GIZELLY
O relógio marcava às sete e meia da noite, quando meu telefone celular vibrou sobre a mesa. Estava em uma reunião com Lucas e Deolane, a qual iniciamos assim que cheguei ao escritório, logo após meu expediente. Com meia hora de conversa, e os dois advogados me inteirando de tudo que fosse feito em questões processual, Lucas se despediu. Ele teria outra reunião. No entanto, Deolane e eu continuamos sem ele. O tempo passou tão rápido que eu nem percebi, só me dei conta quando Rafaella me cobrou pelo atraso. Nos falamos um pouco e assim que desligamos, me despedi de Deolane.
- Tenta se manter calma, Gi, vai dar tudo certo!- Ela disse de forma solidária, enquanto juntava os documentos na pasta.
Suspirei apreensiva antes de me levantar.
- Estou tentando, Deo. Estou tentando... Vou lá falar com os meninos e já vou. Essa semana nos encontramos de novo?-
- Sim! Mas acho que eles já foram.- Ela disse olhando as horas em seu pulso. O que me fez arregalar os olhos ao lembrar que eles também iriam ao evento no trabalho das meninas. - O que foi? Parece que viu um fantasma.-
- Não vi não. Mas vou ver se eu não me apressar... Tchau, até mais.- Peguei minha bolsa sem dar tempo dela perguntar quaisquer outra coisa, e segui para fora da sala.
Corri o máximo que eu pude para não me atrasar mais do que eu havia me atrasado. Conhecendo Rafaella como conheço, ela não ficaria nada satisfeita em ver os meninos naquele restaurante sem mim; uma vez que eu disse estar com eles.
....
Ao chegar no restaurante, dei de cara com todos eles. Apesar do meu sorriso amarelo, pois eu via por minha visão periférica o olhar furioso de Rafaella sobre mim, fui educada e simpática. Eu estava cansada, extremamente exausta. Minha vontade era de ficar em casa, tentando não pensar nos problemas em que o hospital está enfrentando. Mas eu não poderia fazer isso com ela.
Me sentei ao seu lado, e ela continuou me encarando. Esperava por mim, enquanto eu desdobrava o lenço guardanapo da mesa, e um garçom vinha encher minha taça com algum tipo de vinho branco. O agradeci e ele se afastou.
Virei a bebida para um gole, e então encontrei seu olhar.
- Sei que está chateada pelo atraso, mas fiz de tudo pra vir antes.- Me adiantei, pondo a taça novamente na mesa.
- Se fosse só o atraso, seria o de menos.-
- Olha, eu realmente estive com os meninos, ta? Só que...-
- Gizelly, não quero conversa agora. Já sei o que você vai dizer, e não estou afim de me estressar com suas desculpas esfarrapadas.- Com isso ela se virou para a mesa.
- Desculpas esfarrapadas?- Perguntei descrente, fazendo-a me encarar outra vez.
- Posso curtir a noite com meus colegas?-
Suspirei derrotada e assenti. Eu realmente estava sem forças para sequer discutir essa noite.
O jantar seguiu tranquilo. Exceto minha situação com minha noiva. Essa que se manteve com o sorriso largo para todos, no entanto falso, pois por dentro ela estava uma pilha. Para mim, nem seu olhar ganhei após nossa pequena DR no início da noite. Fui ignorada o tempo todo, e aquilo já estava me deixando irritada.
Estávamos agora degustando da sobremesa, e nos últimos assuntos para nos despedir. Eu estava esperando por Rafaella, que conversava animada com os meninos da obra. Ela esteve a base de suco e água a noite toda, com apenas uma taça de champanhe no início para brindar a comemoração. Eu também não fiz questão de ingerir bebida alcóolica. Estava cansada, preocupada. Sem cabeça para nada além do hospital.