『Não gostei』

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  Ayla Rivera;
  5 de Janeiro, sexta-feira.

O fim de semana havia passado feito nada, pisquei por um segundo e já estava amanhecendo na segunda. Mal tive oportunidade para aproveitar a correria do sábado junto ao domingo, o momento mais marcante ficou retratado pela saída em grupo até o cinema. Não estava muito interessada em tal programa, mas confesso ter curtido cada segundo passado junto da minha melhor dupla, Leon e o embuste por quem me apaixonei. Nicole era o alvo de tudo, principalmente das contas feitas por mim até o fim daquela noite. Acho que a fiz decretar falência para um dos seus cartões de crédito e não sentia o menor remorso, estava me sentindo muito bem com tudo isso, ela sabia como me suportar. Ao fim de tudo, a velocidade em que o dia se passou não incomodou tanto.

Quando abri os olhos para fitar a enorme claridade que invadia todo o meu quarto, senti que estava submersa na mais profunda escuridão há anos, pois a rapidez em que meus olhos voltaram a se fechar devido a ardência sentida, não podia ser descrita por ninguém. Por breves momentos, me senti o drácula ao ser exposto a luz solar em alguma armadilha. Havia entendido todas as dores do meu morcego favorito.

— Está morrendo e não contou pra gente? – ouvindo a frase grosseira imposta em forma de questão, respirei fundo e voltei a procurar pela claridade de forma lenta, cabível as minhas retinas sensíveis para um grau de ultravioleta tão elevado para aquela manhã. Então, respirei fundo mais uma vez e a mirei com um olhar derrotado. Ainda tentava me reestabilizar diante aquela invasão solar contra as iris do meu olhar.

— Ao menos um enterro durante o dia de hoje, tenho certeza que mamãe terá o doloroso trabalho de preparar se você não ficar quieta no seu canto, inferno – agradecendo aos céus por ter tido a oportunidade de pronunciar tal palavra sem a presença de uma das minhas mães atrás da porta, analisei o sorriso estampado na face de Nicole – Apanhou depois que tudo acabou? – nada ela disse, apenas arqueou a sobrancelha  – Estou me referindo ao seu olho um pouco rouxo, parece que foi posta contra a sua vontade dentro dos trilhos no encerramento de tudo. Quem mandou se perder dos colegas?

— Para de graça, eu só não tive uma noite de sono muito agradável – buscando por sua defesa, disse algo que me chamou a atenção.

— Aconteceu alguma coisa da qual eu não me lembro? – impondo a questão, parei e pensei um pouco – Eu bebi tanto assim? Acho que o velório vai ser, mamãe me viu chegar? – não conseguindo parar de falar para que me cedesse alguma resposta, tentei não me debater quando tive sua mão cobrindo minha boca. O meu silêncio era necessário para que existisse um diálogo entre duas pessoas.

— Para de imaginar o pior, não é nada do que está pensando, você não bebeu fora do limite e nossas estavam dormindo quando a gente chegou. Apenas não dormi tão bem quanto gostaria, só isso – me cedendo algum espaço quando expôs tudo o que julgou ser necessário para me trazer a calma, voltou a exibir um divertido sorriso ao me fitar com a atenção – Você fica muito engraçada quando está se apavorando com pouco, acho fofo.

— Primeiro que eu não estava me apavorando, segundo que você não sabe qual definição de fofo, e terceiro, vai se ferrar – criando coragem para finalmente sair da cama depois de ter me habituado a claridade que quase me cegou, disse de forma suave e o mais baixo que consegui. No entanto, os ouvidos de mamãe e dona Alícia parecem ter imãs para esse tipo de situação.

— Quantas vezes teremos que advertir vocês sobre as consequências de falar coisas impróprias dentro desta casa? – surgindo nas costas de Nicole, dra Rivera me parecia mais um fantasma.

— Não disse nada demais, apenas me expressei da forma mais simples que consegui – tentando a ganhar no sorriso, pulei para o chão e me enrolei em seu abraço.

𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora