『Desistir』

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Nicole davis;
Passar da semana – 7 de março, sábado/ 13 de março, sexta-feira.

No momento em que ouvi o som da bala deixando a arma nas dele, senti meu mundo perder a cor. Não sabia se estava fazendo o certo, mas tudo o que pude realizar foi o movimento necessário para estar ao seu lado, buscando lhe apoiar antes de tudo. Aquilo não devia estar acontecendo, não devíamos estar passando por nada sequer parecido.

Com ela em meus braços não conseguia pensar em mais nada, senão cuidar para que tudo se mantivesse ao menos sob algum controle até que pudéssemos enfim acionar o resgate. Mas algo me dizia que aquilo não era o suficiente, que não podia apenas a sustentar em meu colo e torcer para que as coisas chegassem logo ao fim. Estava perdendo muito sangue devido ao local do ferimento, e a pressão imposta não estava ajudando muito. Sentindo as lágrimas se derramarem por minha face, conseguia enxergar toda a sua dor pelo seu intenso e cuidadoso olhar. Então me dei conta de algo tão importante quanto mantê-la acordada, e foi graças a sua busca por visão.

Frente ao perigo iminente, dona Alícia parecia não temer a arma que era erguida em sua direção, sua voz não seria calada pelo medo. Mas independente do que pudesse estar passando em sua mente, suspirei profundamente antes de erguer o revólver esquecido em minha posse, e simplesmente puxei o gatilho quando Ayla perdeu todas as suas forças e desmaiou na frente dos meus olhos.

O ódio plantado em mim não podia ser medido, a frustração por não ter sido capaz de a proteger me corria por dentro. Sentia que precisava fazer algo para compensar toda a minha covardia quando ela tentava desestruturar o homem para que nossa mãe tivesse alguma chance de ação, era o mínimo ao meu alcance. Não havia entendido toda a sua afronta no momento, mas podia enfim captar a ideia. Dessa forma, fora de mim ao notar a gravidade da falha cometida com aquela que tanto amo, no impulso apenas agi sem pensar.

Os acontecimentos foram rápidos demais, não seria fácil obter boa compreensão com o acompanhamento à distância. O som do disparo ecoou por todo o hambiente, eu mesma não soube como raciocinar diante toda aquela ocorrência. Em um momento estava fazendo uso do que ainda me restava de coragem para impedir que minha mãe pudesse se ferir, e no outro estava sentindo minha respiração falhar ao tentar entender como aquele desfecho podia fazer algum sentido.

Sentindo o sangue rapidamente subir até minha boca, deixei a arma cair das minhas mãos para buscar por apoio. Ayla se tornou a minha visão favorita, e com denso líquido vermelho escorrendo por entre os meus lábios, sabia que não estava bem. Meu corpo se tornava cada vez mais pesado, e repousar naquele chão frio ao lado dela foi tudo o que me restou.

— Querida, vai ficar tudo bem. Vocês ficarão bem – já tendo feito o pedido para que uma ambulância fosse acionada, ela disse mais para si mesma do que pra mim. Tentei sorri, mas tudo o que consegui foi sentir ainda mais dor. Precisava de ar, mas não o encontrava. Meu pulmão devia ter sido atingido, falar estava sendo quase impossível.

— Ela primeiro – com muito esforço, as palavras saíram junto das lágrimas que não podiam ser contidas. Para pensar em mim, antes era preciso ter a certeza de que ela estaria bem.

Troca de tiros seria a alegação do agente que puxou o gatilho, mas diante toda situação vivida, duvidava que sua farda pudesse ser mantida. Afinal, a minha ação se devia a um estado automático, a um trauma estabelecido ali dentro. A certeza por trás de tais alegações podia ser observada pelo modo estátua logo após o único disparo que levou o falso assaltante ao chão. Precipitado ou não, seu cargo estava pendurado na berlinda.

Com o resgate feito o mais depressa possível, a todo momento tentava me manter de olhos abertos, acordada até o último instante disponível para minha consciência, mas estando certa de que poderia apagar a qualquer instante. Porém, cada célula presente em meu corpo se recusava a aceitar aquela sentença, ao menos naquele maldito momento.

𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora