Capítulo 63

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O dia de outono vai de fresco a frio. A maior parte do esquadrão está enfiada em seus sacos de dormir. Alguns dormem a céu aberto, perto do aquecedor no centro de nosso acampamento, ao passo que outros retiram-se para suas barracas. Leeg 1 finalmente perdeu o controle emocional em relação à morte de sua irmã, e seus soluços abafados furam as telas das barracas e nos alcançam. Eu me comprimo em minha barraca minúscula que divido com Malia, a enrosco em meus braços e tento não reviver à cena de morte que presenciei bem em minha frente.

Em algumas horas teremos que nos levantar e fazer guarda para Peeta que está à essa hora do lado de fora, provavelmente dormindo onde todos possam ver. Malia não estava no rodízio de vigia, mas pediu para ser incluída, o que foi bom. Peeta tende a se comportar melhor ao lado dela, os dois conversam baixinho todo o tempo e ele parece acreditar sempre nela.

Malia acorda repetidas vezes assustada, ela leva segundos para lembrar de onde está e que está comigo. Todos os dias são a mesma coisa desde que voltou, ela não demonstra muitos sinais igual Johanna e Peeta, mas tem vezes, poucas vezes em que me faz perguntas, me pede para contar alguns momentos nossos ou na Capital, como se precisasse se certificar. Sua mente como algum mecanismo de defesa apaga à maior parte dos traumas, mas alguns deles sempre voltam em sonhos. É como a apatia que ela adquiria todo o ano durante os Jogos que era obrigada à ir, quando ela se fechava e ignorava o mundo ao redor, ela faz o mesmo agora com às lembranças.

— Me conta do nosso pedido de casamento — ela pede baixinho.

Seus olhinhos estão marejados, mas nenhuma lágrima escorre. Eu movo minha mão para o seu rosto, acaricio sua bochecha rosada. Então eu conto do que lembro com perfeição, de quando havíamos passado o dia na praia, surfando e apenas aproveitando o sol. A lembro que Mags estava junto, porém na tenda pegando um sol, com um óculos escuro em seus cabelos grisalhos, vestida com uma roupa de banho preta. A lembro que a puxei para a gruta, que fiz o pedido mesmo sem ter o anel ainda. Lembro de como ela riu e achou que eu estava brincando, então precisei comprar no dia seguinte e repetir às mesmas palavras. A lembro de como ela se emocionou quando percebeu que era de verdade, como me abraçou e como a gente se amou à noite inteira.

Malia assente de olhos fechados, e não diz mais nada.

— Eu amo você — sussurro baixinho, me inclinando para beijar sua testa. — Você é a minha vida.

Seus braços me apertam e ela esconde o rosto em meu pescoço, seu nariz fazendo cócegas em minha pele. Malia sussurra que me ama de volta, e eu a observo cair no sono novamente.

Pela manhã, Coin manda outra mensagem alertando que nossos pontoprops não estão bons o suficiente. Somos designados à invadir uma área mais agitada, eles querem mais ação. Fica claro que tudo o que os vitoriosos estão fazendo é um tédio.

Nós descemos lentamente a rua enevoada, exatamente como em nossos exercícios no Quarteirão. Todos têm pelo menos uma seção de janelas para explodir, mas Gale foi designado para o verdadeiro alvo. Quando ele atinge o casulo, damos cobertura – agachados nas entradas dos prédios ou deitados nas lindas pedrinhas laranjas e rosas do pavimento – enquanto uma torrente de balas passa de um lado para o outro sobre nossas cabeças. Depois de um tempo, Boggs dá a ordem para avançar.

Antes de levantarmos, Cressida nos impede, já que necessita de algumas tomadas em close-up. Nos revezamos reencenando nossas reações. Caindo no chão, fazendo careta, mergulhando em buracos. Sabemos que se trata de um assunto sério, mas a coisa toda parece um pouco ridícula. Principalmente quando fica claro quem é o pior ator do esquadrão. Estamos todos rindo tão intensamente da tentativa de Mitchell projetar sua ideia de desespero, que inclui dentes cerrados e narinas bem abertas, que Boggs é obrigado a nos repreender.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora