Capítulo 47

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-Não deveria estarmos tão puto, se não quisesse ter causado um mau entendido como esse era só não ter marcado ela toda.-Diz Amber antes de o encarar irritada.-Deu sorte que eu ainda fui boazinha, se fosse meu pai teria te matado primeiro e depois perguntado o que aconteceu.-Diz vendo como Nikolai a olha incrédulo.

-Isso deveria ser consolador?-Pergunta vendo a mesma dar de ombros antes de me encarar novamente.

-Prima, poderia me emprestar as chaves daquele seu apartamento que sempre fico?-Pergunta cruzando os braços.

-Por que nunca ouvi falar de você? Sou amigo do Helio e do Peter a um bom tempo.-Diz olhando com um olhar acusatório de mim para Amber. Pigarreio enquanto a vejo lança-lo um sorrisinho.

-Os caras não são muito próximos dela, eles meio que, não se dão bem.-Digo a vendo rir.

-Não se dar bem é um eufemismo. Eles me odeiam porque tentei matar uma das mulheres deles, qual era o nome dela mesmo? Era Julia? A que tem aquele monte de crianças.-Diz com uma cara de confusa enquanto reviro os olhos.

-Sim, é a Júlia, ela é casada com o Peter.-Digo vendo o rosto de Nikolai se transformar em uma grande carranca enquanto a encara.

-E por que diabos você ainda tem contato com ela?-Fala Nikolai antes de a encarar com ira.

-Por um motivo que não é nenhum pouco da sua conta.-Diz na defensiva.-Eu não sabia que ela era namorada, amante, esposa ou sei lá o que dele. Eu não tenho uma bola de cristal pra adivinhar as mulheres que meus familiares estão transando, e ela deveria ser grata por pessoas ao redor dela a protegerem, porque eu garanto que aquela garota não sobreviveria se caísse em mãos erradas, ela aceitou entrar no meu carro sendo que eu era uma completa desconhecida! Como ela sobreviveu antes de conhecê-lo, só Deus sabe, porque com aquela inocência, ela correu um grande risco de ser apenas mais um número nas estatísticas.-Fala com raiva.

-Se acalma Amber.-Digo esfregando minha testa, prevejo uma possível dor de cabeça. Faz alguns anos que voltamos a ter contato. No início, quando aquela bomba tinha explodido sobre o sequestro de Julia, inicialmente eu fiquei irada e não cogitava mais nem mesmo encara-la, porém tudo mudou quando a vi dentro daquele minúsculo quarto sujo, completamente suja e debilitada devido ao enorme tempo que ela passou ali, vivendo a base de pão e água. Me lembro com clareza de como suas roupas estavam extremamente largas devido a finura de seu braço e corpo, resultado da intensa desnutrição que ela estava. Do seu rosto quase esquelético e moribundo e dos seus intensos olhos me encarando com ira e medo. Aquilo me destroçou de uma forma que não pude suportar, ainda mais por saber que seu próprio pai tinha feito isso com ela, cumprindo a sua promessa que havia feito a Peter. Ela pagou da forma mais dolorosa pelo que fez com Julia, sendo privada de diversas coisas como a comida ou a própria luz solar e eu acredito que a mesma aprendeu sua lição e por isso não pude mais ignora-la.

Desde esse dia comecei a tentar entende-la mais, desde quando a resgatei daquele local, a banhei e a alimentei durante semanas até que a mesma conseguisse novamente caminhar sozinha, foram meses até que ela pudesse sair daquele intenso caso de desnutrição, foi preciso muita ajuda de profissionais que eu mesma contratei sem que até mesmo meus pais ficassem cientes, foram meses que passamos juntas até que eu conseguisse receber um olhar agradecido, sem aquela imensa desconfiança ou ódio. Seu típico olhar que a mesma observa a todos os outros, e que infelizmente não posso julga-la por fazer.

Ela não teve a mesma sorte que eu, de ter sido adotada por uma família comum. Ela foi criada em uma família onde ser mulher só significava servir como uma procriadora, caso contrário era inútil. Desde pequena teve que aprender a lidar com todo o tipo de coisa perturbadora e teve que aprender a ser forte, a cuidar de si mesma e a nunca confiar em ninguém, afinal, a sua vida dependia disso. Mesmo hoje, depois de tantos anos creio que deve doer nela se lembrar de tudo isso. Sei que a mesma sofreu muito, sei disso por causa dos seus olhares perdidos e melancólicos que a mesma tinha em diversos momentos, quando achava que eu não estava a encarando.

Obrigada A Casar Com Um Estranho Onde histórias criam vida. Descubra agora