Capítulo 69

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Cuidadosamente eu seguro seu corpo pequeno em meus braços, a ninando devagar, observando com carinho cada expressão que se forma em seu rostinho. Seus olhos claros alternam o olhar entre minha boca, e então o teto branco, o lustre enorme que também chama sua atenção. Beijo sua testa e arrumo seus fiozinhos ralos e desgovernados. Alice agarra meu dedo, e o segura firme enquanto me encara, um sorriso banguela surgindo no momento em que retorno a mesma canção que cantei na última noite.

A mesma música que ouvi durante a maior parte da minha infância, cantada para mim e posteriormente para Zyan. Uma música que me trás memórias com cheiro de casa, fogueiras feitas no meio da noite, biscoitos salgados, pés descalços na areia e risadas contagiantes. Eu canto mais como um sussurro, minha voz nem de longe sendo um terço que é a da minha mãe, mas Alice não parece se importar, nem mesmo quando chego a desafinar em uma nota ou outra.

— Vou mostrar tudo a você, todo o nosso Distrito... seu lar. Meus lugares favoritos, até que você descubra seus lugares favoritos, e então, meus doces favoritos até que você prove os seus... o lugar onde seu pai me pediu em casamento — eu rio baixinho, vendo seu sorriso. — Vou faze-la feliz, minha filha... você nunca vai saber o que é tristeza se depender de mim.

Alice solta um murmurinho infantil, um som gostoso e único que se tornou o meu favorito no mundo.

Eu mal sei explicar a sensação de tê-la em meus braços, não é algo que dá para descrever em palavras. É apenas um sentimento cheio, que transborda dentro de mim, mais que suficiente, mais que tudo no mundo. É como se toda minha vida tivesse acontecido para eu tê-la, como se eu estivesse destinada a ser sua mãe, porque a familiaridade do sentimento é inebriante, algo que eu nem sabia que estava lá, mas mesmo assim um sentimento que sempre existiu.

— Eu amo você, sabia? — sussurro, e termino de cantar os últimos versos da música, vendo seus olhinhos piscarem lentos, mas ela ainda os mantém abertos, lutando contra o sono.

Eu não solto-a quando ela finalmente se rende ao sono, não ando em direção ao berço para deixa-la dormir. Eu apenas fico parada, admirando e contando cada uma das suas respirações, cada movimento mínimo. Minha filha. Meus olhos se enchem de lágrima, como o costume nos últimos dias, mas são lágrimas de felicidade, lágrimas de agradecimento.

Estou tão inerte e concentrada em Alice que quase não percebo o som da porta se abrindo devagar. Eu me viro apenas para ver a última pessoa que esperava ver em meu quarto.

— Você fica ótima como mãe — Coin diz, o mesmo tom passivo-agressivo de sempre.

— Coin — digo baixinho enquanto me dirijo até o berço. Me abaixo colocando Alice cuidadosamente e tirando de perto os travesseiros e mantas que podem causar um possível sufocamento. — O que faz aqui?

— Vim pedir sua opinião a respeito de alguns prisioneiros e sobre o que faremos com eles. — ela diz, andando pelo quarto com seus saltos altos batucando o chão liso. — Se serão executados com os outros ou não.

— E por que a minha opinião seria importante para você? — questiono cruzando meus braços na altura dos seios.

Ela solta uma risada baixa.

— Sua opinião importa muito para mim, Malia, não só nos assuntos que trarei aqui, mas em breve — ela diz, parando em minha frente.— Fenty e Dalence, os antigos estilistas do seu Distrito estão condenados nesse momento, eles trabalharam para Snow, vestiram Peeta nas entrevistas e fizeram parte de tudo isso. São os únicos estilistas que não foram mortos por Snow... estou livremente lhe oferecendo a decisão de puni-los...

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora