Capítulo 11

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Dou um salto de susto quando à luz acende e sou pega no flagra. Meus olhos demoram segundos para se ajustar, e eu percebo que Finnick está parado no pedestal da sala, me olhando, os braços cruzados e um sorrisinho. Abro outro em sua direção e tento esconder às coisas que roubei da cozinha. Meu mentor está muito pouco vestido, então não me repreendo por olhar por um tempo considerável seu peitoral malhado, às marcas vermelhas do outro dia sumiram, e eu o odeio um pouco menos.

— O que está fazendo?— ele pergunta se aproximando de mim.— Não consegue dormir?

Aceno um pouco, e paro de esconder a bandeja com doces. Tento não rosnar quando ele rouba um.

— Decidi assistir aos Jogos que Mags falou, mas estou com fome.— admito e vejo seu olhar mudar, ele sabe quem é o tal de Liam, mas porque Mags falou não quer me contar.

— Posso ver com você? Estou sem sono.— ele pede, mas seus olhos avermelhados revelam que ele está sim com sono. Deito minha cabeça para o lado cogitando. Não quero ficar com ele por tanto tempo, mas também não quero ver um massacre sozinha. — Não vou incomodar.

— Você não vai ficar falando e me comparando com nenhum jogador né?— pergunto baixinho e ele ri.

— Vou te dar algumas dicas importantes, mas não falarei.

Suspiro, e pego do bolso do meu cardigan a gravação e o entrego. Estou o seguindo em direção à sala, não falamos nada, o que acho raro para alguém como ele que adora se ouvir. Ele coloca a fita e me enrosco perto dele no sofá com a caneca de leite, que está realmente deliciosa com o mel e a bandeja de doces, e me entretenho com a quinquagésima segunda edição dos Jogos Vorazes.

— Uau... esses 18 anos foram horríveis com o presidente.— observo vendo o quão mais novo ele era. Ele parece mais jovem, porém igualmente repelente a qualquer um.

Finnick gargalha e eu rio um pouco, apenas porque gosto da sua risada.

O hino começa e depois dele o mesmo vídeo que se passa em todos os anos. Estou atenta quando chega ao nosso Distrito. Primeiro a mulher é chamada, Marta Salinsman, ela é alta e magra, cabelos escuros que chegavam em sua cintura, parece tão assustada quanto eu imagino ter ficado. Ela é abraçada por alguém, e quando se afasta eu me assusto um pouco.

— É idêntica a você. — Finnick murmura com a boca cheia.— É Cora, não é?

Assinto, porque já vi fotos e às pessoas normalmente dizem que somos idênticas, mas não esperava tanto. Marta se afasta da minha mãe e eu consigo visualizar com clareza a barriga enorme que ela já exibia. Eu estava lá. Minha mãe me teve com 17 anos, era sozinha no mundo e se virou como deu para me dar o maior conforto e qualidade possível.

— Ela estava prestes a dar à luz a mim.— murmuro um pouco tensa.— Já pensou se ela tivesse sido escolhida?

Finnick não responde, mas respira tão fundo que consigo ouvir. Observamos a versão mais jovem de Lark ir para a urna masculina, e então o nome que minha mãe surrara é dito: Liam Baker. Não preciso juntar um mais dois para entender quem ele é e porque minha mãe queria tanto que eu soubesse, ela acha que vou morrer nos Jogos, e acha que mereço saber quem é meu pai.

— Mags falou que ele é meu pai, não é? Ela foi sua mentora então...

— Sim.— ele diz baixo, está me olhando mas eu não olho em sua direção.

Um homem alto e loiro se aproxima da escada, está pálido e há lágrimas escorrendo em seu rosto. Estou sem reação, não sei como me sentir, estou triste por não conhecer ele, mas não me sinto mal justamente por isso, o único sentimento que está me despertando é ódio, ódio da Capital, dos Jogos, do presidente e de qualquer outra pessoa. A cena muda e estamos vendo o próximo Distrito, dura mais longos minutos até chegar na entrevista com o pai de Caesar. Liam, meu pai, não é igual aos outros participantes, não força risadas e não dá bola para o apresentador, ele está sério, com raiva, sua postura mostra isso. Quando a câmera foca em seu rosto percebo que meus olhos são da genética dele. Estou ainda mais furiosa.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora