A tampa do tubo é fácil de abrir. Uma escada íngreme com degraus metálicos permite uma descida dificultosa em direção aos intestinos da cidade. Todos se reuniram ao pé da escada, esperando os olhos se ajustarem às réstias de luz, respirando a mistura de produtos químicos, bolor e esgoto. Pollux, pálido e suado, se aproxima e agarra o pulso de Castor. Como se pudesse cair se não houvesse alguém para ampará-lo.— Desça com cuidado — Finnick diz estendendo a mão para mim, degraus abaixo.
Eu escuto Castor explicando a situação de Pollux, de quando ele era um avox e era obrigado a trabalhar nos túneis da cidade. Me sinto presa em segundos e tenho pena da situação que ele era obrigado a viver.
Eu mal consigo lembrar de como chegamos ali, o que levou o nosso grupo à decidir o caminho por baixo, mas lembro rapidamente que estamos todos considerados como mortos, e aquela sem dúvidas é a escolha mais sábia. Depois que eu acordei em um quarto desconhecido, meu marido estava lá para me acalmar e fazer minha cabeça voltar para o lugar. Não lembro de muita coisa depois que vi Alice na televisão, apenas sei pela forma que todo mundo me encara e como Simon e Finnick estão grudados em mim, que não deve ter sido nada bonito de lidar.
— Levamos cinco anos e muito dinheiro para conseguir levá-lo de volta à superfície. Não viu a luz do sol uma única vez nesse tempo todo. — Castor termina de falar a respeito do seu irmão.
Em condições melhores, num dia com menos horrores e mais descanso, alguém certamente saberia o que dizer. Em vez disso, ficamos todos ali parados por um bom tempo, tentando formular uma resposta.
Finalmente, Peeta vira-se para Pollux e diz:
— Bom, então você acabou de virar o nosso ativo mais precioso. — Castor ri e Pollux consegue exprimir um sorriso.
Peeta definiu muito bem. Pollux acaba se provando mais valioso do que dez Holos. Há uma rede simples de amplos túneis que corresponde diretamente ao mapa da rua principal acima, subjacente às principais avenidas e cruzamentos. É chamado Transferência, já que pequenos caminhões o utilizam para fazer entregas de mercadorias por toda a cidade. Durante o dia, seus muitos casulos são desativados, mas à noite o local é um campo minado. Entretanto, centenas de passagens adicionais, poços de serviços, linhas férreas e tubos de esgoto formam um labirinto de múltiplos níveis. Pollux conhece detalhes que acarretariam desastres para um novato, como por exemplo, quais plantas poderiam exigir o uso de máscaras de gás ou conter fios eletrificados ou ratazanas do tamanho de castores.
Sob a orientação de Pollux, fazemos um bom tempo – um ótimo tempo, se compararmos com a viagem na superfície. Depois de mais ou menos seis horas, a fadiga toma conta do grupo. São três da madrugada, de modo que imagino que ainda tenhamos algumas horas antes de darem pela falta de nossos corpos, de darem uma busca pelas pilhas de entulho em todo o quarteirão de apartamento, caso tivéssemos tentado escapar através dos poços, e de a caçada ter início.
— Aqui, está quase fresco — Simon ergue o braço para me entregar uma lata de sopa cheia.— Você não comeu nada no apartamento.
Não comi nada porque estava novamente agindo como uma louca e ficando fora do controle. Eu ergo minha mão e pego o pote de metal, abrindo um sorriso em agradecimento. A sopa é de galinha com legumes e arroz, não é nada saborosa, mas serve para acalmar meu estômago. Eu como devagar, temendo fazer barulho e acordar Finnick que finalmente dormiu com a cabeça em meu colo. Simon me conta que ele ficou acordado todo tempo em que eu dormia, como ele sempre faz.
Coloco a lata ao meu lado e deslizo meus dedos em seu rosto, devagar, afastando os fios grudados e suados em sua pele. Finnick suspira baixinho, a boca entreaberta e um respirar tranquilo e regulado. Ele não está tendo pesadelos.
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70° edição dos Jogos Vorazes
FanficPerto de completar seus tão esperados 19 anos, Malia Dareaux estava contente por ser seu último ano sendo obrigada a escrever seu nome para ser sorteada como Tributo para os Jogos Vorazes. Ela sabia que depois desse fatídico dia, não teria mais que...