『Mãe!』

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  Ayla Rivera,
  25 de março, quarta-feira.

Devia ter imaginado que toda aquela sua marra não passava de apenas uma cena, mas diante toda a circunstância, não fui capaz de fazer a leitura corretamente. Havia me perdido de certos fatores, queria apenas poder voltar para casa na intenção de retornar para os meus afazeres significativos, mas não sem antes ficar sabendo de mamãe como tudo ocorreu na capital. Estava curiosa, e ela não escondia a sua vontade de compartilhar com a cena o resultado conseguido.

Haviam se retirado por breves momentos, tudo para que Nicole e eu pudéssemos nos reacertar. Mas a verdade era que não existia nada para ser acertado, no fim, apenas conseguimos tempo a sós.

Quando seus lábios tocaram os meus após palavras tão significativas, imaginei o desejo tomando conta de forma lenta e torturante. O local era inapropriado, as chances de sermos pegas enormes, e tudo contribuía para que meu corpo buscasse por ainda mais contato. Ela então sorriu diante o beijo ao executar movimentos próprios para me fazer parar.

— Eu sei, não é o lugar e nem a hora – suspirando frustrada, retomei uma postura mais casual e ajeitei minha roupa ao me distanciar do seu corpo. Precisava de espaço se quisesse mesmo me recompor, e seu sorriso provocador me dizia que ela me entendia muito bem. Estava se divertindo com o estado em que me deixou.

— Esse seu fogo me deixa impressionada – se virando para observar nossas mães retornando para a nossa presença, disse simples, me deixando corada sem muitas palavras. Mas como era possível, estava sempre ao seu lado, sempre buscando por momentos únicos que não deviam sair do nosso quarto. Era inaceitável que minhas bochechas se tornassem vermelhas em uma situação tão comum pra gente, principalmente depois de ter sido tragada a realidade mesmo contra a minha vontade. Em algum momento teria de lhe devolver tal favor, teria de me vingar onde mais lhe dói.

— Problemas resolvidos? – se sentando a nossa frente com mamãe ao seu lado, dona Alícia questionou de fato muito interessada na resposta que iria obter. E novamente caindo dentro do abraço de Nicole, respirei fundo antes de apenas assentir. As duas sorriram com a resposta encontrada.

— Estamos sempre bem, mãe. Era apenas uma brincadeira da minha parte – impondo explicação ao que já estava claro, Nicole me parecia desejar crescer o assunto. No entanto, mesmo que estivesse sempre a vontade com assuntos familiares, dessa vez existia algo mais importante a ser relatado, algo que de fato roubava a minha atenção de qualquer frase que pidesse ser posta sobre a mesa de conversas. Não permitiria que a intenção da minha namorada fosse mesmo ser levada a seria, não no momento.

— Elas sabem amor – evitando que qualquer coisa fosse por uma das duas, notei Nicole negar minha atitude em um respirar fundo. Então sorriu se livrando de mim para se pôr de pé.

— Já entendi o que você quer – seria uma surpresa se não entendesse, pois duvidava existir alguém que conseguisse me ler tão bem quanto ela. Nem mesmo nossas mães possuíam mais esse privilégio, afinal, nenhuma de nós era mais a mesma – Vou pegar algo pra gente beber, não demoro.

Com os passos sendo guiados na direção da cozinha, sua saída fez nossas mães me analisarem com enorme atenção. Não disseram, mas pareciam estar tentando ler o fundo da minha alma, buscando compreender algo que estava fora do meu conhecimento. Foi quando me preparei para a questão que tanto desejo, mas acabei sendo cortada no momento em que pensei em abrir a boca para lhe propor diálogo.

— As vendo assim, me pergunto como fui capaz de pensar em jamais lhes dar alguma razão – dona Alícia confessou em voz alta o pensamento que devia a consumir por dentro, e apesar de estar preparada para um assunto diferente, foi inevitável não me sentir tocada a puxada de memórias grátis em minha mente. Sorri perdida ao vagar para momentos que tanto machucaram internamente, pois o sorriso era sempre a minha arma perfeita em qualquer crime.

𝗠𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗠𝗮𝗶𝘀 𝗩𝗲𝗹𝗵𝗮 - 𝒻𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒹𝒶 𝓂𝒾𝓃𝒽𝒶 𝓂𝒶̃𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora