Capítulo 55

1.5K 160 32
                                    



Sou acordado com a notícia de que tropas estão indo na direção da Capital buscar os vitoriosos. Fico enfurecido e pergunto o porquê não fizeram isso antes. Haymitch apenas diz que era custoso demais, que perderiam pessoas e gastariam com os disfarces. Ele diz que agora que Katniss e eu nos tornamos emprestáveis, precisamos de algum incentivo se não perderão o tordo e qualquer merda do tipo. A coisa toda faz com que eu odeie ainda mais o Distrito 13.

Faço tudo que preciso fazer quando acordo e sou levado para o studio de gravações. Katniss já está aqui, gravando repetidamente a história de como conheceu Peeta, a história dos pães e do encontro deles no trem a caminho da septuagésima quarta edição dos Jogos. Então Haymitch e Plutarch me puxam para um canto, e eu não gosto das suas caras.

— É o seguinte, garoto de ouro.— Haymitch começa.— A história de Katniss não é suficiente, precisamos de mais para distrair Snow e à Capital... precisamos que você diga algo.

— Algo sobre suas experiências nos anos que viveu lá... nos anos em que era...— Plutarch não conclui, mas sei exatamente do que ele quer dizer.

Querem que eu conte que fui prostituído, querem que eu conte sobre todos os anos na Capital, sobre às ameaças de Snow. Sei que tudo que eu falar passará em todos os Distritos e na Capital, mas sei que é necessário, sei que estão indo buscar Malia e os outros. Eu concordo com um aceno, mesmo me sentindo enjoado e com uma sensação horrível no estômago.

Me movo até a parte de gravação e me posiciono no lugar que antes estava Katniss, ela está me olhando com uma leve curiosidade, mas não diz nada.

— Você não é obrigado a fazer isso, ok? — Haymitch diz.

— Sou, sim. Se for para ajuda-la — eu digo, embolando à corda fina que estou acostumado a fazer diversos nós.— Estou pronto.

Quase não sei por onde começar, não sei se falo dos meus anos de cara ou se começo do início. Mas Haymitch diz que quanto mais tempo durar, melhor.

— O presidente Snow costumava... me vender... ou seja, vender meu corpo. — eu começo num tom neutro, remoto. — Não fui o único. Se um vitorioso é considerado desejável, o presidente o dá como recompensa ou permite que as pessoas o comprem por uma quantidade exorbitante de dinheiro. Se você se recusa, ele mata alguém que você ama. Então você aceita.

Eu respiro fundo algumas vezes antes de continuar.

— Não fui o único, mas fui o mais popular — diz ele. — E talvez o mais indefeso, porque as pessoas que eu amava também eram. Para que elas se sentissem melhor, meus patrões me davam presentes em dinheiro ou joias, mas descobri uma forma de pagamento muito mais valiosa. Segredos – eu falo. – E é aí que vai querer ficar sintonizado, presidente Snow, porque muitos deles eram a seu respeito. Mas vamos começar com alguns dos outros.

Eu começo a falar uma tapeçaria tão rica em detalhes que não é possível duvidar da minha autenticidade. Narrativas que giram em torno de apetites sexuais excêntricos, traições amorosas, ganância sem fim e sangrentos jogos de poder. Segredos embriagados, sussurrados em úmidos travesseiros na calada da noite. Lembro que nenhum das pessoas nem mesmo contestava antes de me contar, eu era um escravo, inocente, a quem mais contaria? E se contasse, quem iria acreditar?

— E agora, chegamos a nosso bom presidente Coriolanus Snow. — eu digo. — Um homem tão jovem quando alçado ao poder. E tão sagaz em mantê-lo. Como, vocês devem estar se perguntando, ele conseguiu isso? Uma palavra. Isso é tudo o que vocês realmente precisam saber. Veneno.

Eu rememoro a ascensão política de Snow, que  segue até sua chegada à presidência, apontando caso após caso das misteriosas mortes dos adversários dele ou, pior ainda, de seus aliados que tinham o potencial para se tornarem ameaças. Pessoas caindo mortas em algum banquete ou transformando-se lenta e inexplicavelmente em sombras ao longo de meses. A culpa atribuída a frutos do mar estragados, algum vírus elusivo ou alguma negligenciada fraqueza na aorta. Snow bebia ele próprio das taças envenenadas para evitar suspeitas. Mas antídotos nem sempre funcionam. Dizem que é por isso que ele usa as rosas com cheiro forte de perfume. Dizem que é para encobrir o aroma de sangue das feridas que ele tem na boca e que jamais irão sarar. Dizem, dizem, dizem... Snow possui uma lista e ninguém sabe quem será o próximo.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora