Capítulo 29

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Passei a manhã inteira com Mags na sala de jogos, ela me mostrou que a mesma máquina que eu joguei quando cheguei aqui, já tinha adquirido uma nova personagem, eu mesma. Eu me assusto com o fato de terem minha voz em frases específicas que nunca saíram da minha boca enfrente às câmeras. Pelo jogo, consigo ver às partes da arena que não vi pessoalmente, descubro que tinha uma areia movediça, lebres que pareciam indefesas, mas quando atacadas se transformavam em outra coisa. Descubro que tinha morcegos e também uma cachoeira que não cheguei a ver.

— A cachoeira foi onde todos os carreiristas se instalaram. Era o melhor lugar.— Finnick surge atrás de mim. Seus braços passam ao meu lado envolta da minha cintura e ele segura minha mão para mexer no controle e me mostrar melhor todos os lugares.— Quando você ficou desacordada por quase 3 dias inteiros, estava tão perto deles. Vez ou outra a capital fazia algo acontecer por lá, para joga-los em sua direção.

— Pra mim não pareceu tanto tempo.— respondo baixinho.— O que aconteceu com os Carreiristas? Como Peter não morreu por eles?

— Acho que ele suspeitou desde o primeiro momento, estava fingindo que estava dormindo quando o atacaram. Ele matou a garota do Distrito 1 e conseguiu fugir.— Finnick diz. Suas mãos passeiam em minha barriga por baixo da camisa e eu involuntariamente colo nossos corpos.— Foi a Capital também que levou ele e a garota para perto de você. Eles não gostam quando alguém está se safando demais.

Finnick está falando coisas sérias, mas estou tão concentrada em seus dedos, na lembrança do que fizeram comigo. Solto finalmente os controles do jogo e me viro para ele. Acho que Finnick não tem noção do poder que tem sobre mim.

— Onde você estava essa manhã quando eu acordei?— pergunto baixinho, passando meus braços em torno de seus ombros.

Mags resmunga do sofá da sala e se levanta indo em direção à porta.

— Não vamos fazer nada Mags!— Finnick diz alto, mas ela já passou da porta. Seus olhos voltam para mim, e ele abaixa o tom. — Fiquei com medo de ter mais pesadelos e te acordar, fui para o meu quarto. Estava com tanto sono que só acordei agora.

Mordo meu lábio inferior, o encarando de pertinho.

— Eu gostaria que você me acordasse e conversasse comigo... não se fechasse e fosse para longe.

— Não estou fechado... só... só não me sinto confortável em contar pra você. — ele diz em um tom calmo.— Quando eu preciso desabafar, tenho outras pessoas, não se preocupe.

Algo dentro de mim murcha e morre lentamente. Tiro meus braços que envolvem seu ombro e forço suas mãos a me soltarem. Finnick não se sente confortável comigo, não represento para ele o que ele representa pra mim. Ele tem outras pessoas com quem ele pode contar. Se ele não me vê como uma pessoa que pode confiar, o que eu sou? Sou apenas o bichinho que o faz rir e ele pode dar uns beijos quando sente vontade?

— Entendi.— minha voz sai baixa.

Finnick nem mesmo percebe que estou magoada, ele beija minha bochecha e me abraça.

— O que acha de vermos um filme agora?— ele pergunta e eu assinto meio automática. Seus dedos entrelaçam nos meus e ele me puxa para fora.— Vamos ver se achamos Mags também.

Andamos pelos corredores em direção à sala, ele está falando sem parar. No meio do caminho um avox passa por nós e ele pede para levar nossos almoços para lá. A sala está vazia, o que me surpreende, normalmente Lark está babando em todos os centímetros do sofá.

A tristeza está formando outra coisa dentro de mim. Estou furiosa com Finnick. O que eu fiz? Estou sempre ao lado dele, tento conversar, tento distrai-lo, passei a madrugada acordada, apenas porque ele não conseguia dormir e o que eu recebo é meras palavras sobre conforto? Por que ele não me vê como eu o vejo?

Sinto meus olhos encherem de lágrimas, mas seguro cada uma delas. Ele escolhe um outro filme que não presto atenção. Quando o avox chega com nossos almoços, como um pouco e depois faço uma ceninha que me sinto enjoada e vou descansar.

Finnick já está se levantando para ir comigo, mas eu o mando ficar.

— Quero ficar sozinha.— falo.

Seu semblante é uma mistura de confusão e preocupação. Quero puxar seus cabelos.

— Amor, está tudo bem? — ele pergunta segurando minha mão.— Posso ir depois?

— Não. — puxo minha mão da dele e me viro de costas.— Eu volto quando me sentir melhor.

Passo o resto da tarde dormindo e acordando, em determinado momento vejo o pôr do sol, e fico admirada com às cores e a beleza. Fico mexendo nos controles até que descubro um que faz soar barulho de chuva, e mudo a paisagem de fora para simular uma tempestade. Diminuo a luz do quarto a quase nada e me enrosco nos cobertores me sentindo mais relaxada possível.

E dai que Finnick não confia em mim? Que eu estou igual uma boba sentindo essas coisas sozinhas? Logo estarei em casa e nada mais disso terá importância, só nos aproximamos por causa dos Jogos e agora eles acabaram. Só precisaremos fingir na frente das câmeras quando elas surgirem e apenas isso. Posso superar a falta que ele vai me fazer.

Estou chorando quando menos percebo, e sinto vontade de puxar meus próprios cabelos para parar.

Quando acordo, é provavelmente de madrugada. Não comi nada depois do almoço, mas não sinto fome. Braços familiares estão me envolvendo e uma respiração quente bate em minha nuca. Eu provavelmente deveria chuta-lo para fora daqui, mas não consigo cogitar a ideia de brigar com um Finnick que acabou de acordar, ele é muito assustado e está sempre com às bochechas rosadas e olhar de bebê. Eu me sentiria um monstro. Guardo todas às ofensas para o dia seguinte, e me aconchego nele, aproveitando do seu calor.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora