Capítulo 50

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Meus olhos lutam para abrirem, mas não consigo manter assim por muito tempo. Minha cabeça está latejando e a luz forte do ambiente piora cada vez mais. Eu gemo quando tento me levantar, e desisto no mesmo momento. Quando abro os olhos novamente, percebo a série de fios plugadas em meu braço. Os aparelhos ligados a máquina que contam meus batimentos cardíacos. O lugar é totalmente desconhecido para mim. Estou numa sala grande com teto rebaixado e luz prateada. Há duas fileiras de camas, uma de frente para a outra. Posso ouvir a respiração do que suponho serem meus companheiros vitoriosos. Bem na minha frente, vejo Beetee com mais ou menos dez máquinas diferentes ligadas a ele por fios. Ao meu lado está Katniss, amarrada e com os braços cheios de restrições.

Não sei onde estou, se a Capital nos pegou e não querem deixar a gente morrer sem antes nos torturarem. Ou se alguma parte do plano teve sucesso e Plutarch nos tirou da arena. Mas não estão todos, definitivamente não. Não vejo Peeta, nem Johanna.

Um barulho mecânico, um deslizar leve me faz olhar na direção da porta. Haymitch passa por ela, e o ar volta aos meus pulmões, estou seguro. Malia deve entrar logo atrás dele, espero ansiosamente, mas a porta desliza e se fecha atrás dele.

— O que aconteceu? — pergunto, tentando me levantar. Não consigo de imediato, preciso que Haymitch me ajude. Ele segura em minhas costas e me ajuda a sentar. Meu corpo inteiro reclama pela dor excruciante em todas às minhas terminações.— Cadê todo mundo?

— Finnick, eu sinto muito. — sua voz é baixa. —Não dava tempo, não deu tempo. Assim que Katniss disparou aquela flecha, já estavam apostos para tirar todos vocês de lá. Peeta, Johanna e Enobaria ficaram na arena, estavam longe demais. Mal conseguimos sair da Capital sem sermos seguidos.

Eu também sinto, pelo destino que os três irão enfrentar sozinhos lá. Imagino a reação de Katniss, como ela ficará quando acordar e perceber que deixaram Peeta para trás. Ela não vai reagir bem, não vai aceitar que todos sabiam do plano menos os dois, tão pouco aceitará ser o rosto da rebelião. Eu aceno para Haymitch, enquanto puxo os acessos do meu braço.

— Malia? Onde ela está? — eu pergunto, olhando para à porta, mas ela não desliza novamente. — Precisa dizer à ela que estou bem, ela já deve estar nervosa... pode deixar-la entrar.

Haymitch não me responde, tão pouco me olha nos olhos. Sua cabeça está baixa, cabelos loiros tampando parte dos seu rosto. Eu o chamo novamente.

— Finnick... a situação fugiu do meu controle, eu sinto muito.— ele não para de repetir isso.

Meu coração se aperta, esperando notícias ruins.

— O que aconteceu? Cadê ela, Haymitch?

— Malia acordou de madrugada aos berros
de dor, acordou todos dos prédio... estava sangrando e... os Idealizadores chamaram um carro, ela foi direto para o hospital.— ele diz baixo.— Eu não tinha como ir com ela, não havia ninguém para olhar vocês na arena, a minha prioridade era Katniss, assim como sempre foi.

— Onde ela está, Haymitch? — minha voz não parece minha.

— Ela ficou na Capital junto com os outros.

Por alguns segundos, apenas por alguns segundos, suas palavras não fazem o menor sentido em minha mente. Uma risada irrompe de mim, porque sei que é alguma brincadeira, porque não há a menor chance de deixarem ela para trás, não fariam isso. Malia vai entrar por aquela porta, vai me abraçar e tudo vai ficar bem. Nada aconteceu com ela, Haymitch deve estar alcoolizado novamente.

Eu desço da minha cama de hospital e conforme ando na direção da porta, ignoro os chamados de Haymitch atrás de mim. Em algum momento sua mente perturbada e cheia de álcool vai entender que não há nenhuma graça nisso, não com isso. Não é o momento para piadas, e alguém precisa por limites nele. Talvez Haymitch devesse estar amarrado em uma das camas do pequeno hospital.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora