrar de uma dessa por nada não, tenho certeza disso. Eu queria entender se tem algo a ver com a Estrelinha ou o bebê que tá vindo aí, nosso filho ou filha, tanto faz.

Puxei o ar respirando fundo, sentindo ela pressionar um pouco a mão em cima o curativo, essa porra doeu pra caralho.. fechei minhas mãos e vi ela afastar a dela, me olhando com atenção. A sensação pesada foi aliviando e no final, só sobrou o incômodo que eu tô sentindo desde que acordei naquele dia, coisa normal de quem quase morreu.

Carmem: Tô puta contigo, por ter saído do hospital por minha causa.. eu sei me cuidar. - Sorriu na última parte e colocou a mão na perna, animada. - Ele nunca mais vai encostar em mim.

Pedaço: Idai? Pô, fiquei sabendo que ele tinha te levado e fiquei doido, mermo. Nem raciocinei o que eu tava fazendo direito, só sai feito um maluco atrás de você, mas tu foi mais rápida. - Abri um sorriso orgulho olhando o rosto dela. Se ela não tivesse tido coragem, tudo podia ter sido bem pior, pô. - Queria ter visto tu bravona, gosto pra caralho da carinha que tu faz quando fica boladona.

Carmem: Eu sei, mas não ia prestar. - Riu e mexeu no cabelo. - Tu é um pervertido do caralho, não consegue nem disfarçar! Ridículo.

Pedaço: E eu tenho culpa de tu ser gostosa? - Perguntei e desci o olhar do rosto para os peitos marcados na regata, passei minha língua nos meus lábios e sorri. - Como que eu vou falar contigo na moralzinha, com teus peitos quase na minha cara e marcados desse jeito? Não tem como, pô, não tem mermo.

Vi o rosto dela começar a ficar vermelho e ela colocar o braço na frente da regata, tentando esconder os peitos, o que não adiantou de merda nenhuma. Quase que os peitos dela pularam pra fora da regata, pô, foi isso que aconteceu e eu ri pra caralho da cara que ela fez e da risada descontrolada.

Carmem: Eu ainda não aprendi a lidar com todos esses seus elogios, fico perdida.. - Comentou e eu assenti, percebi isso faz tempo. - Para de olhar assim pra mim, sério.

Pedaço: Nunca, tu é linda pra caralho e eu não canso de te apreciar.. olhar pra você é bom demais, pô, tu não tem noção. - Suspirei e segurei a mão dela, analisando as linhas da pele e depois as unhas. A mão dela é delicada pra caralho, ela em si é delicada e isso me encanta muito, pô.. - Estrelinha, canta pra mim?

Carmem: Cantar o que? - Sorri pela resposta que ela me deu, é um sim. - Só se tu me prometer que vai me levar pra comer um açaí, amanhã de tarde.. hum?

Pedaço: Pra onde tu quiser, pô, só falar. Canta a primeira que vir na tua mente, que tu goste ou sei lá, só quero te ver cantar mermo. - O pingente de estrela se mexeu conforme ela mexia um pouco o pescoço.

Carmem: Gosta de 1Kilo? - Neguei olhando ela fazer uma cara de nojenta. - Problema seu, é ótimo e eu vou cantar.. hum, Leão Guerreiro, é uma das minhas preferidas. - Balançou a cabeça e sorriu. - Na verdade, tem outra, não é da 1Kilo.

Não respondi ela, só prestei atenção nela se preparando e pouco nervosa. Vi ela cruzando as pernas igual a índio, mexer no cabelo e morder o lábio, a expressão pensativa no rosto dela me fez rir baixo. Ela ergueu a cabeça e respirou fundo, depois me olhou e eu mexi a cabeça incentivando ela.. faz muito tempo que eu não vejo ela cantar e é uma parada que eu quero pra caralho, muito mermo.

Carmem: O meu quarto ainda tem o seu cheiro de amor e sacanagem.. Ô governador, o senhor abaixa o preço da passagem, que pra casa da cheirosa é mó viagem. - Minha pele arrepiou inteira, com a voz gostosa cantando e encaixando perfeitamente com a porra da música. - Na moral, sacanagem.. então deixa eu provar sua boca, mexa. Só love, só love, flow Claudinho e Buchecha. Metamorfose ambulante, a linda e o ambulante, no melhor estilo Raul Seixas. Atravessando o Rio sem ter nem passagem, sozinho e cheio de fome, ouvindo Sabotage. Os bucha detesta, o Xamã não presta, eu quero ver melhor e quero novidade..

Um sorriso foi surgindo na minha boca e ela ficou vermelha, começou a rir e parou de cantar, escondendo o rosto nas mãos. Caralho, essa porra foi bem melhor do que eu imaginava..

Pedaço: Puta que pariu! - Falei animado e ela tirou a mão da frente do rosto. - Olha aqui, pô, tô arrepiado até.. caralho, Estrelinha, tu cantou muito e mais um pouco. Desencadeou várias lembranças nossas de quando nós era menorzinho, pô, tu canta muito..

Carmem: Eu morro de vergonha quando tu começa a me elogiar assim.. - Sorriu e eu coloquei a mão no joelho dela. - Sabia que a última vez que eu cantei em público ou pra outra pessoa, foi no velório das nossas mães? - Balancei a cabeça negativamente, um pouco curioso e ela deu outro sorriso dessa vez mais curto. - É, eu.. quando os corpos chegaram e você tava com seu pai, e o meu pai estava em algum lugar bebendo, eu fiquei com elas.. sentada em uma cadeira no meio dos dois caixões, cantando porque sabia que elas gostavam.

Pedaço: Não sabia. - Respondi e desviei o olhar dela, sei lá, não curto ficar falando da minha mãe ou lembrar dessa porra toda que rolou. - E o arco-íris?

Carmem: Que arco-íris? - Perguntou e eu apontei pra barriga dela. - Ah, acho que tá tudo bem.. quando quiser a gente pode ir ver o sexo.

Pedaço: Mané ver sexo, ficou louca? Nós vamos fazer aquela parada de revelação, festão e a porra toda. - Sorri imaginando uma parada foda pro meu filhote que vem aí.. - Chamar gente pra caralho, todos meus aliados,  tuas amigas. Geral mermo.

Carmem: Que amigas? Amor, tu é meu único amigo. - Riu e eu encarei ela, eu ouvi bem o que ela falou mas vou fingir que não..

Pedaço: Tem a maluca lá, a loirinha. - Lembrei e ela deu de ombros. Por um momento a Giane veio na minha cabeça, eu não tive tempo de ir ver como ela tá. - Queria chamar a Giane, se não for um problema pra tu..

Caralho, eu esqueci do que rolou com ela por um momento pô.. mas logo lembrei dela sendo atropelada do nada e depois o carro chegando perto, aquele monte de tiro na minha direção, foi do caralho. A Giane, querendo ou não eu tenho ela como uma amiga, tá ligado? Passou anos ao meu lado, me ajudando, me fazendo bem pra caralho e nunca pisou na bola comigo, normalmente era eu quem fodia com tudo e mermo assim ela ainda estava ali comigo. Então eu tenho uma gratidão enorme por ela e isso nem a Estrelinha pode mudar, é uma parada que não tem como ser anulada.

Carmem: Óbvio que não.. eu sei que vocês ficaram um bom tempo juntos e passaram por muita coisa, e tá tudo bem você querer ela por perto como amiga. - Colocou a mão em cima da minha e sorriu de leve. - Ela já foi minha amiga, a única que realmente esteve comigo em algumas situações.. eu quero ela lá. E eu mesma queria fazer o convite, porque eu tenho que conversar com ela sobre tudo isso..

Pedaço: Tranquilo, pode fazer o convite. Só não quero que tu assuma essa bronca sozinha, tu tem culpa e eu mais ainda, essa é uma parada que não tem como argumentar. Mas eu te conheço e sei que tu fica com essa paranóia de que tu fez o errado, sendo que o mais errado nessa história sou eu. - Falei sério mas com calma, ela só foi concordando e ficou quieta. - E enquanto tu faz isso, eu vou resolver uma outra encrenca nossa.

Me referi ao meu tio, tô surpreso e incomodado pra caralho, porque ele ainda não mandou mensagem pra nenhum de nós, não ligou, não fez nada.. e eu conheço ele, pô, ele nunca vai deixar baixo essa história não. Mas se ele tá quieto, é motivo pra nós dois ficarmos preocupados.

Fiéis Amantes - [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora