5 anos depois
É tarde da noite quando batidas na porta me acordam abruptamente. Malia nem mesmo se mexe, mas quando eu me desvencilho do seu corpo, ela rapidamente acorda assustada. Então às batidas frenéticas no andar de baixo continuam, e nós dois saltamos da cama em direção à porta. Grito que estamos indo, mas às batidas não cessão, desço às escadas pulando os degraus.
A primeira coisa que vejo quando abro à porta é Theo e Simon, ambos carregando Caio, que está completamente ensanguentado, tantos cortes que não consigo ver onde seu rosto começa ou termina. Abro espaço para os meus irmãos o trazerem para dentro. Ele está gemendo de dor.
— O que aconteceu!? Onde o acharam? — minha voz não parece minha.
— Eu vou buscar toalhas... e a minha mãe.— Malia some entre às entradas da casa.
— Os pacificadores fizeram isso, ele arrumou briga com um deles no bar... é um desgraçado idiota.— Theo o xinga.
Amanhã minha noiva vai surtar por eu ter mandado colocar meu irmão ensanguentando em seu sofá branco que ela quase nunca deixa ninguém sentar, mas não consigo pensar em outro lugar. Simon mostra os lugares onde ele mais foi ferido. Às costelas estão com uma vermelhidão horrível que logo virará marcas roxas, ele foi chutado, praticamente pisoteado.
— Como isso aconteceu? — eu pergunto baixo, me ajoelhando ao lado dele.
— O pacificador alisou uma das garçonetes... Caio já estava bem bêbado, estava atrás de briga. — Simon murmura.
— Não...— Caio tosse.
— Fique calado.— eu mando.— Amanhã teremos que chamar um médico aqui, ver se essas costelas não foram quebradas.
— Imbecil, burro. — Theo xinga mais. — Quando você vai tomar juízo? Olha o horário, acordando todo mundo!
— Chega, Theodor! — falo alto e o vejo bufar.
Perdemos nossa mãe no dia do parto das gêmeas, nenhuma das três sobreviveu. Todos ficamos mal, por longas semanas, mas Caio ficou inconsolável, desde esse dia eu sinto que também o perdemos. Ele começou a beber incontrolavelmente, mesmo tão cedo, a se meter com gente errada, usar coisas erradas. Nossos dias se baseiam em saber se ele vai estar vivo no fim da noite, isso quando ele não some por dias. E agora, com esses levantes acontecendo, e o aumento de pacificadores, tudo está mais difícil. Tentamos prende-lo em casa, mas ele ficou ainda pior.
— Está doendo...— ele geme baixo.
Malia surge juntamente com Cora, elas estão carregando uma série de coisas. Meus irmãos ajudam às duas e eles deixam todas às coisas na mesinha. Puxo minha noiva para ficar em meus braços, porque não demora para seu rosto empalidecer, e eu sei que ela ficará com ânsia por causa do sangue, ela coloca a mão na barriga e esconde o rosto em meu peito. Malia está com alguma virose, ou qualquer outra coisa que a deixa enjoada constantemente.
Estávamos com medo de uma possível gravidez, mas então suas regras vieram, e a médica não tem mais noção do que possa ser. É difícil saber o que fazer para ela comer sem que ela coloque tudo para fora.
— O que aconteceu? — ela pergunta baixinho. Seus braços circulam minha cintura e eu rodeio seu corpo com os meus, agradecendo mentalmente que ela vestiu um robe, sua camisola é extremamente transparente. É a minha favorita.— Quem fez isso? Ele está com mais dívidas?
— Não, ele brigou com um pacificador, foi por uma boa razão... mas ele não deixa de ser burro por isso.— eu sussurro a puxando para o canto.— Ele defendeu uma garçonete que foi assediada.
Malia parece surpresa, e eu não me ofendo por ela ter pensado o pior do meu irmão, até eu estou surpreso.
Observamos de longe sua mãe o limpando com água morna, passando remédio em seus ferimentos, fazendo ele engolir analgésicos para dor. Ela faz com maestria, porque já está acostumada a cuidar do meu irmão.
Em algum momento, Davi e Tyson descem também, provavelmente acordados pelo barulho. Eu os mando subir, mas eles não me obedecem, até que Malia pede e como se fosse mágica os dois desaparecem nas escadas. Tenho que lidar constantemente com o fato de que quase todos os meus irmãos querem minha noiva. Com excessão de Theo que é gay, e Simon que já namora.
— Serei uma péssima cunhada se subir? — Malia sussurra baixinho.— Estou tão cansada.
— Não, amor. Eu já estou indo também.— beijo sua testa.— Vai lá.
Malia sobe às escadas rapidamente e some no escuro.
Acontece que depois que Caio tem todos os seus ferimentos limpos, eu preciso ajudar Simon a leva-lo para o quarto do andar de baixo, porque Theo se estressou e foi dormir. Nós o colocamos na cama com todo cuidado, mas ainda sim ele sente dor. Tenho quase certeza que suas costelas estão quebradas.
— Você dorme aqui com ele? — pergunto.— Se ele precisar de algo...
— Eu fico, pode ir.— Simon chuta os sapatos e se deita no outro lado da cama. Jogo o cobertor nos dois e ligo o ar em uma temperatura baixa.
Quando saio do quarto, ajudo Cora a aguardar a maletinha. Levo às toalhas para a lavanderia e nós dois nos despedimos com um boa noite.
Malia está desmaiada na cama, dormindo tão profundamente que nem mesmo acorda quando me deito ao seu lado. Rio um pouco porque ela é uma gracinha. Ela não ronca, mas emite um barulhinho de satisfação, um suspirinho, de tempo em tempos, como se estivesse muito feliz por estar dormindo. Me inclino, roçando nossos narizes, beijo sua boca, sua bochecha, testa. Meu peito se enche e fica quentinho. Eu a amo tanto que nem parece ser possível, às vezes estar perto assim não é suficiente, quero ela grudada em mim em qualquer momento do dia.
Com todo cuidado do mundo, a faço se deitar em meu peito. Malia entrelaça suas pernas na minha, e me abraça apertado. Ela chama meu nome e eu acaricio suas costas.
— Já cheguei.— sussurro.
— Meu amor...— Malia diz tão baixinho que quase não escuto. Beijo sua cabeça e ajeito o cobertor em nossos corpos.— Seu irmão?
— Ele vai ficar bem, vamos chamar um médico amanhã cedo... Simon está com ele.— eu digo. Provavelmente terei que repetir esse mesmo diálogo amanhã de manhã, porque sei que ela não está acordada realmente.
— hmmm.— ela prolonga, manhosa, me apertando até que apaga novamente.
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70° edição dos Jogos Vorazes
FanfictionPerto de completar seus tão esperados 19 anos, Malia Dareaux estava contente por ser seu último ano sendo obrigada a escrever seu nome para ser sorteada como Tributo para os Jogos Vorazes. Ela sabia que depois desse fatídico dia, não teria mais que...