Estou me afogando.Não, é outra coisa.
Abro os olhos com dificuldade, e vejo que está chovendo, mesmo com o céu claro e o sol brilhando. Rapidamente eu me sento e examino o que aconteceu. Não penso muito, abro minha bolsa e pego minha garrafa de água e começo a enche-la. Viro para o lado e vejo que o corpo de Peter sumiu, junto com a sua bolsa que ainda estava em suas costas.
— Merda.— xingo.
A chuva limpou grande parte do sangue que havia em mim, mas mesmo assim precisei erguer a cabeça para trás e esfregar a parte grudada em meu pescoço. Estou tão encharcada que percebo que aquilo deve estar acontecendo à horas. Bebo água da chuva, e depois encho minha garrafa novamente.
Não sei quanto tempo fiquei desacordada, não sei se houve outras mortes. Terei que esperar até à noite para descobrir.
Me levanto sem dificuldades e me surpreendo totalmente. A cura para o veneno parece ter curado todas às outras dores musculares que eu sentia. Pego minha mochila e faca, e começo a andar para descer a montanha que subi. Percebo que com os jogos chegando no final, provavelmente haverá alguma gracinha em escorrer larva do vulcão, afinal não faz sentido existir um se não usarão.
Depois de uma hora caminhando, me sento em um local entre raízes, abro minha mochila e como um pouco. Estou tão faminta que como mais do que planejei. Resmungo ao ver que meu saco está ficando vazio. O que significa que terei que caçar para me alimentar, coisa que não tenho
ideia de como fazer. Passei com excelência no teste de frutas e elementos venenosos, poderia comer algumas, se achasse, mas estou andando a tanto tempo e não vi nada parecido.A chuva para de uma vez, como se nunca tivesse acontecido, e o sol surge como um glorioso holofote, está tão forte que minhas roupas secarão em menos de 10 minutos. Resolvo usar o óculos de sol que veio em minha bolsa, mas estranho às linhas vermelhas e marcas que eles deixam, então os tiro rapidamente e coloco no topo da minha cabeça, serve como tiara para segurar meus fios rebeldes que estão se soltando do rabo de cavalo.
Uma borboleta colorida vem em minha direção, suas asas são azuis com detalhes em preto. Ela é tão bonita. Fico a encarando até que ela pousa em meu joelho coberto. Um sorriso nasce em meu rosto, e penso em Zyan. Meu irmãozinho ama qualquer tipo de coisa que voa, até mesmo às moscas, ele diz que se nós somos os animais racionais, somos burros porque elas sempre conseguem escapar da gente.
A borboleta voa novamente, e dessa vez pousa em meu dedo, fica passeando entre eles e eu rio um pouco.
Pulo de susto quando escuto um tiro de canhão, a borboleta voa e some entre às árvores. Mais uma morte, mais próxima do final. Quantos já foram? Quantas mortes eu perdi enquanto estava dormindo? Vejo a nave que pega os corpos bem abaixo de onde estou, perto do campo vasto onde fica a cornucópia. Então sei quem o que matou está por lá. Terei que esperar até a noite para ver quais morreram.
Meu medo é que tenha sobrado apenas os carreiristas, eles estarão juntos e não terei como lutar contra todos eles.
Volto a andar até achar um novo local que servirá como esconderijo, já é quase noite. Dessa vez me arrisco e depois de mais ou menos meia hora, consigo subir em uma árvore de salgueiro. Uso a corda para me amarrar e eu não cair, e assisto o pôr do sol de camarote.
Entro em um pesadelo do qual acordo repetidamente apenas para achar um terror ainda maior esperando por mim. Todas as coisas que mais abomino, todas as coisas que mais temo que aconteçam com os outros se manifestam em detalhes tão vívidos que só posso acreditar que são mesmo reais. A cada vez que acordo, penso: Finalmente acabou, mas não. É apenas o começo de um novo capítulo de tortura. De quantas maneiras diferentes assisto à morte de Finnick; revivo os últimos momentos de meu pai; sinto meu próprio corpo sendo dilacerado?
A insígnia da Capital brilhando em cima da minha cabeça me acorda de vez, junto com o hino que soa em altos brandos. Então o rosto d0 garoto do 1 aparece. Me surpreendo de imediato. Os carreiristas já estão lutando entre si? Significa que a aliança acabou e se separaram? Se não estou enganada, ambos do Distrito 2 estão vivos ainda, e se não perdi nenhuma morte, sei que o garoto do 12 também está. Também pode estar vivo o garoto do 3.
Minha mãe já deve ter sido chamada para outra entrevista dos 6 finalistas, deve ter dito às mesmas falas robóticas, mas deve estar sem esperança. Qualquer um que está assistindo e torcendo por mim, deve saber que não tenho chances. O medo me assola. Tive tanta sorte com Peter, apenas porque ele estava desarmado, e mesmo assim sobrevivi por pouco, e não teria sem ajuda dos patrocinadores. Sou fraca demais e não sei nem mesmo o básico de defesa pessoal.
Minha comida está acabando, não saberei como me alimentar, ainda não achei frutas e nem nada do tipo. Pode durar ainda mais dias, mesmo com tão poucas pessoas.
Não consigo controlar minhas lágrimas, e me sinto ainda mais idiota, porque sei que a Capital me mostrará chorando. Não vou conseguir sobreviver, não vou voltar para casa. Penso na família de Peter me assistindo, ouvindo às coisas que ele disse, apesar de ser meu rival aqui, ele não teve escolha de nada disso. E ele estava certo em dizer que nunca teve chances, porque nunca teve. Finnick me escolheria de qualquer jeito, ele entrou nessa arena destinado à morrer.
O sangue ainda grudado em minhas unhas faz meu estômago revirar. Não posso vomitar, porque não tenho mais nada para comer. Devo estar matando todas às minhas chances de patrocínio agora mesmo, e Finnick deve estar querendo entrar aqui e me chacoalhar. Ninguém vai querer patrocinar alguém que está demonstrando fraqueza, mas não consigo evitar.
Com dificuldade, me ajeito tentando achar uma melhor posição. Um galho acima da minha cabeça faz os óculos cairem em meu rosto e eu me assusto de imediato com o que descubro. Consigo enxergar com clareza todas às coisas que compõem o lugar que estou, o breu sumiu e todos os lugares são claros.
— Óculos noturnos...— sorrio com a descoberta.
Não os tiro e não paro de observar à noite, mas aparentemente não há ninguém perto de mim, o que me deixa um pouco relaxada e tranquila o suficiente para cochilar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
70° edição dos Jogos Vorazes
FanficPerto de completar seus tão esperados 19 anos, Malia Dareaux estava contente por ser seu último ano sendo obrigada a escrever seu nome para ser sorteada como Tributo para os Jogos Vorazes. Ela sabia que depois desse fatídico dia, não teria mais que...