O Centro de Treinamento possui uma torre exclusivamente projetada para os tributos e suas equipes. Aqui será nossa casa até que os Jogos comecem efetivamente. Cada distrito possui um andar inteiro. Você simplesmente entra num elevador e aperta o número de seu distrito. Facílimo de lembrar. As paredes do elevador daqui são feitas de cristal, ou algo parecido com isso, para que você possa ver as pessoas no térreo encolherem até ficarem do tamanho de formigas à medida que você dispara céu acima.— Do que está rindo?
Meu riso desaparece e eu prendo meus olhos no meu mentor. Ele sumiu durante à noite inteira, e apareceu essa manhã com marcas em seu pescoço, que acho que nem em sonhos esquecerei. Há algo borbulhando dentro de mim e não entendo essa reação. Agora ele está vestido com uma roupa de treino, parecida com a minha. Peter e eu escolhemos nos treinar separados, é uma opção que temos para não mostrarmos nossas habilidades um para o outro, afinal somos adversários.
— Nada.— desvio meus olhos e encaro às pequenas pessoas.
Ele suspira e eu sinto seus olhos em mim. Quero quebrar o vidro, ou cristal, e empurra-ló lá embaixo, quero ver quantas marcas aparecem em sua pele.
Finnick me conduz para o andar de treinamento. É uma sala grande que não faz jus ao que é exposto em algumas reportagens na televisão. Há paredes para escalar, ringue de luta, sacos de areia presos ao teto, uma sala menor de simulação, armas de todos os tipos em tamanhos em outra parede, manequins de luta, aparelhos de musculação, e mais algumas quinquilharias que não sei para o que servem.
— Então, o que sabe fazer? — escuto sua voz.
O olho como se ele fosse um idiota, aliás ele é um. Estou ignorando sua voz e seus passos que me perseguem enquanto verifico tudo.
— Sou do seu Distrito, mas não fui treinada como você... tudo que eu sei é empalar sardinha e pescar.— resmungo um pouco.
Finnick anda até uma parede e eu o vejo pegar um Tridente, um parecido com o que ele usou durante os jogos. Ele abre um sorrisinho.
— Lembra de quando eu te ensinei a usar isso?
Claro que eu lembro.
— Não.
Finnick sabe que estou mentindo porque ele ri. Ele está muito feliz para quem está falando com uma possível defunta. O observo andar até a sala de simulação e apertar alguns botões, sou empurrada para dentro e o Tridente voa em minha direção, seguro no último segundo, antes que bata em minha cabeça.
Estou prestes a xinga-lo quando uma figura dourada voa em minha direção mirando facas que de alguma forma chegam perto de mim. Desvio com dificuldade e caio de bunda. A figura pula em minha direção e só tenho tempo de erguer o Tridente que a perfura e ela se desintegra em pedaços.
— Arrasei! — grito feliz.
— Presta atenção! — Finnick grita de volta.
Não entendo direito, mas me levanto do chão, porém não a tempo de prever o holograma me atingindo por trás, uma onda leve de choque percorre pela minha coluna até minha barriga, me causando cócegas. Estou rindo quando um apito soa e uma voz robótica avisa "Você morreu". Meu mentor tem a mão na testa e está com a cabeça baixa.
— Como fui? — pergunto, na esperança de ele não ter visto que acabei de morrer.
— Morta, Malia.
Finnick me puxa e me faz tentar outras milhares de coisas, até mesmo arco e flecha, atirar facas e dardos com um estilingue. Ele parece satisfeito quando me da uma Katana quase maior que eu, que de alguma forma é mais fácil do que qualquer outra coisa que tentei. A base não é pesada e eu consigo equilibrar bem em minha mão. Me mexo por puro reflexo e consigo bloquear quase todos os ataques dele. Às 4 horas passam voando e quando vejo, estou sendo arrastada para fora.
— Não faz sentido você ser boa com algo que não tem experiência alguma... mas estou esperançoso.— ele diz. — Com mais algumas dias você estará pronta.
Estou inclinada no vidro observando às pessoas lá embaixo aumentarem. Rio quando uma acena na minha direção e movo meus dedos retribuindo.
— Acho que gostam de mim.— murmuro baixinho.
— Você foi ótima ontem, estava parecendo uma sereia ou qualquer coisa bela do tipo. Tenho certeza que muitos ficaram encantados e estão ansiosos pela entrevista com Caesar. — ele fala com tanta facilidade, como se os elogios já fossem prontos em sua mente. Ele também elogia a pessoa que se deitou com ele e causou essas marcas em seu pescoço? Ele é assim tão infiel ou apenas está me tratando bem para eu ter o prazer de me sentir desejada antes de morrer?
O elevador se abre e eu ainda o estou encarando, ele parece até mesmo constrangido, uma certa timidez que eu sei que não existe para ele. Finnick troca a posição do corpo, mudando o peso dos pés e abre um sorriso, nada perto daqueles que ele lança para a televisão, um sorriso pequeno.
— Obrigada, Finnick.— agradeço antes de me atirar para fora dali, na direção do apartamento que abre com a minha digital.
Meus aposentos são maiores do que toda minha casa no distrito 4. São elegantes como o vagão do trem, mas também possuem tantas palhaçadas automáticas que tenho certeza de que nunca terei tempo para apertar todos os botões. Só o chuveiro possui um painel com mais de cem opções a escolher: regulagem da temperatura da água, pressão, sabonetes, xampus, essências aromáticas, óleos e esponjas para massagem. Quando você sai do boxe e pisa sobre um capacho, aquecedores são acionados para secar seu corpo. Programo o closet para uma roupa que esteja a meu gosto. As janelas aproximam e afastam partes da cidade ao meu comando.
Estou faminta, e quando fico totalmente vestida, corro para fora do quarto, para a mesa de jantar que já está servida. Me sento com Mags e nós dividimos o bolo de chocolate enquanto esperamos os outros chegarem.
— Como foi o treinamento hoje?— Lark que pergunta, e eu me surpreendo. Geralmente ele não está ligando para nada que eu e Peter fazemos, ele não se importa se vamos ganhar ou perder, nem faz esforços para fazer suas funções.
Escutei Peter reclamando para Mags que Lark mandara ele assistir várias entrevistas e tirar nota do comportamento de outros Tributos para então decidir o que ele fará. Foram 4 horas sentado no sofá, ele estava furioso porque preferia ter ficado treinando.
Ainda estou pensando em uma desculpa para não me encontrar com Lark amanhã, quando Finnick responde sobre meus avanços no treinamento. Ele está empolgado, acha que me sairei bem, soa tão sincero que me irrito. Ele engata em uma conversa com Peter sobre estar ansioso para treiná-lo amanhã, e isso parece acalmar um pouco os ânimos do garoto. Se Finnick realmente disse a verdade, Peter não tem chances, e eu sei que é um pouco injusto, mas agradeço por ter essa vantagem, o garoto não receberá nenhum patrocínio, estará totalmente sozinho no momento que entrar.
Pensar nisso me deixa mal porque sinto que é errado, mas não vou reclamar. Quando Dalence me oferece vinho, bebo quatro taças dessa vez, e não consigo me lembrar de mais nada que aconteceu na noite.
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70° edição dos Jogos Vorazes
Fiksi PenggemarPerto de completar seus tão esperados 19 anos, Malia Dareaux estava contente por ser seu último ano sendo obrigada a escrever seu nome para ser sorteada como Tributo para os Jogos Vorazes. Ela sabia que depois desse fatídico dia, não teria mais que...