Capítulo 15

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Minhas lições com Lark e Finnick estão encerradas. Tirando que não existiu lições com o primeiro. O dia de hoje pertence a Fenty. Ela é minha última esperança. Talvez consiga fazer com que eu pareça maravilhosa, assim ninguém vai se importar com as coisas que saírem da minha boca.

A equipe trabalha em mim até o fim da tarde, transformando minha pele numa seda cintilante, desenhando figuras em meus braços, pintando algas em minhas vinte unhas aparadas com perfeição. Então, Steve começa a trabalhar em meus cabelos, tramando fios dourados com brilho que começam na minha orelha esquerda, envolvem minha cabeça e depois caem em várias mechas mais cacheadas. Meus olhos são pintados com um azul forte e brilhoso, mas apenas um pequeno traço delineando-o, destacando a cor cinzenta da íris. Minhas bochechas estão perfeitamente avermelhadas e meus lábios parece mais cheios com o batom rosa claro.

— Nossa... você com certeza é a mais bonita que já tivemos o prazer de arrumar.— Pall suspira, enquanto termina de colocar fios em meus cílios na lateral. A sensação incomoda e pesa o suficiente para eu precisar piscar duas vezes a mais que o comum. — O que achou?

Demoro alguns segundos para responder, nada de fazer suspense para às três criaturas ansiosas, apenas porque, não me sinto eu mesma. Eu estou como uma das garotas que sempre vejo na televisão, com uma aparência falsa, porém bela. Me sinto bonita, mas é como se não fosse eu que me encarasse de volta.

— Vocês são incríveis, obrigada.— agradeço sinceramente, porque nesse momento, não quero ser eu mesma, quero ser algo que a Capital aprove, e decida escolher como vencedora.

— Espere para você ver o vestido que Fenty preparou.— Gina segura minha mão e me puxa na direção do closet. É um espaço tão grande que não vejo sentido de chamar de armário, para mim é outra sala.— Vai ser a nossa sereia.

Eles estão desesperadamente querendo me colocar como uma figura mística na tentativa maluca de conseguir que todos me adorem. Eu ficaria bonita com qualquer coisa, mas sei como isso é importante para surpreender a todos.

— Só... uau... — suspiro de prazer ao ver o vestido no manequim. É uma coisa delicada com tecidos que simulam algas nos seios, colado no corpo com uma parte que exibirá minha barriga, na cor de coral, como uma segunda pele. Como respirarei com isso?

— Levarei isso como elogio.— Fenty surge de uma porta adjacente que imagino ser o banheiro.— O tecido parece que incomodará mas revesti toda a parte de dentro com veludo fino, vai ser confortável, talvez um pouco quente, mas o palco de Caesar é sempre frio.

Os trigêmeos nos deixam sozinhas, e Fenty me coloca dentro do vestido que é ainda mais apertado que o primeiro. O tecido de veludo faz cócegas em minha pele, mas não incomoda. Estou totalmente vestida e em cima de saltos altos demais que não sou acostumada. Fenty disse que na Capital é considerado atraente pernas cumpridas, e que eu ficaria mais bela assim.

— Só estou com medo de tropeçar.— murmuro enquanto passo a mão em meu quadril, admirando a roupa.— Não vou ser considerada um rostinho bonito se estiver sem os dentes.

— Isso não vai acontecer, é só andar com elegância.— ela diz após soltar uma risada graciosa e ensaiada.— Lembre-se Malia, você quer que eles gostem de você, te escolham e te patrocinem... precisa ser sedutora, confiante e ousada... já saiu de moda garotinhas assustadas e tímidas.

Não sei como ser nenhuma dessas coisas, e me sinto ainda mais tensa. Sou levada para fora do quarto e então para fora do prédio, em um carro chique e cheio de comidas dentro. Peter está logo ao meu lado, vestido tão elegante quando eu, seus cachos foram modelados e um dos lados trançados desde à raiz, deixando um visual completamente diferente. Ele estava bonito, mas a maquiagem que fizeram em seu rosto não combinou.

— Nervosa? — Peter questiona, me fazendo morder minha língua pelo susto.

— Nem um pouco.— minto, e seu rosto se vira em minha direção. Ele me dá um único sorriso sarcástico, que faz meu estômago revirar.— Você?

— Não, estou bem. — responde seco.

— Ótimo.

— Ótimo.

Desviamos o olhar um do outro e estamos ambos encarando à janela. A viagem demora cerca de uns 15 minutos até o carro estacionar. Somos levados para dentro do prédio que já está cheio, por uma parte escondida no fundo, onde ninguém poderá nos ver entrando.

Finnick está à nossa espera, em uma sala cheia dos outros competidores, aparentemente todos já chegaram. Meu mentor me olha com os olhos brilhantes, ele abre um sorriso curto e se aproxima de nós dois.

— Vocês estão como coisinhas da Capital.— diz, seus olhos estão em mim.

Não consigo, por mais que eu tente, evitar um sorriso. Ele está tão próximo de mim que consigo sentir seu cheiro maravilhoso. Não consigo desviar os olhos do seu, ele parece realmente encantado. Ele está tão bonito quanto um dos competidores, vestido com uma blusa social branca, que claro, está com vários botões abertos, exibindo seu corpo.

— Obrigada Finnick, pelo doce e não sarcástico elogio.— digo e seu sorriso aumenta.

Uma tossida de garganta me faz perceber que não há só eu e ele ali. Peter está nos encarando, tão perto quanto. Odeio sua presença.

— Alguma dica de última hora, mentor? — não perco o tom de ironia que sai de suas palavras.

— Não, Peter. Já falei tudo.— ele diz, à voz soando séria demais.

Finnick entrelaça seu braço com o meu e me conduz para longe dele. Estou tendo dificuldades de acompanha-lo com os saltos, meu pé em algum momento dobra e ele me segura pela cintura, me colando no seu corpo.

— Acho que me puxar para um canto sozinha não é bem um disfarce.— sussurro, quando seu corpo cobre minha visão de qualquer coisa que se passe no corredor.

— Escutei alguns Carreiristas falando... Peter não é considerado do grupo deles... o acham fraco... estão o enganando Malia... ele vai ser morto.— Finnick sussurra baixinho, tão baixo que preciso me inclinar para ouvir o fim da frase.

— Você tem certeza? Nos treinos pareceu...

— Eu ouvi bem, amor. Ele não vai ser um problema para você.— seus dedos tocam a lateral do meu rosto, colocando uma mecha ondulada atrás da orelha.— Mas... o ruivo do Distrito 2... aquele desgraçado te chamou de vadia... disse que ele mesmo cuidará de você.

Sinto meu estômago embrulhar, mas assinto. Seus dedos deslizam pelo meu rosto, e eu não consigo pensar no quão grave é todo aquele momento, porque Finnick tem a enorme habilidade de fazer toda minha atenção ser para ele.

— Pode dormir em meu quarto hoje?— peço, sentindo meu rosto corar.

Seus lábios se contorcem em um sorriso contido, e ele se inclina beijando o canto da minha boca, me deixando quase ofegante. Não consigo parar de olhar seus olhos.

— Eu já planejava fazer isso. Vamos voltar. — ele sussurra, e prende meus dedos com o seus.— Você está linda aliás, não haverá ninguém para competir.

Rio enquanto ele me conduz de volta para a sala cheia.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora