Capítulo 14

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Finnick me evitou o dia inteiro, apareceu apenas para me treinar, mas me observou de longe, se aproximando apenas quando comecei a escalar, atento para me pegar caso eu caísse mais uma vez, mas não aconteceu. Não trocamos uma palavra e eu acho que assim é melhor, sua presença ainda mexe comigo, mas não tanto quanto seus apelidos e piadinhas, ou quando suas mãos estão em mim.

Hoje é o dia que saíra às notas do treinamento com os idealizadores, todos na mesa estão um pouco tensos. Com exceção de Lark, que não se importa com a gente e nem liga se vivermos ou não. Naquele ponto até mesmo Dalence parece torcer por nós, agora ele não faz tanta cara de nojo.

Depois do jantar, vamos para a sala de estar assistir aos placares anunciados na televisão. Primeiro eles mostram uma foto de um tributo e em seguida começa a piscar a nota abaixo do rosto. Os Tributos Carreiristas dos Distritos 1 e 2, naturalmente, conseguem notas entre oito e dez. No terceiro Distrito a média de ambos fica em torno de cinco. Então uma foto de Peter aparece, em seguida sua pontuação sete. Imagino o que ele fez para conseguir tal nota.

— Isso foi ótimo, na média.— Finnick sorri para ele.

Enterro as unhas nas palmas das minhas mãos quando meu rosto surge na televisão, à espera do pior. Admiro alguns segundos o quão bonita estou na foto. Então o número nove começa a apitar na tela.

Nove!

Fenty dá um berro, e todos estão me dando tapinhas nas costas, até mesmo Lark. Pisco algumas vezes tentando acreditar. Enquanto vejo outros nomes e números subirem até finalizar no Distrito 12.

— Parabéns Malia.— Peter diz, mas sua voz contém falsa animação, seus olhos estão colados em mim e eu vejo o quanto ele está fazendo força em seu punho.

— Você também foi ótimo.— sorrio nervosa.

— Fui. — ele diz antes de se levantar e sumir no corredor.

Me encolho no sofá e tento dar atenção às perguntas de Fenty. Ela pede para eu explicar mais uma vez o que fiz, e Dalence concorda parecendo interessado, conto que não foi nada demais, mas eles parecem impressionados mesmo assim. Vejo de canto de olho Mags ir na direção que Peter tomou, e Finnick os seguir segundos depois.

Sinto meu estômago embrulhar. Finnick certamente tirará todos os privilégios que me prometeu depois de eu ter o irritado na noite anterior, ele ficará ao lado de Peter, vai querer minha morte.

Escapo rapidamente para meu quarto e me enfio debaixo das cobertas. O estresse do dia, particularmente o choro, me deixara esgotada. Caio no sono, enlevada, aliviada, e com o número nove ainda piscando em minha mente. De madrugada, deito-me na cama por um tempo, observando o sol nascer em uma bela manhã. É domingo. Dia de descanso em casa. Imagino se Zyan já está acordado, implorando para nossa mãe leva-lo ao parque com às outras crianças. Normalmente no domingo eu sempre passava minha manhã com ele, reservando um tempo para brincar de todas às coisas que ele mais gostava.

Amanhã à noite acontecerão nossas entrevistas televisionadas. Aposto que toda a equipe deve estar com as mãos cheias nos preparando para a ocasião. Eu me levanto e tomo uma chuveirada rápida, tendo um pouco mais de cuidado com os botões que aperto, e me dirijo à sala de jantar. Peter e Finnick estão amontoados em volta da mesa falando com vozes baixas. Isso parece esquisito, mas a fome vence a curiosidade e encho o prato antes de me juntar a eles.

O cozido hoje foi feito com tenros pedaços de carneiro e ameixas secas. Perfeito sobre o leito de arroz selvagem. Eu já bati quase a metade do prato quando percebo que ninguém está falando nada. Dou um gole longo no suco de laranja e enxugo a boca.

— E aí, o que está acontecendo? Você vai me treinar para a entrevista de hoje, não é?

— Exato. — confirma Finnick.

— Não precisa esperar eu terminar. Consigo ouvir e comer ao mesmo tempo.

— Bem, houve uma mudança de planos. A respeito de nossa estratégia atual — começa Finnick.

— O que é? — pergunto, abaixando meu garfo. Não estou certa de qual é nossa estratégia atual. Tentar parecer medíocre na frente dos outros tributos é a única parte que me lembro dessa discussão.

Finnick dá de ombros.

— Vou treinar Peter e Lark vai te ajudar.

Traição. Essa é a primeira coisa que me vem à cabeça, o que é engraçado, pois não há nenhuma traição. Para que isso ocorresse deveria ter havido confiança antes. E confiança não fez parte de nenhum de nossos diálogos. Mas o garoto que segurou meu cabelo enquanto eu vomitava, ficou comigo em minhas noites ruins e ouviu sobre meus pesadelos... Havia por acaso alguma parte de mim que não pudesse confiar nele?

— Lark? Sério? — digo cruzando meus braços e me ajeitando na cadeira. Sinto minha boca amarga.

— Sim, como passamos muito tempo juntos, agora vou dedicar esses dois dias a Peter... com excessão, claro, das 4 horas de treinamento.— Finnick diz, tranquilamente.

— Ok. — engulo em seco todos os xingamentos que quero gritar contra os dois.

Estou tão possessa que perco o apetite, estou indo na direção do meu quarto novamente. Porque sei que Lark não aparecerá para me treinar e nem nada do tipo. Serei eu por eu mesma, como eu suspeitava no começo. Bastou uma discussão para todas às palavras e elogios bonitos evaporarem do vocabulário de Finnick.

(...)

— Estou sentindo cólica, não vou treinar hoje.— digo para a figura de Finnick parada em minha porta.

É obviamente uma mentira, assim que chegamos na Capital, me fizeram tomar um remédio que segundo Steve, cortaria meu fluxo por 1 mês, para evitar de acontecer no meio dos jogos. Era uma ótima ideia.

— Só temos dois dias, Malia.— ele entra em meu quarto sem permissão.— Precisamos usar todo o tempo que temos.

Estou forçando uma risada, me jogo em minha cama e me embrulho. Finnick me segue e se senta na beirada do meu colchão.

— Quer falar de tempo? Sério mesmo?

— Precisei fazer isso, amor.— e os apelidos voltam.— Percebi a maneira como ele te olhou quando saiu sua nota, ele quer te matar. Estou o convencendo de focar em potenciais mais fortes e mentindo que você é fraca, não quero um grupo de carreiristas a caçando primeiro... eu preciso que ele ache que desisti de você.

Quero acreditar nele, mas de alguma forma não consigo, me cubro totalmente com o edredom não querendo ver seus olhos.

— Vamos, me diz como ajudar a dor passar para treinarmos.— ele puxa o cobertor, e me olha com carinho. Seus dedos me tocam e se enfiam em minha barriga, ele massageia e minha pele se arrepia totalmente com o toque completamente novo.— É aqui, não é?

— Finnick... espera.— puxo seus dedos e entrelaço com os meus, estou um pouco ofegante. Não sou acostumada a ser tocada, e definitivamente não acostumada com a sensação que se aglomerou embaixo do meu umbigo.— Me dá meia hora?

— Passa rápido assim? — ele pergunta, atencioso, mexendo em meus cabelos, distraído com uma mecha um pouco mais ondulada que às outras.— Não quer que eu peça a Mags alguns remédios ou algo?

— Não, não precisa!

Finnick assente e me abre um sorrisinho, ele se levanta e diz que me esperará no andar de treinamento.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora