『Promete que vai se cuidar?』

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Ayla Rivera;
11 de fevereiro, quarta-feira.

Era inacreditável como a repercussão do último encontro com minhas mães ainda ressoava em minha mente, como tudo permanecia tão vívido e audível. Dona Alícia novamente havia passado dos limites, outra vez palavras desnecessárias haviam deixado os seus lábios em um tom nada agradável.

Quando a discussão com Nicole começou eu devia ter ficado calada, ter me mantido em silêncio durante todo aquele encontro, e foi o que tentei fazer. Afinal, estava em completo desacordo com o ocorrido, mas ainda tentava fingir que não era comigo. Nem mesmo quando fui posta em meio ao assunto eu me atrevi a dizer algo, e não porque me faltou vontade, pois isso era o que mais me sobrava. No entanto, não podia permanecer calada ao ser cutucada por vara curta.

Não esperava que a nossa desavença fosse ser tão grande, ao menos não quando haviam lhe tirado do caso como se a sua opinião e esforços até o momento não servissem para nada. Mas indo contra os argumentos criados por mim para iludir a mim mesma, ela não escondeu a sua revolta ao saber de que lado eu estaria durante todo aquele processo. Porém, deveria ser claro que me manteria fiel a memória deixada pelo Deniel. Não iria permitir que acabassem com o seu legado por causa de dinheiro e mais dinheiro. Ele era um homem digno, merecia muito mais, merecia respeito acima de tudo.

Se não estivéssemos em um lugar tão público e tão bem frequentado naquele dia, estava prevendo o momento em que a paciência de dona Alícia chegaria ao seu limite e sua explosão aconteceria sobre o nosso colo. Mas o seu alicerce pessoal estava ali para lhe trazer a calma necessária para a questão, da mesma forma em que Nic fazia o mesmo por mim.

Havia sido mesmo um almoço repleto de surpresas e assuntos totalmente desaforados, mas também havia sido muito bom poder estar junto delas outra vez. E apesar de não parecer tanto, tinha pra mim que não demoraria muito mais para que nossa situação fosse regularizada. Dona Alícia era um ser muito complicado de se lidar, mas também era uma mãe excepcional. O tempo já passado era mais do que o suficiente, não era necessário que tal distância se prolongasse por muito mais tempo. Era nisso que pensava quando abandonei o tablet sobre a cama e deixei o quarto no instante seguinte. Com o fim da tarde tão perto, precisava percorrer mais do que apenas um único cômodo no apartamento. Não podia passar todo o tempo presa àquela tela, ao menos não se ainda quisesse manter tudo em segredo.

- Saiu quando que não percebi? - a vendo passar pela porta de entrada, perguntei enquanto era abrigada pelo nosso sofá. Ela então sorriu em negação ao deixar sobre a pequena mesa de centro o seu capacete junto de suas chaves, para em seguida se perder na direção da cozinha - Droga - não queria, mas respirei fundo e segui os seus passos contra a minha vontade. Sabia que era o que deveria ser feito.

- É sério que já são quase seis horas da tarde e você ainda comeu nada? - encontrando o espaço exatamente da forma em que deixou, trocou o sorriso por um semblante irritado e me fitou intensamente. Se não fosse ela ali, teria me assustado com tamanha bipolaridade. Porém, a conhecia o suficiente para saber que limites não seriam quebrados.

- Comi uma maçã - apontando para fruta a menos dentro da pequena cesta sobre a mesa de jantar, não evitei sorri para o seu suspiro cansado - Se o problema é esse, podemos pedir algo para comer agora, o que acha?

- Isso não é brincadeira, Ayla. Devia cuidar melhor da sua alimentação, a Joana não está mais aqui para ficar insistindo no cessar desse mal hábito que você possui - buscando pelo que julgava ser necessário para o preparo de algo rápido, lembrou sem muitas caras e bocas - Aposto que esteve no quarto a manhã e a tarde quase toda, não estou correta?

- Não faço ideia do que você pode estar falando - dando de ombros, disse simples enquanto observava o seu talento com a faca. Então uma sensação estranha se apossou de mim, mas tentei não demonstrar nada de diferente. Não precisava lhe trazer ainda mais preocupações, somente aquela já bastava.

𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora