Capítulo 28

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O trem começa a se mover e nós mergulhamos na noite até ultrapassarmos o túnel, quando consigo respirar livremente pela primeira vez desde a colheita. Lark está nos acompanhando, assim como Mags, é claro. Nós comemos um farto jantar e nos sentamos em silêncio em frente à televisão para assistir à reprise da entrevista. Com a Capital a cada segundo mais distante de nós, começo a pensar em minha casa. Em Zyan e em minha mãe. Em Maven. Peço licença para trocar o vestido por uma calça e uma camisa simples. À medida que retiro lenta e cuidadosamente minha maquiagem do rosto e prendo os cabelos, começo a me transformar novamente em mim mesma.

Quando reencontro os outros, tenho uma imagem fofa de Finnick e Mags rindo enquanto jogam xadrez. Ele está preguiçosamente ocupando grande parte do sofá, seminu, como sempre. Enquanto Mags está sentada na poltrona, inclinada para alcançar às peças. Lark está cochilando no sofá agarrado em uma almofada.

Gosto de tudo que vejo.

— Quando Mags ganhar, eu sou a próxima.— digo, enquanto me penduro em cima das costas de Finnick. Uma de suas mãos me alcança e aperta minha nádega esquerda, bato nela e belisco seus dedos.

Mags fala em alguns sinais que Finnick logo traduz, ela diz para nós dois não ficarmos de gracinha em sua frente, porque ela já passou da idade e estamos a causando inveja. Eu gargalho com isso.

— Mags você tem idade suficiente para aproveitar muito ainda.— eu digo e Finnick apenas resmunga, discordando.— Cale a boca.

— Não há ninguém que mereça ela.— ele diz, com um biquinho, enquanto move mais um peão. — Mags sabe disso.

— Quando voltarmos, vamos sair juntas, e achar alguém.— digo piscando para a senhora que abre um sorrisinho em concordância.— E você não está convidado.

— Como se isso fosse me impedir de alguma coisa.— ele ri diabolicamente. Puxo seus cabelos e Mags e eu rimos do seu gemido de dor.— Diaba.

De noite, Finnick e eu dormimos enroscados um no outro. E de madrugada, não são meus pesadelos que me acordam, mas sim os dele. Mais de uma vez Finnick acorda ofegante, se senta rapidamente e acaba me puxando junto sem perceber. Ele está irritadiço, e eu não sei como acalma-lo.

— Quer conversar?— sussurro segurando sua mão, seus dedos apertam os meus e eu o vejo tomar fôlego.

— Não, volte a dormir.— ele diz baixo, ajeitando o cobertor em meu corpo.— Vou pegar água, volto logo.

Finnick sai do quarto, apenas com outra das suas cuecas, mesmo provavelmente estando frio do lado de fora. O acompanho com o olhar até que ele desaparece pela porta. Penso em quais pesadelos podem deixa-lo assim. Será que ele pensa na arena? Nas vidas que precisou tirar? Na família em perigo? Na Capital fazendo algo?

Quando se passa mais de 20 minutos, me levanto, calço às pantufas e uso um robe para cobrir o tecido fino da minha camisola. Ando pelo trem sem saber direito para onde ir. E depois de longos minutos o acho na sala, a televisão ligada em alguma série de comédia a julgar pelas risadas falsas que soam de lá. Finnick está coberto com um edredom roxo e um balde de pipoca no colo, ele logo me vê chegando.

— Achei que você já estava dormindo.— ele diz baixinho e abre espaço no cobertor para mim. Me junto à ele, mesclando nossos corpos o máximo que consigo.— Tudo bem?

— Você que não parece bem. — resmungo de volta.— Você disse que já voltava... fiquei esperando.

Ele suspira baixinho.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora