Capítulo 19

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Sessenta segundos. Esse é o tempo que nos mandam permanecer em nossos círculos de metal até que o som de um gongo nos libere. Pise fora do círculo antes do minuto se encerrar e minas terrestres levarão suas pernas pelos ares. Sessenta segundos para ingressar no ringue de tributos, todos equidistantes da Cornucópia, um chifre dourado gigante no formato de um cone com uma cauda curvada, cuja boca tem pelo menos seis metros de altura e está recheada das coisas que nos manterão vivos nessa arena. Comida, contêineres de água, armas, remédios, equipamentos, fósforos. Espalhados ao redor da Cornucópia encontram-se outros suprimentos, o valor dos quais decresce quanto mais distantes do chifre eles estão.

Estamos em uma faixa de terreno plana. Consigo ver todos os tributos ao meu lado, e todos estão focados apenas na Cornucópia e no enorme ponteiro com os segundos. Atrás do grande chifre, consigo rapidamente observar uma montanha enorme, com plantas verdes a cobrindo por inteiro, mas uma parte acinzentada no topo, rodeada por pedras, me diz que aquilo é um vulcão. Não duvidaria se a capital o fizesse explodir em algum momento.

40 segundos.

Finnick me alertou para ser rápida e pegar algo, qualquer coisa que eu veja que sirva, uma mochila com poucas coisas podem salvar minha vida. Ele me fez treinar e testar minha velocidade, baseado nisso, disse que o melhor era eu tentar pegar algo. Arrumo meu rabo de cavalo e coloco algumas mechas atrás da orelha, fico em posição para correr, enquanto avalio rapidamente para onde correrei depois de conseguir algo.

Vejo Peter no lado oposto, o rosto tão sério quanto possível. Ele não olha pra mim, mas sei suas intenções, será uma corrida para morte.

O gongo soa, e eu não penso mais em nada. Saio em disparada em direção a todas às armas e mochilas, não dou atenção aos gritos e nem aos passos que soam logo atrás de mim. Estou correndo com o braço esticado e salto os últimos centímetros para chegar no centro. Agarro uma mochila preta e pego um facão enorme. Outros tributos já alcançaram a Cornucópia e estão se espalhando para atacar. Sim, a garota do Distrito 1, dez metros adiante, está correndo em minha direção, uma das mãos agarrando meia dúzia de dardos. Eu a vi arremessando durante o treinamento. Ela nunca erra. E sou seu próximo alvo. Sei bem que dardos costumam ser recheados no interior com veneno de paralisação, Finnick me alertou sobre isso.

Não fico para minha morte, corro para a floresta, em direção ao vulcão. Corro me movendo em zigzag, como se fosse fazer alguma diferença. De alguma maneira, sei que a garota não vai me perseguir. Sei que ela vai voltar para a Cornucópia antes que todas as coisas boas tenham sumido. Um risinho me atravessa o rosto.

Continuo correndo até as árvores me esconderem dos outros tributos e então diminuo a velocidade para um ritmo mais estável, que imagino poder manter por um bom tempo. Durante as horas que se seguem, alterno entre a corrida e caminhada, colocando o máximo de distância que posso entre mim e meus competidores. A corrida começa a se tornar dificultosa, preciso usar minhas mãos porque agora estou escalando. Sou grata a quantidade de árvores que esconderam meu corpo, e a Finnick por me ensinar a escalar.

— Que maravilha.— estou ofegando.

Sorrio quando encontro um buraco estreito e quase invisível entre às pedras. Meu tamanho me permite entrar com facilidade, e eu me enfio nele e me jogo no chão. É tão escuro que tenho certeza que às câmeras serão aquelas com modo para noite, caso estejam me vendo. Apenas uma pequena fresta de luz me mostra o que tenho em minha frente.

O facão que consegui parece ser afiado demais para o meu próprio bem, o coloco em um canto ao meu lado, mas um pouco longe para não ter perigo. Finalmente pego a enorme mochila e a abro. No meio da adrenalina não percebi que era tão pesada.

A primeira coisa que vejo é um saco com carnes secas, está cheio de uma maneira que sei que não precisarei me preocupar pelos próximos dias. Depois me deparo com duas facas medias, aparentemente bem afiadas também. Há uma corda, não muito grande. Um isqueiro, o que talvez será útil. E uma garrafa de água que está cheia só pela metade. Um óculos de sol preto, que eu imediatamente coloco em minha cabeça. E um saco de dormir fino e pequeno. Guardo tudo novamente, com excessão da garrafa de água, que dou um gole curto, apenas para evitar desidratação, então guardo para quando precisar, por mais que queira devorar tudo.

Está anoitecendo quando começo a escutar os canhões. Cada tiro representa um tributo morto. O combate deve ter finalmente cessado na Cornucópia. Eles nunca recolhem os corpos do banho de sangue até que os matadores tenham se dispersado. No dia de abertura, eles nem dão tiros de canhão até que o combate inicial tenha terminado porque é muito difícil acompanhar todas as fatalidades. Eu me permito uma pausa, arquejando, enquanto conto os tiros. Um... dois... três... e assim por diante até atingir treze.

Significa que apenas 11 continuam na disputa. Muitas mortes para um único dia, significa que a Capital não enviará nenhum tipo de aberração para diversão. Eles evitarão mortes por algum tempo, se acabar rápido a plateia não fica satisfeita.

Acaba de anoitecer quando ouço o hino que dá prosseguimento à recapitulação dos mortos. Por entre os galhos, consigo ver a insígnia da Capital, que parece flutuar no céu. Na verdade estou vendo uma outra tela, uma enorme, que é transportada por um daqueles aerodeslizadores que somem de repente. O hino vai acabando e o céu escurece por um instante. São as mesmas fotografias que eles mostraram quando transmitiram as notas de nosso treinamento. Tomadas simples de nossa cabeça. Mas agora, em vez de notas, eles colocam apenas os números dos distritos. Respiro bem fundo enquanto os rostos dos onze tributos mortos aparecem e faço a contagem com meus dedos.

A primeira a aparecer é a garota do Distrito 1. A garota dos dardos. Estou surpresa, por saber que ela era uma carreirista, e eles nunca morrem no primeiro dia, segundo Finnick. A garota do 3 é a segunda a surgir. Então, o garoto do 5 aparece. O que significa que Peter ainda está vivo. Ambos os tributos do 6, 7, 8 e 9. Então o garoto do 11 e por último a garota do 12. A insígnia da Capital retornou com uma fanfarra musical final. Então a escuridão e os sons da floresta retornam.

Não durmo de verdade há semanas, e também teve a longa viagem até a arena. Lentamente, permito que meus músculos relaxem; que meus olhos se fechem. A última coisa em que penso é que tenho sorte por não roncar...

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora