Acordo em um lugar comum para mim nos últimos dias. Meus membros estão todos rígidos e, minha mente está um turbilhão, pisco os olhos várias vezes para o teto cinzento diante de mim. Escuto os batimentos cardíacos do meu coração soarem na máquina infeliz ao meu lado. Minha cabeça dói e é de praxe quando sinto minhas lágrimas molharem meu rosto, me encolho mais na cama do hospital e fecho meus olhos deixando todos os pensamentos me consumirem.— Você é um idiota, Finnick.— a voz de Theo soa irritada.— Virou um viciado ou coisa assim?
— O que eu estou fazendo aqui? Eu estava no quarto com Caio.— resmungo baixo, minha voz saindo áspera.
— Isso foi há quatro dias atrás, até que você teve mais uma crise durante a madrugada, veio para cá e acordou, e então roubou morfináceos e ejetou em seu braço.— ele conta, a voz cheia de raiva.— Não há ninguém aqui feliz com você, ninguém. Esse pouco estoque que eles possuem são para pessoas doentes de verdade, você está usando tudo!
Eu nem mesmo lembro do ocorrido, mas não quero pronunciar isso em voz alta e dar mais um motivo para acharem que estou fora do controle. Quero pedir mais uma dose, mais um pouco, apenas para que meu corpo relaxe uma última vez, que eu tenha um último sono sem sonhos. Não quero fechar os olhos e ver Malia, não aguento mais, minha mente não me dá sossego em nenhum momento do dia.
— Irmão, nós queremos te ajudar, mas você precisa cooperar.— Davi diz, eu sinto sua mão mexendo em meus cabelos. — Isso que aconteceu aqui não pode mais, ok? Tudo é fracionado, você sabe disso.
— Desculpa. — eu murmuro, mesmo que não me importe se meus atos respigarão em outras pessoas.— Eu só preciso de mais um pouco,
só mais um pouco, uma última vez.Escuto Theo bufar e seus passos se distanciarem. Meu irmão mais novo ajeita o coberto em cima do meu corpo, e me olha com pena.
— Katniss esteve aqui, novamente... mas ela tinha notícias.— Davi diz. — Notícias que você vai querer ouvir.
— Não me importo com nada que ela tenha a dizer, essa rebelião, revolução, seja lá o que for, pode explodir pelos ares.— eu fecho meus olhos, me preparando para me lamuriar novamente.
— Finnick, você precisa conversar com ela. — ele insiste. — É sobre Malia, Johanna, Peeta... faz um esforço.
Um alerta acende em meu cérebro. Só há duas opções, ou todos estão mortos, ou todos estão vivos. Mas esse último fato também não me alegra tanto, porque não há a mínima chance de estarem tendo dias bons naquele lugar. Pelo tempo que passou, Alice já deve ter nascido, isso se estiver viva, não que à gravidez impedisse qualquer ato contra a vida da minha noiva, não como se Snow tivesse piedade dela.
— Onde Katniss está? — eu me sento devagar,
mas sou rápido em arrancar o fio plugado em meu braço.— Rápido, Davi!— Ela saiu com alguns soldados rumo ao Distrito 8, devem voltar em algumas horas.
— Então que me dissesse isso daqui algumas
horas! O que vou fazer até lá? — eu me irrito facilmente e salto da cama do hospital sem ter ideia do que fazer até Katniss voltar.(...)
Katniss em algum momento decidiu me perdoar pela minha participação em todo plano em arranca-la da arena e usa-la como símbolo de revolução. Ela costumava a passar tardes comigo, nós dois em silêncio compartilhando o mesmo pesar. Sua melhora não foi repentina, acompanhei aos poucos, mas ainda assim não é a versão que conheci na Capital, é mais como uma casca oca e sem esperanças.
Pelo meu reflexo no retrovisor, não me acho diferente. Meus cabelos estão aparados, graças a Cora que insistiu em me deixar com uma aparência melhor, meu irmão Davi em algum momento aparou minha barba. Mas nada consegue disfarçar minha perca de peso e olheiras embaixo dos olhos, meu rosto pálido e sem nenhum aspecto de melhora.
Eu termino de me lamuriar e vou direto para o chuveiro, coisa que não vejo há dias. O local não é privado, pelo contrário, há outros homens tomando banho aqui nesse exato momento, mas não é como se eu não tivesse sido acostumado a ter pessoas estranhas me olhando despido.
