『Distinção entre filhos』

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Ayla Rivera,
28 de março, sábado.

Mais um fim de semana para o ano, o último do mês atual. E assim como nos foi apresentado inúmeras tragédias em seu início e ao longo do seu correr, esperava que esses traumas fossem deixados para trás assim como a folha que seria virada no calendário. Estava cansada de tudo aqui, queria de volta a paz e tranquilidade que sempre me acompanhou durante toda a minha vida. Ansiava silenciosamente por essa realização.

Sair da cama junto aos primeiros raios de sol não era uma intenção, em sua verdade, nunca foi. Com isso, pude aproveitar cada mínimo segundo sobre a cama, e se não fosse por Nicole, teria ficado ali por muito mais tempo. Ao menos até mamãe vir me enxotar para o andar térreo da casa sem me ceder espaço para qualquer ato de defesa, mas já valeria alguma coisa mais alguns minutos.

Aquele era mesmo o nosso clima, as brincadeiras e provocações de quem não queria nada com nada se tornavam uma forte característica nossa. Para a gente, apenas um acréscimo em nossa relação, uma forma de manter tudo preso às novas aventuras. Enquanto para as nossas mães, a maior parte dos acontecimentos de uma forma geral, não passavam de ações sem fundamentos, provas de que não havíamos amadurecido como insistiamos em tentar mostrar. Era engraçado, estavam sempre nos tratando como crianças. Principalmente a mim.

— Torço para seja isso mesmo querida – diante a afirmação que deixou as minhas cordas para impor ainda mais verdade no dizer de Nicole, mamãe sorria satisfeita com o que acontecia. Era ela a nossa maior fã, quem mais nos apoiava em todos os sentidos possíveis. Dona Alícia apenas assentiu enquanto se desligava para cuidar de nos servir, desejando fazer o horário de almoço correr exatamente da forma em que devia.

Estávamos todas bem, o clima seguindo leve e sem a pretensão de apresentar grades surpresas até aquele momento. Porém, em algumas horas o discurso profissional dos três poderes estaria sendo transmitido para todo o país, algo que me causava aflição mesmo não estando lá, mesmo não sendo comigo. Mas saber que finalmente tudo seria posto em seu devido lugar já valia muito, já me trazia menos pesos para os meus ombros durante uma caminhada distraída pelo lado duvidoso da cidade. Afinal, sob a diligência de novos corpos produtivos, conseguia enxergar a mudança se aproximando de forma leve vagarosa. Dona Alícia já havia aceitado o cargo que fora oferecido a ela, faltava apenas sua nomeação frente a todos quando Juan perdesse o seu distintivo de forma definitiva, junto ao processo que já deveria estar correndo contra ele e todos os seus puxa-sacos.

— Quem se habilita a me ajudar com a bagunça que a mãe de vocês deixou nessa cozinha? – sorrindo divertida, a delegada questionou  sem temer a vida durante as noites escuras. Talvez tenha se esquecido de quem era a sua esposa, mas diante o olhar de mamãe, ela rapidamente ergueu as mãos e se retirou até a pia para não ter que encarar a chuva que se formava sob a aura de dona Mellissa. Em termos de uma ficção ABO, era difícil ter realmente certeza sobre qual delas era a alfa. Foi difícil não rir com tal pensamento.

— Ela só está brincando mamãe, a sra não fez uma bagunça maior do que aquela que Nicole deixa em nossa cozinha ao preparar uma simples salada – a colocando em meio ao fogo cruzado, vi seu olhar me fuzilar quando a encarei sem nada para temer. Era minha aquela razão, não cairia em derrota diante dela – Porque não ajuda a nossa mãe? Ela ainda está esperando por alguém para secar os pratos, não está mãe?

— Estaria mentindo se dissesse que não – erguendo o pano para que sua ajuda o recolhesse de suas mãos, concordou comigo sem pensar muito. Mas Nic não estava disposta a aceitar a sua derrota, consegui ver isso em seu olhar quando a mesma sorriu deixando seu assento junto daquela que lhe gerou – Vão mesmo me deixar sozinha com tudo isso aqui? – ela estava exagerando um pouco, e como prova disso, mamãe apenas lhe deu as costas e deixou a cozinha. Nicole então me encarou, e sem dedicar seu olhar a nossa mãe, soltou um leve sorriso e seguiu a cirurgiã da família. Havíamos sido traídas.

𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora