A entrevista acontece na sala de estar ao fim do corredor. Um espaço foi reservado e o sofá do está agora em outra posição e cercado de vasos com flores vermelhas e rosas. Só há um punhado de câmeras para registrar o evento. Pelo menos não há plateia no local.Caesar Flickerman me dá um abraço afetuoso quando adentro o local.
— Congratulações, Malia. Como está?
— Bem... eu acho. Estou um pouco nervosa.— respondo apertando meus dedos no vestido chique, também com um tom de rosa pastel, mas o caimento completamente diferente do dia anterior.
— Não fique. Será uma experiência boa, eu garanto. — diz ele, dando um tapinha encorajador em minha mão suada.
Sinto uma espécie de arrepio percorrendo-me o corpo e não tenho tempo para a analisar o motivo, porque eles já estão à minha espera. Alguém faz a contagem regressiva e, num átimo, nós estamos sendo transmitidos ao vivo para todo o país. Caesar Flickerman é maravilhoso como entrevistador, implica, faz piada, se engasga quando a ocasião é propícia. Mas chega um momento em que Caesar começa a colocar questões que demandam respostas completas.
— Qual foi a sensação que você teve quando percebeu que havia, de fato, ganhado os Jogos Vorazes?
Pisco várias vezes enquanto tento formular uma resposta. Não houve sensação além da minha cegueira pela vitória, não senti nem mesmo hesitação, agi como um monstro contra alguém indefeso.
— Culpa.— respondo baixo e no mesmo momento percebo pelas feições de Caesar que não é isso que ele esperava ouvir.— Tirei vidas de inocentes, não estou feliz com isso.
Ele força uma tosse e muda a ficha que devia conter aquela pergunta.
— Está ansiosa para reencontrar sua família? Imagino que seu irmão ficará muito feliz... Zyan não é?
Essa definitivamente é uma pergunta fácil, que só possuí uma resposta.
— Estou muito ansiosa, Zyan e minha mãe são minha vida, tudo que fiz foi por eles.— respondo.
— E por Finnick... imagino? — Caesar ergue a sobrancelha.
Certo, toda a Capital acha que nos amamos e namoramos. Preciso solidificar isso. Não é difícil e minhas palavras não são mentiras quando digo:
— Reencontrar Finnick aqui foi uma das melhores coisas que aconteceu em minha vida, ele me faz bem, mais do que eu possa merecer... então sim, estava pensando nele... em muitos momentos.
Caesar Flickerman abre um sorriso grande.
— Imagino que tenha pensando nele em muitos, muitos, muitos momentos mesmo... assim como algumas sortudas da Capital.— ele sorri em minha direção.— Imagino que saiba o sucesso que ele fez durante o tempo que ficou aqui, e como sua partida deixará muitas mulheres de coração partido.
Estou apertando tanto minhas mãos que sinto a unha cravando na pele. Quero pular no pescoço dele e ouvir o som do crack quando eu parti-lo. Odeio como ele fala de Finnick como um mulherengo, como eles distorcem a realidade quando na verdade ele foi uma criança abusada por anos.
— Tenho certeza que essas mulheres, podem superar alguém que nunca às pertenceu por mais de algumas horas. E que elas podem aceitar que ele virá comigo, porque nisso ele teve escolha. — não existe mais simpatias e sorrisos falsos.
Caesar parece mais feliz ainda com a minha resposta.
— Você é do tipo ciumenta, então? — ele pergunta, às sobrancelhas arqueadas.— Esse seu rostinho angelical não dá nada, não é?
Estou a um pequeno passo de derrubar a câmera e fazer um verdadeiro escândalo. Finnick surge atrás da porta como um milagre, e ele definitivamente não é interrompido quando aparece e se senta ao meu lado. Não é comum o vitorioso dar entrevista com outro alguém, mas Finnick aparentemente sempre consegue tudo o que quer.
— Eu sabia que você não resistiria às câmeras, Finnick!
Finnick vira a pessoa que conheci durante os anos que não estivemos juntos, o amante das câmeras e conquistador de todos. Ele está todo a sorrisos enquanto Caesar faz várias piadas que cortam o clima tenso que eu instalei.
— Você me conhece bem, sabe como eu adoro tudo isso.— Finnick sorri, é lindo, mas não estou calma. Estou com ódio, de todos ali, e nem mesmo seu braço me envolvendo a cintura de um jeito possessivo serve para me acalmar. — E eu também não gosto de deixar minha mulher longe de mim.
Caesar parece brilhar com a escolha de palavras dele.
— Sua mulher, huh? Teremos em breve uma data de casamento?
Finnick me encara e eu simplesmente não tenho reação. Gosto dele, gosto de ficar com ele, mas decidir casamento parece simplesmente cedo demais, ainda me sinto praticamente como uma adolescente. Finnick provavelmente percebe minha instabilidade, porque ele diz em seguida:
— Sem dúvidas eu a considero a mulher da minha vida, mas ainda somos jovens, não queremos apressar nada por enquanto.— ele diz baixo, sem deixar de me olhar.
Eu sorrio involuntariamente, sentindo meu rosto queimar quando ele pisca um dos olhos disfarçadamente, me cantando.
— Alguém está sorrindo de novo, em? — ele observa.— Malia é muito difícil de controlar, Finnick? — Caesar pergunta e meu humor despenca.
Ele não parece tão insuportável quando se está apenas assistindo do sofá de casa.
— Não sou como um animalzinho que ele mantém às rédeas, sabe? — minha voz é casual, mas o aperto firme de Finnick em minha cintura me faz perceber que estou sendo abusada em rede nacional.— Mas bem... sabe como Finnick é bom com tudo... então ele consegue... me controlar bem.
Minha língua arde com às palavras que escolho. Caesar parece suficientemente satisfeito. Às perguntas perduram mais um tempo sobre nós dois, e sobre como Finnick vai deixar muitas mulheres tristes e blá blá blá, até que o assunto volta aos Jogos, e Caesar pergunta minha opinião e a de Finnick sobre a arena, sobre o vulcão e o tsunami. Então, estamos falando da morte de Peter, e de como ele parecia fora de si nos últimos momentos.
Meu estômago pesa, me sinto enjoada apenas de lembrar de como eu o matei, de como grande parte do seu sangue veio parar em minha boca. Como seus olhos se reviraram quando a vida deixou seu corpo, do som trovejante do canhão concretizando tudo.
Finnick aperta meu corpo me trazendo para ele, enquanto tenta responder por mim a respeito de Peter. Não estou ouvindo mais até que Caesar chama o meu nome e eu respondo às últimas perguntas bestas à respeito do meu vestido, sobre voltar para casa e algumas outras.
— Meu amor, você precisa tanto ter cuidado com às coisas que fala.— Finnick sussurra. Estamos fora da sala e longe de todos os tipos de câmeras ou gravadores. Ele me trouxe para um corredor vazio e silencioso.— O melhor jeito de sobreviver aqui é ser querido pelo povo, eles ditam como seremos tratados ou não.
— Eu não me importo com eles e nada disso! — meus braços estão cruzados, e eu não consigo olha-lo. — V-você viu... viu como ele...
— Eu sei... eu sei, está bem? Mas precisa engolir tudo e aceitar com um sorriso. — ele me interrompe segurando meu rosto em concha.— Em alguns dias finalmente estaremos em casa, mas isso não significa que terá acabado, em breve terá sua turnê pelos Distritos, e então, ano após ano seremos arrastados de volta para cá, para essas mesmas pessoas. Elas precisam gostar da gente, está me entendendo?
Sinto meus olhos encherem de lágrimas, porque não quero isso, não quero voltar para cá. Quero minha vida de volta, a normalidade e o conforto. Mas se eu não agir como esperam, então provavelmente estarei colocando aqueles que amo em perigo, e pensar nisso me dói mais que tudo.
Finnick me abraça, me aconchega e sussurra que estará comigo em todos os momentos. Eu o aperto e enterro meu rosto em seu peito, inspirando seu cheiro gostoso e procurando me acalmar.
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70° edição dos Jogos Vorazes
FanfictionPerto de completar seus tão esperados 19 anos, Malia Dareaux estava contente por ser seu último ano sendo obrigada a escrever seu nome para ser sorteada como Tributo para os Jogos Vorazes. Ela sabia que depois desse fatídico dia, não teria mais que...