Meu outro irmão, Tyson, está no corredor, me esperando, seus cabelos estão úmidos e eu rapidamente reparo o quanto ele cresceu nos últimos meses. Tenho a leve percepção que todos se dividiram para cuidar de mim, até porquê não teria outra razão para Tyson sair do conforto do seu quarto e parar de se perder em seu mundinho de artista. Tenho certeza que se ele tivesse nascido na Capital, seria alguma coisa bem milionária com o tanto de talento que possuí.
— Você não precisa me seguir, sabe? Estou indo falar com Katniss, não vou ir para a enfermaria.— eu resmungo.
— Não estou seguindo, maninho.— Tyson diz, me seguindo.— Estou te fazendo companhia.
— Não é companhia se você não fala.
Ele não diz nada para me contrariar. Eu o ignoro e desço às escadas em direção ao refeitório, meu relógio esquisito que me obrigam à usar não para de apontar loucamente que é hora da refeição. Sei que todos devem estar lá, então talvez Katniss também deva estar.
Katniss realmente está lá, sentada em uma mesa, cabeça baixa enquanto devora o menu de hoje. Eu entro na fila e me sirvo de alguma gororoba que não dou atenção. Ando até sua mesa e ignoro a presença constante de seu amiguinho de Distrito que costuma a olhar feio todas às vezes que qualquer um se aproxima dela, como um cachorro raivoso ou coisa assim.
— Oi Katniss.— eu me sento ao seu lado.
Katniss abre um mínimo sorriso para mim, seus olhos estão tristes e avermelhados, e eu imagino que sua visita ao Distrito 8 não tenha sido lá essas coisas.
— Finnick, você está deixando todo mundo preocupado.— ela diz, largando o garfo.— Está bem?
Maneio a cabeça e dou de ombros.
— Me falaram que você me diria notícias sobre Malia e os outros.— eu murmuro.
Gale está me encarando fixamente, tenho certeza que em algum minuto ele vai urinar em Katniss para marcar território. Um sorriso surge em meu rosto assim que penso que ele teve que assistir todos os beijos de Peeta e Katniss e não pôde fazer nada além de olhar. Babaquinha.
— Você não estava aqui, mas Peeta apareceu em uma entrevista com Caesar.— ela diz, e apenas de mencionar o garoto seu olhar morto se torna um pouco mais vivo.— Ele estava bem.
Quero chacoalha-la e perguntar o que isso tem a ver com a minha noiva.
— É ele estava ótimo declarando estar ao lado da Capital e pedindo para os rebeldes desistirem de tudo.— Gale diz do outro lado da mesa.
— Você é burro ou o quê? — ergo às sobrancelhas em sua direção.— Ele está na Capital, não em um parque de diversões, se ele disser uma palavra ou frase que não seja do agrado de Snow ele vai sofrer às consequências por isso.
Katniss olha feio na direção de Gale, e abre um sorriso curto na minha direção.
— Concordei em ser o tordo que eles tanto querem, mas fiz algumas exigências.— ela continua, para mim.— Na primeira oportunidade que houver, assim que for possível, vamos buscar todos os Vitoriosos que estão lá.
— Como sabe que os outros estão vivos? — eu pergunto, não tendo muita esperança.
— Não sabemos... mas devem estar, Haymitch acredita que serão usados em um futuro próximo. Snow quer que os Distritos vejam cada um deles como parte da Capital, querem que os Vitoriosos desmotivem os levantes.— ela diz.— O Distrito 4 é um dos mais ricos, às palavras de Malia podem ser úteis para eles.
Não estou tão convencido com a ideia quanto Katniss, ela tenta me convencer que os trarão de volta, mas em algum momento suas palavras começam a entrar em um ouvido e sair por outro. Eu termino minha janta e me despeço dela, volto para meu dormitório e termino minha noite lá.
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70° edição dos Jogos Vorazes
FanficPerto de completar seus tão esperados 19 anos, Malia Dareaux estava contente por ser seu último ano sendo obrigada a escrever seu nome para ser sorteada como Tributo para os Jogos Vorazes. Ela sabia que depois desse fatídico dia, não teria mais que...