𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒

『Sem provas não existem argumentos』

» Nicole Davis;

Quando impus sobre o tio Marcelo aquela questão, não pensei que ele fosse mesmo entrar em um diálogo que me traria tanto desconforto. Mas foi o que aconteceu.

Não sabia como prosseguir diante o seu comentário, estava presa entre toda a verdade e a omissão de fatos que poderiam me custar muito. Então respirei fundo ao me deixar cair ao seu lado sobre aquela cama. Esperava poder tomar o silêncio como o meu aliado, para que assim o assunto recebesse o seu fim antes mesmo de ter o seu início. No entanto, deveria ser óbvio que o mais velho entre nós jamais se daria por vencido, tão pouco seria passado para trás com uma jogada tão simples quanto a que decidi usar.

— Ainda estou esperando Srta encrenca – era um apelido comum entre a gente, algo que minhas mães nunca tiveram que observar. Esse era um dos motivos para me levarem em um pedestal, mas não me importava com nada disso.

— Não é nada tio, eu estou bem. Nada aconteceu – reforçando a tentativa de resposta anterior, disse buscando como foco, o branco do teto do quarto e nada mais além disso. Porém, estava ciente de que tais palavras não seriam o suficiente para suprir toda a curiosidade do irmão do meu avô.

— Se esqueceu de que ninguém a conhece tão bem quanto eu? – ele estava certo, nem mesmo minhas mães sabiam tanto sobre mim. Ao menos não da forma em que ele sabia – Por favor, estou ouvindo.

Ainda temia pelo pior, era a verdade. Mas se existia alguém para conversar sobre o assunto, esse alguém seria sempre o mais velho dos Davis, não possuía dúvidas quanto a isso. No entanto, mesmo confiando nele, não conseguia simplesmente impor nos mínimos detalhes cada ponto daquela ocorrência. Então respirei fundo, busquei ar para os meus pulmões e, coragem no epicentro da terra para que enfim conseguisse dizer algo.

— Eu posso ter me apaixonado por alguém – jogando a frase de maneira simples, vi meu tio perder as palavras enquanto associava o significado daquele dizer a mim. Foram mais de dois minutos até que ele assentisse ao engolir em seco e me devolvesse a sua atenção – O senhor está bem?

— Não possuo certeza se ouvi isso direito. Você está apaixonada? – quando ele colocava assim, fazia parecer que eu jamais seria capaz de me prender em relacionamento sério com alguém. Mas essa não era a verdade, ao menos agora eu consigo ver e entender isso.

— Sim tio, o senhor ouviu muito bem. Mas não é esse o meu verdadeiro problema, pois estava óbvio que isso iria acontecer em algum dia – sendo capaz de confessar em voz alta, o vi suspirar a espera de uma melhor explicação – O que realmente importa, é o fato de que posso ter me apaixonado por quem não devia e, não faço ideia de como resolver essa questão – em busca de fôlego para poder continuar, respirei fundo – Essa situação acaba sendo muito nova pra mim, o senhor entende? É como se tudo fosse classificado como raridade, pois as probabilidades não apostam no acontecido, e ainda sim aconteceu – sentindo o abrigo do colchão, deixei que o desabafo fosse mais além – Por mais que eu pense, tudo em minha cabeça diz que esse sentimento é errado. Mas lá no fundo, me afastar tem sido muito doloroso. E pra finalizar, eu não sei como contar pras minhas mães, pois não tenho como prever a reação delas.

— Bom, eu ouvi tudo, mas não encontrei um motivo existente que te impeça de ser feliz – me puxando pelo braço, deixou suas mãos pousadas sobre o meu ombro ao prender o meu olhar com o seu. Ele parecia querer ler a minha alma, mergulhar sem medo algum em meus problemas. Então prosseguiu – Eu melhor do que ninguém, entendo o quanto minha sobrinha e Alícia significam pra você, e admiro muito isso. Porém, não pode deixar de viver a sua vida apenas para agradá-las, não pode sacrificar a sua felicidade para manter a delas. Pois apesar de tudo poder se complicar no início, elas te amam tanto quanto amam a sua irmã, e com o tempo tudo voltará a se acertar. O que falamos daquela vez, você se lembra?