Capítulo 70

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Acaricio o rostinho da criança com carinho antes de entregar uma sacola imensa e cheia de brinquedos. Meus seguranças me ajudam a colocar os alimentos na casa da família da criança que agora me olha emocionada e agradecida.

A mãe da pobre criança, que havia entrado em contato comigo alegando que estava sem comer por pelo menos dois dias, me abraça emocionada. Meus seguranças me olham em dúvida, mas aceno para eles, dizendo que estou bem. Abraço de volta a mulher que agora chora em meu ombro de forma copiosa. A pequena criança nos encara confusa por um momento antes de voltar a observar todos os seus novos brinquedos.

-Está tudo bem.-Digo acalmando a pobre mulher. Pelo que me foi contado, ela veio de uma família muito pobre e não teve acesso a muitas oportunidades na vida, acabou se envolvendo com um homem, ou melhor, um vagabundo imbecil que acabou a engravidando e depois a abandonando.-Eu espero de coração que isso possa te ajudar por um tempo, pelo menos até você completar um mês de trabalho e conseguir comprar mais coisas para seu neném.

-Como?-Ela pergunta entre soluços, me encarando de forma esperançosa.

-Uma das minhas ONGs está precisando de mais pessoas para trabalhar, o salário é razoavelmente bacana, em relação ao seu neném, não vejo problemas em você levá-lo junto com você, temos uma sala especial onde muitas crianças se divertem enquanto seus pais trabalham para mim. E então, o que me diz?-Pergunto tentando controlar as lágrimas, o que se torna quase impossível ao ver a mulher desabar, caindo de joelhos e chorando. O choro da mesma, um choro tão doído de alguém que enfim pôde ter outra chance na vida, me emociona ao ponto de eu não mais conseguir segurar minhas lágrimas. Me ajoelho no chão de terra e a abraço, abraço esse que me faz cair ainda mais no choro.

-Que Deus a abençoe, meu Deus obrigada.-Diz em meio aos soluços.-Obrigada por acreditar em mim quando ninguém mais acreditava, muito obrigada eu nem sei como agradecer tamanha bondade.

-Você é capaz e uma mulher muito forte. Espero de coração que tudo fique melhor para você, a única coisa que te peço é que demonstre sua gratidão dando o máximo de amor possível para todos os meus pacientes, acredite neles assim como eu estou acreditando em você agora, torne o dia deles um pouco mais colorido.-Ela acena com a cabeça antes de chorar ainda mais.

Depois desse momento extremamente emocionante, terminamos de colocar todos os alimentos, fraldas e bebidas em sua casa. Também a entreguei algumas peças novas de roupas e sapatos para que ela pudesse ir bem arrumada para seu novo emprego, claro que não me esqueci de seu bebê.

Me despeço dela e entro em meu carro, sendo acompanhada do carro onde meus seguranças estão, uma medida protetiva já que o bairro em que a mesma mora é um pouco perigoso.

Assim que chegamos no centro de Los Angeles, meus seguranças seguem de volta para minha casa enquanto eu continuo andando por aí. Minha cabeça está muito aérea e meus olhos doem de tanto chorar. Penso sobre o quão injusto esse mundo é, penso no quão abençoada fui por ter tido a família que tive, que me proporcionou muitas coisas. Posso afirmar que sou rica não só financeiramente, mas também de amor.

Vejo como um objetivo de vida tornar as coisas um pouco melhor para os mais necessitados. Posso não mudar o mundo inteiro, mas com certeza vou ter mudado a vida dessa pessoa e isso já é suficiente para mim.

Me mexo um pouco desconfortável no carro, minhas costas estão levemente doloridas, não ao ponto de eu precisar ir ao médico, mas desconfortável ao ponto de nem um remédio adiantar. Meu estômago ronca um pouco e percebo que está na hora de comer.

Paro em um restaurante qualquer de aparência mediana. Automaticamente já sinto saudades de uma boa e velha carne assada com aquela manteiga cheia de ervas, algo chamado de churrasco. Antes de sair do carro, mando mensagem para Liliane, perguntando se ela poderia fazer para mim uma porção dessa carne saborosa.

Ela não demora muito a me responder, dizendo que vai fazer hoje a tarde em sua casa e me levar uma baita porção a noite para jantarmos.

Saio do carro e antes de entrar, alongo meus braços antes de respirar fundo, espantando qualquer preguiça que possa inicialmente me invadir.

Entrego meu carro ao manobrista antes de entrar. O lugar está levemente cheio, com vários cheiros invadindo meu nariz e fazendo meu estômago roncar ainda mais.

Peço algumas coisas do cardápio e algumas bebidas bem refrescantes, o garçom anota meu pedido e logo se vai.

Mexo em algumas coisas em meu telefone quando recebo uma nova mensagem.

"Hahaha, isso é realmente a sua cara. Ei loirinha, estou em Los Angeles essa semana, o que você acha de sairmos amanhã para beber um pouco e relembrar os velhos tempos? Um amigo meu me entregou dois ingressos para uma excursão em um museu famoso, topa ir comigo?"

Sorrio negando com a cabeça antes de desligar meu telefone. O garçom me traz a minha primeira bebida. Sorrio agradecida para o mesmo. Mexo com meu canudo a bebida colorida antes de bebericar a mesma. O sabor de laranja e outras frutas invade minha boca, o que por alguma razão me faz fazer cara feia. Está gostoso, mas ainda assim não tanto ao ponto de eu querer beber.

Escuto uma risada um tanto quanto escandalosa e curiosa, me viro para ver de onde veio, me surpreendendo ao dar de cara com Nikolai. Ao lado dele se encontra uma mulher de roupa social que diz algo que o faz sorrir levemente.

Não posso negar que meu estômago agora está embrulhado por conta do imenso ciúmes que eu estou. Também não posso negar que estou surpresa por encontrá-lo aqui depois de tantas semanas, para ser mais exata, aproximadamente um mês. Seu sorrio morre ao perceber que estou o encarando, apenas observo a situação antes de suspirar e me virar novamente para frente.

Eu que não vou arrumar barraco por causa de macho. Já sou bem grandinha e não me convém fazer esse tipo de coisa.

Minha comida logo chega o que faz com que meu estômago volte a vida. Muito feliz, mordisco com alegria a batata frita bem crocante, ignorando completamente a existência do ser atrás de mim.

Pego um prato com diversos camarões e com muita vontade, mordisco um. Faço uma careta ao sentir a textura estranha do mesmo, completamente chateada, deixo de lado o camarão e parto para as outras comidas.

No final, fico um pouco chateada por não ter comido tanto, resultado de eu ser muito fresca. Pego minha bolsa e logo me levanto, indo até o caixa para fazer o pagamento da minha comida. Dou uma última olhada para a mesa dele e o pego me encarando. Sinto vontade de arrancar seus olhos por ele se atrever a sair com outra mulher, mas apenas me convenço de que vai ser um provável livramento, afinal, uma pessoa confusa pode fazer um grande estrago.

Quando entro dentro do carro, pego meu telefone e releio a mensagem em meu telefone.

"Eu aceito, conheço um restaurante ótimo que podemos ir depois de sairmos do museu."

Obrigada A Casar Com Um Estranho Onde histórias criam vida. Descubra agora