『Sinto a falta delas』

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  Ayla Rivera;
  21 de janeiro, quarta feira.

Frente ao espelho do banheiro, havia apenas uma situação que não deixava de bagunçar a minha mente. Estava cansada de tanto remoer aquilo, mas não conseguia simplesmente deixar que o passado o levasse para mais longe.

De acordo com o seu ultimato no dia do meu aniversário, deveria ser hoje o nosso jantar repleto de revelações. Havia me preparado tanto para nada, afinal, um descuido gerou toda uma tempestade sobre um pequeno copo de água. Exageros, era essa a palavra perfeita para resumir os acontecimentos daquele dia.

Mamãe não fez tanto, pelo contrário, tentou manter a calma junto a sanidade para não fazer nada que fosse lhe causar arrependimento mais tarde. Ela sabia que o psicológico podia lhe forçar a fazer e dizer muita asneira se acabasse por agir de cabeça quente, o seu conhecimento lhe permitia isso. No entanto, sendo completamente o oposto de sua esposa, dona Alícia não pensou muito antes de desferir cada uma de suas duras palavras, e a última frase usada com certeza me causou muita dor e ressentimento. Ela não precisava ter dito aquilo, não tinha que dizer exatamente tudo o que estava na ponta da sua língua. Seu lado explosivo e controlador gritou mais alto, deu voz a toda sua frustração quando não era necessário. Aquilo me feriu de formas que nem mesmo posso explicar.

"— Se saírem por essa porta...não precisarão mais me procurar por motivo algum."

Desde que deixamos o "nosso lar" de segurança, não havia um momento que essas palavras não se repetissem em minha mente. Havia mesmo sido algo muito desnecessário, brutal de formas que não conseguia nem mesmo assimilar. Talvez fosse mesmo para tudo acontecer assim, mas não tinha que ser tão difícil. Queria apenas poder ser feliz ao lado da minha família, e não ter que me afastar dela para buscar tal felicidade.

— Ayla, estão chamando por você na sala! – ouvindo sua voz me chamar ao longe, respirei fundo e deixei o banheiro no segundo seguinte. Precisava superar toda aquela situação, era essa a verdade.

Fazendo o necessário para apresentar uma feição mais amigável, tentei esboçar ao menos um meio sorriso ao ter o peso do olhar de Alisson sobre mim. Não era uma surpresa enxergar a sua presença ali. Na verdade, cheguei a me perguntar porque levou tanto tempo para acontecer. Ela estava me fazendo falta, podia ter vindo antes.

— E essa cara de quem acabou de sair de um velório? – a questão havia saído divertida, o seu sorriso deixava tudo ainda mais evidente. No entanto, acabei encontrando um duplo sentido sem ter a intenção para isso. Minha mente estava me traindo de todas as maneiras possíveis, não estava sendo nada fácil ter que lidar com isso.

— Vai ver é isso mesmo – dei de ombros me jogando sobre o sofá que guardava o conforto de Nicole – Dona Alícia deu a entender que não existimos mais pra ela, então pode ser que tenhamos morrido diante o ideal dela. É complicado encontrar alguma certeza em tudo.

— Ayla, me desculpa, não foi a minha intenção – não havia motivos para que existisse um pedido de desculpas, e o primeiro sorriso verdadeiro apareceu em meus lábios ao fitar a preocupação em seu semblante. Alisson era mesmo a minha melhor amiga.

— Está tudo bem Ali, em algum momento elas irão entender o nosso lado, mesmo que demore um pouco – diante as palavras ditas, me senti protegida dentro do abraço oferecido por Nicole. Ficaríamos bem apesar de tudo, não possuía dúvidas quanto a isso.

— Onde está o seu irmão? Faz alguns dias que não o vejo pegando no seu pé – puxando um assunto interessante, Nicole questionou de maneira simples e sem segundas intenções. Não existia uma provocação ali, mas eu conseguia enxergar uma já se aproximando. Alisson não disfarçava bem.

𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora