58. Veneno do sangue

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HELAENA TARGARYEN

Escondo meu rosto com uma capa cinzenta enquanto saio do quarto de Aegon pela passagem secreta. Hoje ele estava acordado e tive que fingir ser um dos aprendizes para ele não me reconhecer. Na verdade ele está perdendo a consciência cada vez mais durante a noite. O leite de papoula que o meistre dá para ele o faz dormir, mas o veneno que eu sirvo para ele todas as noites corta o efeito da papoula deixando Aegon a noite toda delirando.

Continuo andando pelos corredores frios. Escondo o vidrinho da poção que fiz e abro devagar a passagem secreta do meu quarto.

As velas estão acessas. Maldição.

Viro de frente e encontro Aemond sentado na cama com Maelor nos braços me encarando. Ele ergue uma sobrancelha analisando minha capa e meu rosto. Abaixo a capa e sorrio timidamente para ele.

— Ora, você deixar a cama do seu marido para encontrar seu amante é até empolgante, mas deixar seu amante na cama sozinho para ir ao quarto do marido é no mínimo curioso — diz ele, mas não sai como uma acusação e sim divertimento.

Sento em uma cadeira de frente para Aemond. Olho para seu rosto recém-acordado. Ele nem deveria estar aqui. Maelor está dormindo aconchegado em seus braços e meu coração bate depressa. Ao mesmo tempo em que fico feliz, fico imensamente triste pelos gêmeos nunca terem tido um pai como Aemond.

Fomos criados por aias sem a atenção e carinho dos nossos pais. Papai é uma pessoa boa, mas totalmente relapso sobre nós. Já a nossa mãe sempre nos criou para sermos superiores do que qualquer um e éramos isentos de afeto. Eu achava que as coisas que o Aegon fazia pelos gêmeos era o suficiente, até perceber o quanto o Aemond era caloroso e atencioso com os sobrinhos e carinhoso com Maelor.

Aegon foi criado como uma arma é compreensível não fazer o mínimo para ter a atenção dos filhos, mas o Aemond foi mais negligenciado de todos e é um pai maravilhoso para meus filhos. As noites que eu estava esgotada pelo avanço da gestação ele cuidava de mim e fazia massagem nos meus pés inchados e ombros tensos. Na época dos gêmeos que tudo era novo e o dobro de cansaço, Aegon me agraciava com fedor de bebida e de outras mulheres.

Os gêmeos brigam todas as vezes que Aegon vai visitá-los, disputam sua atenção até ele ficar irritado e sair do quarto. Somente quando Aemond entra no quarto das crianças eles ficam menos agitados. Porque o Aegon brigou tantas vezes comigo sobre ser o pai, se ele não se importa em ser um?

— Vai me contar o que estava fazendo ou ficar apenas calada olhando para as velas? — Aemond me tira dos vislumbres dos meus pensamentos. Pisco algumas vezes.

— Estava tratando o nosso irmão — levanto e vou pegar o atiçador de chamas da lareira. O quarto está ficando frio e não quero que Maelor fique doente.

Começo a mexer no fogo quando sinto Aemond atrás de mim. Olho por cima do ombro para ele. Seu olho de safira brilha na luz do fogo.

— Você é uma péssima mentirosa, Hela. Conte-me o que você estava fazendo fora do quarto — ele pergunta. Viro de frente para ele. Aemond está com os cabelos soltos e sem camisa. Desvio o olhar do seu corpo para seu rosto, mas não encaro seus olhos. Vejo Maelor deitado na cama agora, ainda dormindo.

— Nada demais. Você está agindo como o Aegon... me forçando a falar sobre coisas que não quero — evito olhar para ele. Minto sobre ele estar agindo como Aegon, mas ele não vai gostar do que estou fazendo.

— Você está estranha faz alguns dias. Quero saber o que está acontecendo — ele me puxa contra seu peito. Ergo o olhar para ele.

Você não vai gostar Mond.

Presságios e Safiras | helaemond (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora