Capítulo 64

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Em poucos minutos alcançamos outro prédio vazio a quarteirões de distância onde ocorreu o ataque da onda negrume. O apartamento parece ter sido decorado exatamente da mesma maneira que o primeiro, no qual entramos para buscar refúgio. Ao longo do corredor, existem dois quartos com banheiros. Uma escada em espiral na sala de estar leva a um espaço aberto que compreende grande parte do segundo andar. Não há janelas aqui, mas as luzes foram deixadas acesas, provavelmente por alguém fugindo precipitadamente. Uma gigantesca tela de TV, desligada, mas brilhando suavemente, ocupa o centro presa ao teto. Cadeiras sofisticadas e sofás encontram-se espalhados pela sala. É aqui que nos reunimos, nos jogamos em cima de tapeçarias, tentamos recuperar o fôlego.

Peeta está apagado em cima do sofá após ter sido nocauteado por Gale e arrastado até aqui. Simon está com Malia em um canto, oferecendo água e conversando tão baixo que não consigo ouvir de onde estou montando guarda. Meu coração se acalma quando à vejo dar um micro sorriso e beber alguns goles de água. No momento em que percebo a complexidade da bagunça em que nos metemos, uma série de explosões ao longe faz com que a sala trema.

— Não foi perto daqui — assegura Jackson. —
A uns quatro ou cinco quarteirões daqui.

— Onde a gente deixou o Boggs — diz Leegs

Embora ninguém tenha feito nenhum movimento naquela direção, o aparelho de TV ganha vida, emitindo um som bem agudo e fazendo com que metade de nosso grupo se ponha de pé.

— Está tudo bem! — fala Cressida. — É apenas uma transmissão de emergência. Toda TV da Capital é ativada automaticamente quando isso acontece.

Me jogo no sofá em que Peeta está desacordado e encaro o telão. Lá estamos nós na tela, logo depois que a bomba acabou com Boggs. Uma voz ao fundo narra para a audiência o que está vendo enquanto aparecemos tentando nos reagrupar, reagir aos esguichos de gel preto da rua, não perder o controle da situação. Assistimos ao caos que se segue até a onda escurecer as câmeras. A última coisa que vemos é Gale, sozinho na rua, tentando atirar através dos cabos nos quais Mitchell está pendurado.

A cobertura continua do pátio atrás do apartamento onde nos abrigamos. Pacificadores estão alinhados no telhado em frente ao nosso esconderijo anterior. Projéteis são lançados na direção da fileira de apartamentos, desencadeando a explosão em série que ouvimos, e o prédio desaba numa pilha de entulho e poeira.

Agora há um corte para um noticiário ao vivo. Uma repórter está de pé no telhado com os Pacificadores. Atrás dela, o quarteirão de prédios de apartamentos está em chamas. Bombeiros tentam controlar o fogo com mangueiras. Nossa morte é dada como certa.

— Finalmente um pouco de sorte — diz meu irmão.

Acho que ele tem razão. Certamente é melhor que sermos perseguidos pela Capital. Mas fico só imaginando como isso estará repercutindo no 13. Onde meus irmãos, Cora e Zyan, Haymitch e várias outras pessoas do 13 pensam que acabaram de nos ver morrendo.

— Então, agora que a gente está morto, qual é o próximo passo? — pergunta Gale.

— Isso não é uma coisa óbvia? — ninguém sabia que Peeta recuperara a consciência. Não sei há quanto tempo ele observava tudo, mas a julgar pelo olhar de tristeza em seu rosto, tempo suficiente para ver o que aconteceu na rua. A maneira como enlouqueceu, tentou quebrar a cabeça de Katniss e jogou Mitchell no casulo. Ele se senta com um esforço doloroso e dirige suas palavras a Gale. — Nosso próximo passo... é me matar.

— Deixe de ser ridículo — diz Jackson.

— Acabei de matar um membro do nosso esquadrão! — grita Peeta.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora