Capítulo 45

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Me agarro às últimas palavras de Malia tentando não estremecer enquanto entro no cilindro que me colocará na arena. Nós nos despedimos essa manhã, e diferente de todos os outros dias, não houveram lágrimas, nem desespero. Malia me beijou, um beijo que quase arrancou meu ar, definitivamente não um beijo de despedida, porque não iríamos nos despedir, não ainda.

Dalence ficou comigo nos últimos momentos, e então deixou a sala assim que entrei no compartimento. Estou sozinho escutando à voz que conta os segundos até eu subir para cima.

Uma sensação costumeira me entorpece, desligo todos os meus sentidos e medos. Minha mente forma estratégias para sobreviver, tenta cogitar em que tipo de arena seremos colocados, qual show de horrores que os Idealizadores pensaram para todos nós, me relembra tudo o que preciso fazer até o momento de deixarmos a Capital.

Sinto o prato começar a se mover e me desencosto do vidro, me forço a ficar ereto. De repente, estou em pé na arena. Alguma coisa parece estar errada com a minha visão. O solo está brilhante demais e continua ondulando. Estreito os olhos em direção aos meus pés e vejo que meu prato de metal está cercado por ondas azuis que sobem por cima de minhas botas. Lentamente, levanto os olhos e consigo distinguir a água se espalhando por todas as direções.

— Senhoras e senhores, está aberta a septuagésima quinta edição dos Jogos Vorazes! — A voz de Claudius Templesmith, o locutor oficial dos Jogos Vorazes, martela meus ouvidos. Tenho menos de um minuto para me situar. Então, o gongo vai soar e os tributos ficarão livres para sair de seus pratos de metal.

Eu sorrio, sem conseguir evitar. Estou no melhor lugar possível para alguém do Distrito 4, estou na vantagem de todos os outros jogadores que não tem mares em seus Distritos. Entendo rapidamente a utilidade do cinto em minha cintura, uma espécie de boia que fará chegar até às linhas de pedras que se estendem até a ilha no centro de tudo.

Retiro o cinto o jogando em cima do meu prato de metal. Fico em posição e quando o gongo soa e os segundos acabam, não hesito um milésimo sequer e me atiro na água. O sal me recebe de braços dados e a familiaridade me entorpece. Meus braços cortam a água e me impulsionam para frente, não paro nem mesmo para respirar. Eu escalo a pedraria e me ergo sobre à ilha. O lado em que estou não tem nada, e penso que fui disposto dessa forma para me dar alguma desvantagem, já que devo ser um dos únicos que sabem nadar.

Corro até à entrada, pensando em quantos já devem estar correndo em minha direção, pensando que tenho que me armar o mais rápido possível porque Mags ainda deve estar no prato de Metal. Sufoco um xingamento de satisfação quando vejo meu tridente posto na parede armas, o agarro o tirando e contemplando todo seu tamanho. É de metal, maior que o do meu ano, perfeitamente equilibrado.

Então Katniss aparece, e nem mesmo me percebe, ela agarra o arco e a mochila com flechas. Seu rosto está preso em uma expressão que não consigo descrever. Desço do pedestal e ela me percebe imediatamente, seu arco está apontando em minha direção.

— Você também sabe nadar, onde foi que aprendeu isso no 12? — digo, um pouco ofegante pelo nado.

— A gente tem uma banheira bem grande lá em casa. — ela responde, nervosa.

— Deve ter mesmo.— eu suspiro, porque ela vai atirar em mim. Ficamos petrificados, encarando um ao outro, sei que ela está cogitando enquanto tempo atirarei meu tridente nela, porque mesmo que sua flecha me perfure, eu teria como mata-la, se quisesse.— Que sorte sermos aliados, não é?

Seu semblante se torna em confusão, mostro meu bracelete, de ouro maciço, ele brilha a luz do sol e ela automaticamente para. Haymitch mandou entregar em nosso andar pela manhã, com uma carta que dizia que Katniss entenderia que éramos aliados, apenas porque Mags a conquistou durante o treinamento.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora