Bonús

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Em uma escala de 1 a 10, o número 12 brilhava em meu percursor imaginário de ódio. Há exatos 15 minutos eu finalmente havia conseguido que meu bebê mais velho finalmente dormisse, e quando digo bebê mais velho, quero dizer que Finnick estava finalmente descansando depois de passar o dia em cima de mim e dos nossos filhos como uma galinha protegendo seus ovos. Eu o amava um pouco mais a cada dia, e talvez estivesse demonstrando cada vez menos, mas Finnick era paciente, e estávamos felizes e tudo estava na mais perfeita e caótica ordem. Quero dizer que meus níveis de ódio estão tão altos, porque no momento em que eu finalmente me deitei ao lado do meu marido, a campainha no andar debaixo começou a tocar enfurecidamente.

— Merda — xinguei em um sussurro.

Estar no puerpério era uma merda, uma coisa irritante e horrivelmente dolorosa e cansativa. Havia apenas 16 dias que meu recém nascido tinha rasgado minhas entranhas e saído de mim com um grito de guerra, e eu estava sentindo dor desde então, praticamente usando fraldas nos primeiros dias. E tudo era horrível, então fiz o que eu sabia de melhor, e fui reclamando desde ao me levantar da cama até descer às escadas, e eu estava no meio de um palavrão quando o chorinho fraco de Louis ecoou do quarto em que estava segundos antes.

Reclamei mais ainda, mais e mais, enquanto dava meia volta e subia os degraus e andava pelo corredor para buscar meu pequeno morcego que se negava a dormir de madrugada. Eu nem podia reclamar, não era eu que acordava para cuidar dele, apenas quando sentia fome e meu marido ainda não havia descoberto como ele próprio poderia gerar leite paterno dos seus peitos, mas Finnick cuidava de todo o resto.

— Oi bebê — sorri ao me inclinar e pegar seu corpinho pequeno em meus braços, meu bebê se acalmou instantaneamente e levou o bracinho com o punho fechado até um dos seus olhos claros. A campainha soou de novo e ele resmungou. Ri baixo, me controlando para não acordar Finnick, por mas que eu soubesse que ele estava praticamente em um estado vegetativo já que estava vagando como um zumbi nos últimos dias. — Quem será que está sendo tão mal educado essas horas, em meu amor?

Nós descemos às escadas juntos, com ele distraidamente se agarrando a alça da minha blusa. Agradeci silenciosamente por Alice ter ido dormir com a minha mãe hoje, porque esse barulho com certeza a acordaria, e eu teria o trabalho em dobro.

Meu irmãozinho, que com certeza não fazia jus a palavra no diminutivo, já que estava quase da altura de Finnick, e que já tinha pelos ralos crescendo em seu bigode que ele insistia em deixar crescer, estava parado na frente da porta, os olhos arregalados, nervoso, a imagem rapidamente me remetendo quando ele era um bebê, pequeno, curioso e assustado. Ele soltou um muxoxo dizendo "finalmente" e entrou para dentro da sala.

— Oi Zyan, bom ver você, estou bem obrigada por perguntar, mesmo que tenham me tirado da cama e acordado meu recém nascido — digo com ironia quando chuto a porta para fecha-la, já que nem isso ele fez.

Louie resmungou coçando os olhos novamente, pobre bebê. Sorri para ele admirando suas mechinhas tão claras que mal dava de ver, seus olhos de um inconfundível tom de verde, idêntico ao de Finnick. Ele não tinha nada a ver comigo, um pequeno ingrato que não valorizou quem o carregou por nove meses e sentiu a dor de várias costelas quebradas para coloca-lo no mundo.

— Era uma emergência — Zyan disse apressado, me trazendo de volta a situação.— Aconteceu algo.

Fale logo, estou cansada — resmungo me sentando devagar no sofá, enquanto ele se joga.

Zyan parece ainda mais nervoso, ele me olha como se reunisse coragem ou se cogitasse mesmo se seria certo me contar. Seus olhos azuis se suavizam quando ele encara o sobrinho, e ele rapidamente estende uma mão para brincar com Louie, que agilmente agarra seu dedo para nunca mais soltar, e abre a boquinha perfeita soltando o meu sonzinho favorito do mundo.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora