24. Sangue de dragão

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HELAENA TARGARYEN

Eu não posso acreditar que isso está acontecendo. Estava tudo dando certo. Por que então estou a caminho do quarto da minha mãe?

Quando encontrei o Sor Criston Cole naquele corredor eu sabia que estava tudo acabado, mesmo assim fiquei com esperanças. Ele é o treinador do Aemond e poderia nos ajudar, não? Doce ilusão.

Ele não disse nada quando me encontrou parada com os olhos arregalados. Eu deveria estar com a pior expressão possível. Ele me pegou pelo braço e me arrastou para fora do quarto pela porta principal. O novo guarda que chegou a minha porta não sabia que eu estava sozinha, apenas encarou o Sor Criston por estar segurando meu braço. Ele me solta abruptamente.

— A princesa não estava se sentindo bem, estou levando ela para vossa graça, sua mãe — diz ele para o guarda.

Eu estou em pleno choque por tudo, só escuto o que dizem a minha volta. Aemond deve ter achado que eu desisti da fuga. Como o Sor Criston Cole sabia exatamente que momento eu iria sair? Como ele soube da passagem secreta só agora?

O guarda real leal a minha mãe bate na porta dos seus aposentos. Pelo jeito os guardas daqui foram dispensados. Estou nervosa e com medo apenas segurando uma pequena mala de mão.

Alicent abre a porta do quarto. Não aparecendo assustada ou surpresa. Ela sabia.

— Entre, Helaena — diz ela, calmamente. — Sor Criston, fique de guarda na porta, não quero outros guardas sabendo o que está acontecendo.

Entro no quarto e mamãe fecha a porta atrás de mim. Eu nem tenho tempo de falar algo, só sinto o peso da bofetada em meu rosto. Levo a mão ao lugar dolorido. Meus olhos se enchem de lágrimas.

— Você é uma princesa, não uma meretriz para fugir — diz Alicent.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Sinto minha bochecha ardendo com a bofetada.

— Desde que você saiu do jantar, Sor Criston estava aguardando na passagem secreta. Cecy (aia) me contou que encontrou essa mala no seu quarto com roupa. Não iríamos viajar para lugar algum — ela aponta para a minha mão. Cecy me entregou para minha mãe.

Estou enraizada no mesmo lugar desde que entrei. Estou sentindo tanta dor. Meu rosto arde. Meu coração bate tão rápido e dolorosamente.

— Vai me dizer com quem você iria fugir. Agora mesmo — exigi ela. — Responda, Helaena.

Não respondo. Estou mordendo minha bochecha para segurar o choro. Meu corpo treme com os soluços que estou segurando.

— Pensei que era uma idiota e demente, mas me enganei. É bem mais esperta que eu imaginava. Sabia que algo estava acontecendo no momento que fez uma careta dias atrás sobre o casamento — Alicent diis irritada. Ela fala sussurrando para ninguém escutar. — Vou perguntar mais uma vez: Com  quem você iria fugir?

— Com n-n-ninguém. Iria so-sozinha — gaguejo por medo de me desmanchar em lágrimas. Por mim. Aemond. Por nós.

Ela me dá outra bofetada no rosto, agora do outro lado. Esse foi mais forte, meu rosto chega a virar. Sinto gosto de sangue na boca. Não consigo mais me segurar. Meus joelhos fraquejam e enxergo tudo embaçado pela quantidade de lágrimas que se acumularam. Começo a chorar baixinho.

— Pare de chorar agora, maldita. Não criei uma puta para fugir. Quero saber quem estava lhe apoiando. Foram seus irmãos?

A mala cai no chão. Estou segurando meu rosto. Passo a mão pela boca e vejo sangue nós meus dedos. Não tenho reação. Eu nunca apanhei. Nem mesmo dos meus educadores, diferente dos meus irmãos que eram castigados. Mamãe está me encarando como se fosse me matar.

— Eu não quero me casar com o Aegon. Vocês não me perguntaram o que eu queria. Eu não o amo — digo a última palavra sem fôlego.

— Amor e casamento não caminham juntos — ela fala com desdém. — Eu não me casei com seu pai por amor. E somos felizes e tivemos quatro filhos. Terei que lhe dar outra bofetada para me contar a verdade?

— Eu usava a passagem secreta para andar pelo castelo. Não iria fugir com ninguém. Eu paguei o capitão de um dos navios que estavam na baía para me levar escondida para Essos. Ele não sabia quem eu era — respondo arfando, enquanto engulo vários soluços. Não irei mencionar o Aemond. Ele provocou nosso pai, mãe e avô. E tenho medo do que ele poderia fazer caso fosse questionado ou detido agora.

Mamãe me encara tão irritada. Ela anda de um lado para o outro. Machucando a própria mão com as unhas. Ela está no limite. Me encolho para o que vem a seguir.

— Se for verdade não está perdida ainda, pelo menos não terá nenhum bastardo. Irei investigar sobre isso do navio para Essos, se estiver mentindo.... vou destruir seu Jardim e mandar prender Dreamfyre nas correntes mais fortes que existem. E você não irá sair deste castelo nunca mais — diz ela com a voz um pouco elevada agora. —, Você irá mudar de quarto. Por enquanto, ficará comigo para eu poder vigiar seus passos. Um dos guardas de nossa confiança vai lhe seguir por todos os lugares. Um passo fora, você pagará por isso.

Meu corpo está tremendo de raiva. Por mim, Aemond e pelas ameaças contra tudo que eu amo. Não sei o que acontece comigo... uma voz que não reconheço sai de mim.

— Você pode me ameaçar o quanto quiser. Boa sorte com Dreamfyre, mãe. Quando ela lhe queimar viva... você pagará por tudo isso — digo cuspindo sangue que mancha meus lábios agora.

A cor de seu rosto desaparece. Ela arregala os olhos. Acontece tão rápido que nem dá tempo de me proteger. Ela parte para cima de mim me enchendo de tapa. Me protejo enquanto a empurro com força contra a mesa do seu quarto. Só escuto ela me chamando de meretriz, puta, erro, demente e aberração valiriana. Alguém entra no quarto e separa nós duas.

Agora minha mãe está chorando dizendo que não sabe o que deu nela para me agredir assim. Que eu não sei respeitá-la e que a empurrei. Fala para quem está no quarto que eu a ameacei com a minha fera.

Dreamfyre é o nome dela. Sou do seu sangue. Enquanto eu existir, ninguém irá tocá-la. Poderia jurar escutar um rugido distante soar como resposta.

Estou arfando de raiva, dor e tristeza. Mãos me pegam e me tiram do chão. Eu estava tão fora de mim que nem percebi que havia caído. Não enxergo absolutamente nada na minha frente. Alguém me dá algo para beber. É doce e tem gosto de ervas. Eu sei o que é.

Estou deitada agora. Pisco os olhos algumas vezes. Ouço vozes distante vindas do corredor. Reconheço a voz do meu avô, e também... Aegon?
Minha mente sonolenta foca apenas em uma voz rouca e grave agora. Aemond.

Escuridão agora me toma por completo.

Presságios e Safiras | helaemond (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora