Capítulo 53

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Coin quer que eu realize um pontoprop para ser exibido em todos os Distritos. Tenho dificuldade de assimilar suas palavras, minha mente meio retardada pela quantidade de analgésicos que roubei de alguém aleatório na ala médica. Ela repete mais algumas vezes que tenho o dever de ajudar, assim como Katniss está fazendo, é a minha função como Vitorioso mostrar meu rosto frente a revolução e ao lado do Tordo. Suas palavras são bem escolhidas, sei exatamente o que ela quer dizer. Coin não está pedindo que eu ajude, está mandando.

— Não é nada fora do normal, Finnick — Plutarch chama a minha atenção com um estalo de dedos.— É como uma entrevista, serão algumas perguntas e você terá que dizer sua experiência nos últimos anos, assim como reforçar os discursos de Katniss.

Eu rio levemente, observando meu dedo indicador tocar o vidro escuro seguidamente. A sala está com meia dúzia de pessoas que não conheço, todos me olhando com expectativa.

— Garoto propaganda lá, garoto propaganda aqui — cantarolo baixinho.

— Finnick, você precisa levar isso a sério. — uma pessoa ao fundo diz, não a reconheço, portanto ignoro.

— Vamos começar às gravações em uma hora, uma equipe virá arruma-lo e revisar suas falas. — Plutarch diz. — Cressida vai comandar às perguntas e te auxiliar, Castor vai cuidar das gravações...

— Eu sei como funciona isso. — eu o corto. Maneio a cabeça encarando a mulher com a cabeça raspada na lateral, e então o homem ao seu lado de cabelos escuros. — Vamos logo com isso.

Sou guiado para uma sala em um corredor distante, me obrigam à tomar uma ducha, o que até me faz muito bem já que nem mesmo lembro a última vez que tomei um banho. Eles amparam um pouco do meu cabelo que cresceu desde a última vez que Cora cortou, cuidam da minha barba e das minhas olheiras pronunciadas. Sou colocado em uma roupa preta, um uniforme de como eu seria se fosse para a luta e todas essas outras coisas.

— Já vi algumas entrevistas suas na Capital. — Cresseida diz. — Você parecia realmente inerte naquele mundo, como se fosse nascido lá. Não terá dificuldades de fingir aqui.

Eu à encaro mais uma vez e preciso de poucos segundos para reconhecer-la.

— Você é da Capital, não é?

— Achei que não me reconheceria — ela abre um sorrisinho enquanto ajeita às fivelas do meu traje. — Eu trabalhava como diretora de filmagens em programas televisivos, a maioria você compareceu, enganou o público com seu charme, chamou atenção de todos... e até mesmo quebrou todos os climas tensos que Malia instalava.

A lembrança me tira um sorriso. Malia e eu anualmente éramos convidados (obrigados) a comparecer em programas televisivos de culinárias, entrevistas, talk-shows e todas essas baboseiras. A população gostava de nos ver juntos e saber que ainda estávamos juntos. Malia odiava cada segundo e não se importava em disfarçar, então eu sempre estava lá para contornar suas falas grosseiras ou faze-la rir quando ficava com a cara fechada. Ela ganhou fama de raivosa em pouco tempo, e odiava quando algum entrevistador fazia piada com isso.

— Malia nunca gostou de aparecer na televisão. — eu comento baixo.

Pensar nela dói, pensar em nossas lembranças mais ainda. Sinto tanta saudade que não parece ser possível. De repente, quero sair desse studio e voltar para a ala médica, lá pelo menos eles não me fazem falar e me drogam o suficiente para silenciar meus pensamentos.

— Ela vai voltar, Finnick. — Cresseida diz.

Eu não respondo.

Deixo que terminem de me arrumar, que me conduzam até uma sala, decoro todas às minhas falas e quando às palavras saem da minha boca é natural, tenho que parecer sério e determinado pela causa.

(...)

— O que está fazendo? — Cora pergunta quando entra no quarto. — Esqueceu algo?

Faz alguns dias que não à vejo, ela me olha com preocupação, mas não faz nenhuma pergunta. Minha irmã June está logo atrás dela, me olhando também.

— Pensei que você pudesse ter trago alguma foto dela. — murmuro baixinho deixando a caixa que peguei no lugar. — Se tiver trago... eu prometo devolver, apenas...

Não consigo concluir, estou me desmanchando em lágrimas na frente das duas, e agradeço que não tem mais ninguém para olhar. Eu caio sentado na cama de alguém e escondo meu rosto entre às mãos, procurando me acalmar de alguma forma.

— June, querida, o que acha de ir se juntar a Zyan na sala de artes, hum? — escuto Cora falar.

— Não quero sair, mas sei que vão conversar.— minha irmã murmura baixinho.— Cuida dele.

Ouço o som da porta se fechando, e os passos de Cora pelo quarto. A última coisa que eu queria era demonstrar como estou perturbado na sua frente. Cora é mãe dela, já possui preocupações demais com o estado da filha, não é como se eu pudesse ser mais um problema em sua vida.

— Aqui, filho.— ela diz baixo, tocando em meu braço. — É uma das minhas favoritas.

Cora está segurando uma pequena foto da minha noiva. Pego da sua mão e analiso mais de perto, sentindo meu peito apertar quase ao ponto de ser esmagado. Malia está distraída na foto, com Zyan nos braços, sua cabeça está deitada para trás em meio a uma gargalhada, os olhos fechados. Eu quase posso ouvir o som da sua risada apenas de olha-la.

— Essa aqui ela está linda.— ela diz e me entrega outra.

Malia está olhando para foto, um sorrisinho lindo que mostra sua única covinha na bochecha. O flash faz seus olhos azuis ficarem ainda mais claros, suas bochechas vermelhas. Ela parece feliz de uma forma que não vejo a algum tempo.

— Eu sinto tanta falta dela.— sussurro.

— Eu também, Finnick.— Cora diz. Ela chama minha atenção puxando meu rosto.— Mas estou preocupada com você, filho, assim como seus irmãos também estão... eu sei que sente falta dela, das duas, sei que está preocupado... mas você está se afundando aos poucos. Malia não ia querer ver você assim.

Quero dizer que não importa o que ela queira ou não, porque ela não está aqui, não está aqui para gritar comigo, não está aqui para conversar, para dizer o que pensa, ela simplesmente não está aqui.

— Não posso pensar nela... porque tudo dói e eu tenho a sensação que estou morrendo.— eu digo, sem conseguir controlar minhas lágrimas ou o embargo em minha voz. — Eu fiz tudo, tudo que podia para manter às duas em segurança, e no final não valeu de nada, Cora. Eu às perdi. E-e todas às vezes que eu fecho os olhos eu à vejo em sofrimento, todas às vezes que durmo sem os medicamentos tenho pesadelos com ela. Não sou forte para lidar com isso, não sou.

Não há nada que Cora possa dizer para afastar minha dor, e ela sabe disso, deve passar por coisa semelhante. Sou abraçado por ela, e retribuo a apertando da mesma maneira, ela sussurra várias coisas que eu não acredito, diz que ficará tudo bem, que Malia voltará para nós, que em breve tudo isso não passará de uma terrível lembrança, mas que estaremos todos juntos.

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