𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒

『Precisamos conversar』

   Nicole Davis,
  7 de abril, terça-feira. 

Dois dias se passaram desde o infeliz acidente na propriedade dos pais do Leon, dois dias correram sobre a minha cabeça enquanto minha mente se dividia entre a preocupação, e a necessidades de me sentar junto dela para termos uma longa e complicada conversa.

Naquele dia, durante o seu desempenho na pista de corrida, senti sua bolsa vibrar em meu colo e não soube como conter a curiosidade naquele momento. Me desligando por breves minutos do acontecia à frente, me vi fitando a tela aberta debaixo da capa de proteção. Se existia uma senha, ela havia se esquecido de acionar, e com isso, meu instinto me guiou por cada palavra escrita ali, por cada publicação feita na última semana. Onde os intervalos eram maiores do que aquelas feitas durante o mês passado, algo que me deixou intrigada, de queixo caído sem saber como realmente reagir a tudo. Foi quando o seu acidente aconteceu, chamando imediatamente a minha atenção para o seu estado. A vendo desacordada, só conseguia desejar que ela estivesse bem. Enquanto em meu consciente, só sabia me perguntar como tudo podia ser possível.

A levando ao hospital, depois de muita insistência minha e dos nossos amigos, esperando que mamãe a acompanhasse em exames de rotina para descartar toda e qualquer preocupação, dona Alícia não media suas palavras ao nos colocar em seu chinelo. Ela havia mesmo muito irritada, estava preocupada com o que de mais grave podia ter acontecido naquele espaço. Então respirei fundo ao me deixar cair em derrota sobre o sofá de espera naquele corredor, pois era difícil olhar a minha mãe nos olhos e visualizar a sua descoberta por trás de tudo.

Seu espírito corrida risco de ser destruído, apagado junto às chamas da esperança por um mundo melhor. Afinal, se sua criança havia se deixado levar por aquele caminho, o que podia esperar dos demais cidadãos do nosso país?

Horas depois naquele mesmo dia, o alívio se fez presente para todos nós. Mas apenas alguns conseguiram respirar com satisfação outra vez. Para mim, ainda faltava alguma coisa, um sabor de quero mais.

Hoje, o dia estava propenso a seguir os mesmos padrões dos dois últimos que se passaram. Eu me segurando para não dizer nada, esperando que fosse ela a tomar alguma atitude sobre aquele assunto tão importante. Enquanto sua figura fazia parecer que nada havia mudado, que tudo seguia dentro dos próprios padrões. Mas se a coragem não viesse até mim para que as cartas fossem arremessadas sobre a sua mesa de problemas, tudo permaneceria exatamente dessa forma. Afinal, as chances de ela estar ciente do meu conhecimento são mínimas. Se quisesse realmente por tudo em ordem, teria de perder o medo e bater de frente, algo que seria feito em pouco tempo. Me fazer de desentendida não estava sendo nada fácil.

Com o relógio perto de marcar meio dia, seguia para o quarto para uma ducha rápida logo depois de chegar de um passeio no parque, onde estava desde o início da manhã. Havia acreditado que esse tempo a sós com a natureza poderia me ajudar a dissipar todos os pensamentos negativos que não deixavam a minha mente, mas nada aconteceu da forma como eu pensei. E para minha surpresa, quando me direcionei para a cozinha, encontrei Ayla focada em dar fim ao almoço que preparava. Não era nada extravagante, mas era exatamente a sua cara. Suspirei com isso.

— Saiu cedo, não vi você se levantar – abandonando os legumes que picava sobre a bancada, comentou pendurando um dos braços em meu pescoço enquanto me cedia algum carinho na face com a mão livre. Seu selinho ainda era apaixonado, mas faltava alguma coisa.

— Não estava me sentindo bem, precisava  respirar um ar puro – forçando um meio sorriso ao tê-la retornando para o seu afazer do momento, recebi apenas um aceno positivo da sua parte. Diferente do que aconteceria em situações passadas, dessa vez ela optou pelo silêncio. Era estranho, e me dava a abertura perfeita para fazer acontecer o diálogo que me atormentava desde o domingo.