Capítulo 58

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Suspiro aliviado ao vê-la entrar, felizmente não acompanhada daquele pequeno demônio vulgo Amber. A mesma tem um imenso sorriso no rosto, parece que a mesma ganhou na loteria.

-Eles estão sofrendo muito?-Pergunto enquanto a vejo tirar seus sapatos.

-Não tanto quanto eu gostaria, mas estão.-Diz dando de ombros.-A Amber realmente está fazendo um ótimo trabalho.-Aceno com a cabeça enquanto avalio a mensagem no meu telefone, meu irmão acabou de ser levado pra casa.-Que foi?-Ela pergunta, tirando minha atenção do telefone. Seus belos olhos me encaram com curiosidade enquanto eu apenas suspiro. Tento não me culpar por toda essa merda, mas é praticamente impossível, principalmente ao ver o leve roxo, tapado por uma grossa camada de maquiagem. Se eu tivesse apenas dado um fim naquele merdinha, nada disso teria acontecido. Ela não teria quase tido uma experiência que a quebraria, meu irmão não estaria fodidamente machucado.

-Só estou um pouco preocupado com Leon.-Seu sorriso morre ao me ver proferir o nome dele enquanto é visível o rastro de preocupação que toma seu rosto.-Ele foi levado pra casa, mas está bastante machucado.-Sua mão toca minha perna em uma tentativa de conforto.

-Vamos visitá-lo? Preciso agradecer ele e no caminho podemos levar alguma coisa que ele goste, que tal?-Forço um sorriso em meus lábios que não parecem verdadeiros nem para mim mesmo, porém aceito sua sugestão com um leve aceno.

Não demora muito para que eu me arrume, nem para que peguemos meu carro e sigamos direto para uma confeitaria, onde compro um pedaço do bolo favorito dele. Rebecca espera dentro do carro, talvez por causa do receio de as pessoas ainda a rejeitarem ou algo pior acontecer, o que é completamente compreensível.

Respiro fundo o vento que bate em meu rosto antes de observar por um momento o céu, completamente nublado, o que não é comum em uma cidade tão quente como Los Angeles. Rebecca me encara por um momento antes de me lançar um sorriso otimista. Me sinto estranho ao encara-la, um misto de culpa por não protege-la, misturado a pequena mágoa por ter me obrigado a desistir de minha vida por causa de um casamento durante um ano, assim como esse pequeno conforto que sinto ao vê-la me toma.

Me sinto um pouco aéreo, talvez melancólico? O carro está em silêncio e ela está na direção dele, se fosse em outra circunstância eu não deixaria tocar em meu lindo carro, não quando eu tenho tanto apego ao mesmo. Isso deve significar que eu sinto algo por ela certo? Ou só estou assim por causa de toda essa situação.

Encaro seu rosto por um momento enquanto me lembro dos dias que passamos juntos antes de tudo aquilo acontecer. Em algum momento se tornou indiscutível o fato de dormirmos juntos, com ela aconchegada em meus braços e meu rosto enfiado em seus macios e cheirosos cabelos.

Em algum momento, a presença dela deixou de ser algo extremamente irritante para mim e começou a se tornar algo aconchegante, minha pele começou a sentir a necessidade de seu toque leve, de suas carícias.

-Que foi? Eu sei que sou linda mas não precisa encarar tanto.-Diz de forma divertida antes de dar um pequeno tapa em minha coxa.

-Não é nada demais.-Digo voltando a encarar a estrada a minha frente. Em algum momento o seu irritante cheiro adocicado se tornou um verdadeiro calmante para mim. Ainda mantenho em meu guarda roupa, em uma caixinha preta, os perfumes que havia comprado, que agora não são mais necessários ja que passamos juntos tanto tempo que seu perfume simplesmente se fixa em meu corpo.

Busco na minha memória algum momento de minha vida que me senti assim, falhando miseravelmente em encontrar. Aperto com mais força a sacola em minhas mãos. Tudo era tão... Monótono, principalmente depois que Sam e meu irmão se casaram. Antes éramos somente nós três, em várias farras, aventuras e enrascadas que fariam qualquer pessoa conservadora infartar.

Depois que ambos casaram essas aventuras diminuíram, depois que assumi o cargo que tanto quis, essa adrenalina boa que sentia voltou. A cada missão extremamente perigosa, a casa vida salva, a cada mulher diferente em minha cama, era sempre uma euforia alucinante.

Engulo em seco ao perceber que não sinto tanta falta desses sentimentos quanto gostaria de admitir.

Semana que vem completará três meses desse casamento. Me sinto acomodado, pior, me sinto um completo impotente. Eu me acomodei muito rápido a tudo isso, eu me entreguei muito rápido. Ela foi sequestrada porque não fui esperto e rápido o suficiente para perceber o caos que estava se iniciando.

Meus olhos me traem novamente ao serem direcionados para seu angelical rosto centrado na estrada. Gasto todas as minhas forças disponíveis para admitir o que infelizmente é óbvio. A razão pela qual senti aquela pequena pontada no peito, na nossa primeira noite de luxúria, quando a mesma me disse que eu precisaria dar a ela mais do que uma noite de sexo para que ela me amasse, é porque tenho sentimentos a mais por ela.

Não acredito que eu a ame, não seria possível isso acontecer em tão pouco tempo e em circunstâncias tão pouco favoráveis certo? Entretanto, porque me sinto inseguro ao imaginar a possibilidade de uma possível rejeição?

Seria esse sentimento de paz, semelhante ao que sinto toda vez que cavalgo em meu cavalo favorito nos imensos campos da nossa fazenda na Rússia o que chamam de amor?

Ou talvez esse conforto que sinto ao observa-la, semelhante ao de um dia chuvoso e nublado?

-Chegamos.-Diz a mesma estacionando meu carro antes de me encarar. Após tirar a chave do mesmo, ela sorri para mim antes de sua mão encontrar meu rosto em uma leve carícia, na qual fecho os olhos para apreciar melhor.-Me incomoda ver você tão distante assim Rapunzel, seu irmão vai ficar melhor, não se preocupe ok?-A sua voz extremamente suave deixa meu corpo aquecido.

-Eu vou ficar melhor.-Digo afastando meu rosto contra minha vontade de suas carícias.-Vamos.-Abro a porta do meu carro e após pegar a sacola com o bolo de Leon, saio do carro.

Espero a mesma sair de meu carro enquanto observo o quão oposta a mim ou a qualquer mulher que eu procuraria ela é. Usando uma tiara de pérolas, a mesma está vestindo um conjuntinho rosa claro de alguma marca famosa, sua bolsa na cor creme combina com seu salto alto, ambos com glitter. Sua maquiagem é leve e seus lábios estão brilhantes e rosados por causa de seu batom. A mesma não aparenta os seus vinte e poucos anos, parece muito mais nova usando essas roupas.

Quando tocamos a campainha, Akemi, a esposa de Leon atende a porta. Seus orientais olhos me encaram com surpresa, porém demonstram pouca simpatia quando são direcionados a Rebecca.

É mais forte do que eu a vontade de apenas a abraçar e a trazer para perto de mim. Akemi não é uma mulher muito paciente e com certeza tem um soco extremamente dolorido, além de claro, ser minha chefe no departamento de detetives.

-Que prazer ver você Nikolai.-Diz lançando um sorriso antipático para Rebecca, que não se abala e apenas agarra meu braço.

-Estamos muito felizes em te ver também.-Diz a mesma com um rastro de deboche.

-Eu não te perguntei nada, então só fique na sua.-Diz de forma antipática.

-Akemi, não quero que fale assim com ela, por favor.-Digo estreitando os olhos para a mesma que apenas me ignora antes de liberar a entrada. Pelo visto essa visita não vai ser nada fácil, não com a Akemi encarando Rebecca como uma ameaça eminente.

Obrigada A Casar Com Um Estranho Onde histórias criam vida. Descubra agora