RAFAELLA
Ver Gizelly sair da minha casa cabisbaixa daquela forma, não foi nada fácil. Foram segundos que pareceu horas na espera pelo elevador, e ela encarando o chão tristemente. Por um instante eu senti vontade de jogar tudo para o alto e voltar atrás da minha decisão, para logo correr e toma-la em meus braços, dizendo que ficaria tudo bem. Parece que tudo se inverteu, pois da primeira vez, quem ficou na porta foi ela, e quem saiu de casa fui eu.
Eu entendo mesmo tudo que ela está passando, porém se continuarmos desse jeito, correremos o risco de tudo acabar da pior maneira possível. Ou até com uma briga maior. Pensando em tudo isso durante a madrugada, optei por pedir o tempo. Tempo esse que em minha concepção, vai fazer com que tudo melhore.
Ou não.
Cabe à nós decidirmos isso.
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No dia seguinte assim que cheguei na agencia, me afundei no que me esperava aquela manhã. Passei a maior parte do tempo com a atenção no computador, analisando os pacotes de viagens e hospedagem montados pela equipe de assessoria turística. Marcella e Manoela entraram e saíram algumas vezes do escritório com pastas e envelopes pardos nas mãos, na correria de sempre em seus afazeres. E em uma das idas e vindas de Manoela, ela parou e me encarou com o cenho franzido.
- É sério que você não vai levantar dessa cadeira hoje?- Sua pergunta soou um tanto indignada. Suas mãos foram postas na cintura, e um dos pés batendo no chão.
- Quem disse que não vou levantar? Eu vou sim! Na hora que eu for pra casa.- Respondi sem encara-la. Pois digitava algo importante no sistema.
- Só tem isso pra fazer?-
- E acha pouco? Estou terminando de definir o programa de viagem e vou dar basta, pra esses pacotes entrar no próximo ciclo.-
- São os pacotes de férias?-
- Sim. Ronaldo acabou de me mandar.- Terminei minha digitação e lhe encarei. - O que vocês estão fazendo agora? Não pararam um minuto.-
- A Lella estava resolvendo algumas coisas na contabilidade, e mais tarde vai passar as relações das reservas feitas para o sistema dos hotéis. E eu estava resolvendo sobre os fornecedores de alimentos para os restaurantes. Vou me comunicar com a empresa de lavanderia daqui a pouco. Amanhã é dia dos camareiros recolher todos as roupas de cama, toalhas e roupões, pra fazer a troca. Levar as sujas para a limpeza, e repor as limpas.... Mas enfim, nós paramos agora pra almoçar. E eu vim te chamar.-
- Acho que vou almoçar por aqui mesmo. Tenho muita coisa pra fazer.- Falei com um suspiro cansado, voltando a encarar o computador.
- Ah não, Rafa. Vamos logo! O que mais tem que fazer, que não pode esperar até você voltar?-
- Já falei. Estou terminando a avaliação.-
Antes que ela pudesse responder, Marcella entrou na sala com uma expressão exausta.
- E aí meninas? Vamos?-
- A Rafa não quer ir.- Manu respondeu em tédio.
- Por que não, Rafa?-
- Não é que eu não queira. Eu só estou querendo terminar isso logo. Quero ir pra casa cedo hoje.-
- Ihhh... O que houve?-
- Dor de cabeça. Não dormi bem essa noite.-
- Mais um motivo pra você almoçar com a gente.- Manoela voltou a dizer. - Com essa cara, você tem algo a nos dizer.-