GIZELLY
O restante do domingo passou voando. Parece que após eu ter finalmente contado para Rafa sobre o que aconteceu entre Deolane eu na noite passada, tirou um peso de meus ombros. Passei a noite de sábado e a manhã de domingo em completa agonia, tentando resolver o conflito interno que estava acabando comigo. Eu temia por nossa conversa resultar em brigas, pois não sabia como Rafaella reagiria a essa história. E para a minha surpresa ela levou de boa. De forma passiva, porém, eu a conheço e sei que não gostou nada nada do que soube.
Pensando em tudo, e em minha agonia ter dissipado diante de sua reação, pude respirar melhor.
Na manhã de segunda-feira iniciei meu plantão médico no hospital, na ala clínica. Antes de seguir até meu consultório passei na sala de minha mãe, como todos os dias, em busca de minhas plantas médicas para o pronto-atendimento do dia.
- Bom dia mãe!- A cumprimentei na intenção de ser notada. Ela que estava de frente para sua mesa, de costa para a porta, logo se virou e me encarou.
- Bom dia, filha! Mamãe estava com saudades.-
Sorri ameno com sua fala carinhosa, e então nos abraçamos.
- Como foi lá em Iúna?- Perguntei assim que nos afastamos, e logo procurei um lugar para me sentar.
Ela então voltou ao que fazia.
- Foi divertido. Seus tios tem sentido a sua falta, Bilu.-
- Eu também tenho sentido a falta deles. Vou tirar um fim de semana pra ir até lá.-
- Tire mesmo, é bom se desprender um pouco desse circulo que você vive. Trabalho, casa da Rafa, sua casa, trabalho... Pegue ela e sua filha, e vão até Iúna passear um pouco.-
- Vou ver o fim de semana que a Rafa esteja por lá, por conta do trabalho, e vou com ela. Bom....- Suspirei fundo criando força para esse dia e levantei. - Meus prontuários já estão prontos?-
- Sim! Estava agora mesmo separando. Bata seu ponto e pode começar seu plantão. E ah, filha, após o almoço quero que vá até a ala pediátrica. A doutora Victória precisará de você.-
- De mim?-
- Sim. Na verdade ela precisa de um apoio, e eu achei melhor mandar você. Os residentes daquela ala vão estar em reunião e as enfermeiras suporte em uma cirurgia importantíssima.-
- Tudo bem!- Peguei a prancheta com os prontuários as quais ela me oferecia, e passei os olhos por todos os documentos perfeitamente organizados.
- Estou indo. Qualquer coisa só me interfonar.- Falei por fim, e antes de deixar a sala, depositei um beijo em seu rosto.- Que Deus te ajude, minha filha.-
Foi o que eu ouvi antes de seguir para o elevador, encontrando doutor Vinícios pelo caminho, o ortopedista. Julguei estar indo em busca de sua planta. O cumprimentei cordialmente e continuei minha caminhada.
A manhã foi tranquila no hospital. Nada do que me fizesse sair correndo de minha sala para atender casos emergenciais como de costume. Até que tudo estava parcialmente brando nos corredores.
Recebi alguns pacientes em meu consultório, conversei com todos eles e ouvi suas histórias médicas, queixas e descrição dos sintomas. Os examinei com meu jeito brincalhão e extrovertido de ser, para logo fazer o diagnóstico. E como sempre, arranquei risadas da maioria deles. É uma tática de lidar, e fazê-los lidar com os problemas amenos ou graves. Alguns deles preocupados, mas eu sempre procurava mantê-los calmos. E na maioria das vezes dava certo.
Quando o horário de almoço chegou, desci até o refeitório encontrando meus colegas de trabalho e almoçamos juntos.
Quando terminamos, cada um seguiu para o seu posto. Alguns deles para a sala de descanso, outros para a sala do café. Eu, porém, optei por voltar para meu consultório.