『Tira os olhos Valentim』

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  Nicole Davis;
  18 de fevereiro, quarta-feira.

Com relógio tão perto de marcar as doze horas do dia, busquei novos ares para os meus pulmões e me pus a pensar sobre o que seria bom para a refeição. Tentava me decidir se iria para a cozinha, ou simplesmente tomaria o celular em minhas mãos e pediria algo em seu restaurante favorito. No fim, depois de longos minutos de decisão, enfim me via negando tudo o que foi pensando até pôr de pé e seguir com meus passos na direção dos utensílios que me dariam um almoço pronto em pouco tempo.

Desde o início da manhã até o momento em que estávamos, ainda não havia tido o privilégio de me esbarrar com Ayla senão em nosso quarto. Ela ainda se prendia dentro daquele espaço por mais tempo do que era agradado por mim, mas apesar de possuir uma opinião formada sobre tal situação, tentava não me envolver em seus afazeres pessoais. Liberdade era um item que não devia ser tirado dentro de sua própria casa, porém, tudo possuía uma limitação e a sua se fez presente quando bateram a nossa porta. Afinal, eu poderia simplesmente dar uma pausa em tudo o que fazia e seguir até a porta para ver quem era, mas não o faria por motivo nenhum. Mesmo que estivesse tirando o seu conforto, seria ela a responsável por atender. Estava na hora de buscar novos ares, bastava todo o tempo dentro de um único cômodo fechado.

Sua voz se fez audível quando a entrada havia sido liberada, pois devia ser óbvio que era do seu desejo o meu saber sobre quem invadia o nosso apartamento bem no meio da semana. As vezes nem parecia que estavam mesmo fazendo algum curso na faculdade, afinal, nunca era possível os ver estudando, nem mesmo um simples trabalho avaliativo. Tudo bem que deviam cumprir horário a noite, e por serem de uma família com condições, não se viam obrigados a buscar por nenhum tipo de trabalho. Mas eu já estive nessa mesa posição, e sei que não é a maravilha que fazem parecer, algo não está muito certo.

— Partiu caminhada no parque central? – a questão de Alisson logo chamou a minha atenção, e dando por encerrado o preparamento da salada de frutas que Ayla tanto gostava, sequei as mãos e tomei direção a sala.

— Não tenho certeza se quero – a sinceridade em seu tom fez a amiga respirar fundo ao pedir ajuda para o irmão com um olhar derrotado. Conhecia a arma perfeita para o convencer de quase tudo, havia percebido isso em nossos primeiros encontros. Felipe era um bobo pela irmã, totalmente manipulável.

— Até onde sabemos, você não possui nada melhor para fazer, e com certeza se divertir em ar aberto deve ser melhor do que vegetar sobre um sofá com o celular sempre em mãos – atingindo um ponto simples, porém estratégico, vi o rapaz tirar um suspiro cansado da minha namorada. Estava perto de conseguir o que queria, mas ao menos dessa vez eu estava ali para ir ao seu favor.

— Passamos todo o dia ontem pelas ruas, a todo momento vagando entre estabelecimentos comerciais. Vocês não cansam não? – trazendo uma mudança de foco para ambos os pontos de visão, levei as mãos até os bolsos a espera de uma resposta.

— Como ele disse, não temos nada melhor pra fazer – se fazendo audível em nome do irmão, Alisson sorriu ao dizer. A sua maneira, ela estava mesmo se divertindo.

— Bando de desocupados – nos dando as costas, ela disse simples sem se importar com o que podia vir como resposta de uma das partes. Apenas se afastou por breves minutos, voltando logo depois com o recipiente preparado por mim repleto de frutas. Apenas uma prova de que almoçar não estava em seus planos – Não me olha assim, isso aqui está repleto de vitaminas.

— Mas não é o suficiente, sabe disso melhor do que ninguém. Sabe também que não importa a situação, se por algum motivo isso cair no ouvido da mamãe, grandes problemas te esperam – nunca deixando de a lembrar sobre tais consequências, senti meu peito se aquecer ao vê-la revirar os olhos quando cruzou os braços abandonando tudo sobre a pequena mesa de centro. Era tudo sempre muito engraçado, além de a deixar extremamente fofa. Era um ponto positivo que lhe fazia ser ainda mais bela. A birra de criança inocente deixava claro que apesar de esforçar para ser vista como uma pessoa cem por cento madura, sabíamos que jamais seria algo completamente possível. Não cabia em sua realidade.

𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora