𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒

『Fatos não se discutem』

Nicole Davis;
28 de janeiro, quarta-feira.

Diferente do que era esperado pela maioria de nós, o corpo do Deniel havia sido liberado de forma rápida pela perícia. Talvez fosse o tempo já passado, mas a verdade era que eu não importava com os detalhes por trás de tudo. Era muita coisa ruim em um momento só, e me manter longe me fazia muito bem.

Ayla havia tirado o seu cochilo, havia tomado o seu banho e adormecido até o cair da noite passada. Mas não pensou duas vezes antes de se arrumar e me arrastar junto dela para o velório postado para o homem que voltava a se juntar a sua família. Quando o relógio batesse meio dia, uma caminhada seria feita até o cemitério da cidade, onde sua esposa e filhas haviam sido sepultadas dias antes.

Devido o passar de tempo, ter uma última memória de seu semblante tranquilo não seria mais possível. Tudo o que podia ser feito, já seguia sendo executado desde o momento em que aceleraram o processo feito pelos peritos. Mesmo que muitos comentassem o que não lhes dizia respeito, seus familiares ainda tentavam prestar aquela última e sincera homenagem.

Com o horário marcado sendo exposto pelo badalar do relógio, a triste caminhada daqueles que ficaram com a dor de sua perda ganhava início ao seguir de forma agonizante, os passos de quem era forte o suficiente para se manter firme e ao mesmo tempo ainda levar nos braços o peso do corpo de um velho amigo que não mais residia entre a gente. Era a primeira vez que conseguia enxergar com clareza a figura da durona delegada Alícia Rivera, ela ajudava na linha de frente desta homenagem tão simbólica para os familiares. Sua postura era reverente, sempre de semblante sério e o silêncio falando a tudo aquilo que as palavras não seriam capazes de demonstrar.

A cerimônia final havia sido digna, as últimas palavras dos amigos mais próximos emocionante. Mas o que de fato tocou até os mais inesquecíveis, havia sido a dor de sua mãe quando seu caixão desceu para dentro do túmulo que levava o seu nome.

- Espero não ter que sentir essa dor tão cedo na minha vida - sendo suas primeiras palavras desde que fomos recebidas horas atrás, notei seu olhar se perder em nossas mães. Então captei tudo o que ela queria dizer.

- Espero o mesmo que você - a deixando em minha frente entre os meus braços, depositei um leve beijo em seus cabelos. Era um ato carinhoso muito comum entre a gente, seus centímetros a menos ajudavam bastante na conclusão da cena.

Uma vez mais adotando o silêncio como um forte aliado, observava com cautela o esvair de pessoas ao passar do pouco tempo que ainda restava para o início do anoitecer. Eram quase dezesseis horas quando restavam apenas nossas mães e a família de Deniel para deixar o espaço de ar pesado e grandes amores guardados para sempre. Talvez estivesse em nossa hora também.

- Não se apegue a nada disso sra Batista, a justiça será feita, estamos determinados a trazer o culpado para trás das grades - na saída, dona Alícia passava o conforto que conseguia para a sra mãe de seu amigo. Devíamos ir embora, estávamos fazendo exatamente isso quando Ayla cessou os próprios passos para se inteirar de um assunto que não lhe dizia respeito.

- Confiamos no seu potencial como agente da lei, Alícia. Sabemos que fará o necessário para fazer o responsável pagar por tudo o que foi cometido - aceitando o elogio da mais velha, a delegada assentiu e respirou fundo enquanto observava a distância ser formada ao se ver junto apenas de sua esposa. Situações incomuns traziam sempre um ar de quero de mais, mesmo quando não estávamos preparados para nada do tipo.

Se dependesse apenas de mim, estaríamos a caminho de casa assim como todos os outros que se fizeram presentes até poucos minutos atrás. Mas Ayla não dividia comigo esse pensamento, ela queria algo diferente, esperava poder conversar sem a pretensão de persuadir a opinião daquela que lhe trouxe ao mundo. O assunto a ser discutido estava claro para todos, não era a causa da nossa separação de residência.