RAFAELLA
Foi aquele grito revoltado de Sofia que me trouxe de volta do transe. E depois de ouvir a porta do quarto bater com uma força absurda por uma criança de quatro anos, me levantei no impulso, chegando a derrubar Bárbara no chão pela posição a qual ela estava. Mas isso não me importava agora. O que me importava, mais que tudo, estava naquele quarto chorando de forma escandalosa e sentida. Mas não era só o choro dela que eu ouvia. Theo havia acordado, provavelmente com o susto que levou com a batida estrondosa.
Entrei no quarto ainda mais perdida, vendo Sofia na cama, toda encolhida, e Theo no berço. Fui em direção a cama, mas parei no meio do caminho, indo para o berço. E antes de pega-lo em meu colo, Bárbara segurou meu braço.
- Deixa que eu cuido dele.-
A encarei por alguns segundos, e assenti. Ela logo o pegou, na tentativa e acalma-lo. E então fui até a cama. Sofia estava virada para a parede, chorando de soluçar, como se tivesse perdido algo muito importante na vida dela. Suspirei pesado me sentando na ponta da cama.
- Amor?- Minha tentativa foi em vão, pois ela se sacudiu, chutando meu corpo para longe. - Sosô, deixa a mamãe falar com você?-
- NÃO!!!!-
- Por que não?-
- SÁAAIII, A SOSÔ NÃO QUER VOCÊ!!-
Suspirei mais uma vez, e ela continuava com a pirraça, chorando copiosamente.
- Sofia!-
- QUELO A MAMÃE GI... ELA NÃO É A MAMÃE GI...-
- Ela não é, meu amor! Olha pra mamãe, Sofia!-
- NÃÃO!-
Encarei Bárbara de forma apreensiva, a qual estava parada no meio do quarto com Theo no colo, e logo voltei para minha filha. Seu choro agora ela baixinho.
- Sosô a mamãe quer falar com você, filha. Não precisa ficar assim.-
- A SOSÔ NÃO QUER!!-
- Rafa?- Bárbara chamou minha atenção. - Deixa ela um pouco.-
- Não vou deixar, Bárbara!-
- Mas Rafa, ela tem o tempo dela.-
- É MINHA FILHA!- Tanto ela quanto Theo se assustaram com meu grito. Esse que estava entalado. Theo voltou a chorar, e eu suspirei tentando me acalmar. - Você pode por favor me deixar aqui com ela? Me dá ele aqui.-
- Pode deixar que eu fico com ele na sala.- Ela respondeu num tom magoado e saiu do quarto.
Sofia não chorava mais, apenas soluçava. E aquilo cortava meu coração ao meio. Ela continuava na mesma posição, de lado, encolhida, com o rosto virado para a parede. No entanto, de olhos abertos.
- Amorzinho? Você não vai olhar pra mamãe?- Perguntei e ela nem sequer respondeu. - Olha só, o que você viu não foi nada. A tia Barb é amiga da mamãe.- Tentei mais uma vez e ela continuou estática. Então passei a mão, tirando os cabelos de seu rosto, e sua única reação foi tirar minha mão dali. - Mamãe não ta gostando de ver você agindo assim, filha. Podemos conversar e resolver. A mamãe sempre ensinou isso pra você.- Suspirei pela enésima vez naquele quarto, e quando vi que de nada adiantaria eu ficar e insistir, me dei por vencida. - Mamãe vai lá na sala ver seu irmão que ta chorando. Quando você estiver mais calma, eu volto.-
Permaneci ali ainda alguns segundos, na esperança dela dizer algo, mas sem sucesso. Então levantei e me retirei do quarto. Eu ainda tinha mas um, que precisava de mim, e esse chorava impaciente no colo de Bárbara que estava na sacada tentando distraí-lo.