2. Dreamfyre

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HELAENA TARGARYEN

Helaena estava cansada de todos esses dias de festas em celebração ao seu nome, ter que sorrir para estranhos que só se aproximam dela por ser uma princesa, mas por suas costas debochavam de seu jeito. Aquilo era caótico demais para ela.

Tentei realmente ser igual aos meus irmãos e irmã. Queria ser divertida, sorridente espontânea e flertar abertamente como muitas das minhas damas de companhias com os jovens. Mas não sou assim, mamãe sempre me diz que sou uma vergonha para o legado da nossa família — a família que ela acha que somos: eu, meus irmãos, ela e vovô. Mamãe sempre deixa o papai de fora quando se refere a "família", mas eu o amo tanto, papai diz que sou linda e preciosa, que um dia algum cavalheiro irá me amar de todo o coração. Papai é às vezes como eu, solitário e sentimental.

Levantando da cama, sento de frente ao espelho e penteio meu cabelo sem ajuda das aias. Sempre gostei de me observar na frente do espelho enquanto faço algo por mim mesma, não pelos outros ou pela minha mãe. Olho para o lado e vejo a caixa de mármore dourada que Rhaenyra me deu de presente este ano, para guardar minhas joias — no momento são poucas. Acima dela está o dragão de pedra preciosa que o Aemond me deu, é lindo e combina tanto comigo e Dreamfyre.

Ah, Dreamfyre... a dragão-fêmea que foi da primeira neta do Aegon, o Conquistador. Rhaena Targaryen foi uma mulher obstinada, língua afiada e temperamental, sou totalmente o oposto, mas mesmo assim Dreamfyre me escolheu.

Jamais me esquecerei no dia que soltaram Dreamfyre do fosso dos dragões, e ela passou por cima do jardim no qual eu estava colhendo ervas. Ela ficou rondando e senti que deveria ir atrás dela no momento que ela aterrissou no chã perto de mim.

Ela é a dragão mais linda, com suas tonalidades em azul-claro, marcas prateadas e seus chifres cor de safira. Mas foi seus olhos que se conectaram comigo, olhos dourados e atenciosos. Sem saber bem, fui me aproximando, mesmo correndo risco de virar comida de dragão. Dreamfyre bufou um ar quente em mim, fazendo meus cabelos voarem para trás, toquei seu focinho de forma tímida, mas olhando nos olhos dela. Ela mostrou os dentes e cheirou meus dedos com essência de plantas, soltei a cesta no chão e fui passando a mão pelo seu couro. Acariciei suas asas, ao mesmo tempo em que ela as abria. Soltei uma risada baixa, percebi que ela sentia cosquinha.

Eu amava todas as histórias de seus cavaleiros de dragões e a ligação entre as feras mais belas que existiram nesse mundo. Algumas histórias o domador teve que cortejar por dias ou meses os dragões mais orgulhosos; os dragões mais ferozes teria que ser um cavaleiro com mesmo temperamento ou pulso firme; outros dragões mais marrentos que nunca tiveram cavaleiros, era necessário usar chicote e não temer a rebeldia do dragão.

Dreamfyre não se encaixava em nenhum desses dragões, enquanto a observava atentamente. Ela poderia ser dita como tímida, e também linda e majestosa, mesmo após anos da morte da Rhaena, ela jamais tivera outro domador, e houve tentativas pelo que me foi contado. Percebi enquanto acariciava que assim como eu, Dreamfyre precisava confiar em seu cavaleiro, ela precisava da ligação que eu não tinha com ninguém, exceto o Aemond, que mesmo assim não me entendia plenamente, mas olhando naqueles olhos dourados, a fera antiga e majestosa me entendia.

Todos os dragões precisavam de sela para ser montados, caso risco de o domador cair e morrer. Mas, Dreamfyre não tinha, e eu sentia que precisava reivindicar ela nesse momento. Tomando uma coragem que jamais tive em todos meus 13 anos, fui subindo pela asa forte e grande de Dreamfyre até estar em cima dela. Enquanto isso, ela me espiava. O primeiro contato das minhas pernas na pele dela a fez se mexer e resmungar.

— Riña iskã (boa menina, em valiriano) — sussurrei para ela. — Sōvēs, Dreamfyre! (voe, Dreamfyre).

Ela era quente e perfeita. Sua pele tinha algumas elevações na parte do pescoço como se fossem espinhos, coloquei as mãos ali e segurei firme e fiz uma reza rápida ao guerreiro e a donzela para me dar força e coragem. Dreamfyre talvez sentindo meu receio de voar e me derrubar, levantou voou devagar e firme. Deitei meu corpo sobre Dreamfyre e agarrei aquela pele sensível e dura com toda a força. O voou foi apenas uma volta pela Fortaleza Vermelha, pelo Fosso dos Dragões e o Jardim, em todas às vezes, Dreamfyre foi calma, possivelmente para me manter também.

Aterrissamos no chão perto do jardim onde havíamos saído e levantando poeira, nem havia notado que havia várias pessoas nos olhando. Fiquei toda vermelha por tanta atenção e abaixei a cabeça. Enquanto, descia de Dreamfyre e acariciava seu couro em despedida, notei que estavam: os guardas que devem ter chamado meus pais, meus irmãos, mãe, avô, inclusive minha irmã que chegou dia atrás para visitar papai que se encontrava doente.

Olhei para todos, e sorri timidamente, no momento que Dreamfyre levantou voou e partiu rumo ao lado do Fosso dos Dragões. A primeira a falar foi mamãe, dando um passo à frente com a mão no peito:

— Criança estúpida, como montou a fera sem sela? E se tivesse caído? Quer matar a mim e seu pai do coração? — disse a sua mãe, com o rosto aflito e estressado.

— Ora, madrasta. Estupidez é menosprezar o sangue do dragão — disse Rhaenyra, olhando afetuosamente para Helaena e se despedindo com um aceno.

Afastando as lembranças daquele dia memorável e de muito orgulho para mim, minha família e legado. Levanto da cadeira e vou me vestir para desjejum para o último de celebração do dia do meu nome.

Presságios e Safiras | helaemond (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora