Estou ao lado de Peter quando cruzamos o último túnel. Meus olhos não deixam à janela do vagão, estou impressionada com a magnitude que é Capital, o tamanho dos prédios e formatos irregulares. Estamos desacelerando quando eu começo a notar a série de pessoas que estão aglomeradas com cartazes. Me surpreendo ao ver meu rosto, a imagem mostrada no telão quando fui chamada como tributo. Foco em um garotinho dos olhos puxados, a peruca é azul, ele está acenando em minha direção, balanço meu braço acenando de volta, abrindo um sorrisinho. A multidão grita nossos nomes.— Quantas pessoas...— Peter sussurra. Ele começou a falar apenas nessa manhã, uma fala simples, mas que pareceu totalmente ensaiada, como se ele tivesse se preparado muito para me pedir para passar o prato com panquecas.
Não o respondo, apenas encaro a multidão. Eles estão felizes por nós ver, felizes por ver quem os entreterá nos próximos meses, felizes por apostarem em qual de nós saíra vitorioso. Minha mão cai ao lado do meu corpo, estou irritada, me afasto do vidro e me jogo no sofá. Peter continua na janela, acenando para todos.
— Você precisa conquistar-lós também.— Fenty, minha estilista diz. Ela está ocupada o suficiente com um portfólio em suas mãos, quando perguntei se era meu vestido de apresentação que ela desenhava, ela me disse que esse já estava pronto à semanas. Pedi detalhes, curiosa, mas ela apenas abriu um sorriso limpo e me disse que era surpresa.— Você é bonita, mas não o suficiente para se tornar arrogante.
Aí.
— Não estou sendo arrogante... também não me importo com aqueles. São os patrocinadores que preciso impressionar.— murmuro, meus braços cruzados na altura do peito. Ela tira o olho da pasta e me olha, observo a cor anormal, o único traço diferente que foi modificado em seu rosto, são de cor verde-neon vivido, como olhos de gato. É assustador.— O quê?
Fenty sorri e desvia o olhar, sua mão se movendo delicadamente no papel riscado de esboços. Observo por alguns segundos, mas então olho para Peter que se aproxima e se senta ao meu lado. Estou prestes a falar alguma besteira quando a porta desliza e Mags passa por ela, uma bandeja com frutas e uma tigela de chocolate, ela se senta em um sofá e sorri para todos nós quando passa. Me levanto e a sigo.
— Mags... queria falar com você.
Seus olhos estão em mim, um azul claro cor do céu, ela sorri e indica para eu me sentar ao seu lado, seus dedos enrugados seguram os meus. A culpa se instaura em meu peito, me sinto uma pessoa horrível por gritar com uma velhinha que está ali a tempo demais. Quantas crianças ela já se apegou apenas para ver morrer? Quanta coisa passou com aqueles da Capital? A maior mentira inventada é que se você é um Vitorioso, vai ficar em paz pela vitalidade, vai morar na aldeia dos vitoriosos e ficar lá para sempre. Eu sei que é mentira, sei que todo ano são arrastado para vivenciarem suas piores memórias, tragos para a Capital porque são adorados pelo povo que não os conheço. A única exceção que conheço é Finnick, que escolheu morar em uma cobertura chique da Capital, perto daqueles que apostaram sua vida.
— Me desculpe por gritar... e por xingar você.— falo, sem conseguir olhar em seus olhos.— Sei que não há justificativa, mas estou tensa e nervosa com tudo que está acontecendo, falo besteira às vezes, mas estou arrependida.
Mags segura meu queixo e me faz olha-la, ela se aproxima de mim e seus lábios finos tocam os meus em um beijo rápido. Estou com os olhos arregalados, ela acabou de me beijar. Ergo a cabeça e a vejo rir, assim como uma risada atrás de mim. Finnick passou pela porta nesse segundo, mas deve ter visto à cena pelo vidro transparente, ele se aproxima de nós duas com um sorriso grande. Meu rosto queima com a lembrança da noite anterior, assim como a cena que acabou de acontecer, estou tão confusa que não sei o que pensar.
— Alguém juntou o orgulho.— ele diz, me provocando. A vergonha passa e meus olhos se reviram, empurro de leve seu ombro para que ele saia de perto de mim e me levanto.— Os dois estejam preparados, comam agora, porque ficarão algumas horas submetidos a sua equipe de arrumação.
Finnick aperta um botão em algum dispositivo que carrega, eu o encaro confusa, e ele pisca um dos olhos para mim. Metido. Poucos minutos depois um avox surge empurrando um carrinho cheio de alimentos. Mais comida! Meus olhos brilham e eu estou em pé, perto do carrinho, enchendo um prato das mais variáveis coisas. Me sento com Peter que também está comendo, ficamos meio agitados perto um do outro.
Quando chegamos, sou levada diretamente por Fenty para um caminho que obviamente desconheço. Estou em um elevador e mal consigo acompanhar a velocidade que o cenário muda. Uma porta se abre e estou imediatamente em uma sala. Três pessoas me encaram com sorrisos assustadores. Os dois homens possuem cabelos ruivos com mechas douradas, a mulher o cabelo dourado com mechas ruivas. Sei que eles não precisam se vestir combinando, eles escolheram estar daquele jeito.
— Ela está nas mãos de vocês. — Fenty me empurra.
Eu dou um pulinho de susto quando mãos me agarram e gritinhos soam. Estão falando todos ao mesmo tempo, minhas roupas são arrancadas, não tenho tempo para me sentir constrangida, estão me esfregando com força com uma esponja rosada. O cheiro de colônia cara preenche o ar.
— Você é tão bonita, vai ficar ainda melhor.— um dos ruivos diz, ele esta com um sorriso que me dará pesadelos.— Sou Steve, ela é Gina... e o meu irmão é Pall.
Irmão... gêmeos também? Começo a reparar as semelhanças que os três tem em comum, não são gêmeos, são trigêmeos. Imagino a benção que isso deve ser considerado na Capital, nos Distritos ia ser considerado um castigo, o triplo de chances de perder um filho. Não escuto nada do que falam, não me importo. Sou colocada em uma maca, meus pelos são arrancados em todos os lugares, até mesmo em minha virilha, me sinto exposta demais. Minha pele fica sensível e pinicando.
Meus longos cabelos são cortados na altura de minha cintura, estão sendo secados com um secador, reconheço pelas propagandas, porém nunca vi um pessoalmente. Minhas mechas onduladas se tornam lisas, apenas para que eles façam cachos mais definidos, duas tranças seguem de cada lateral perto da minha orelha e são presas atrás da minha cabeça. Uma tiara com vários adereços é colocada em minha cabeça, pintam meu rosto de uma maneira que pareço mais velha do que sou, a cor é clara mas uma sombra preta está na língua d'água, destacando a cor cinzenta.
Nunca me senti tão bela e ao mesmo tempo ousada. Pareço com a minha mãe mais do que tudo.
— Pall achou melhor exibir suas sardas e todos concordamos, é fofo.— Gina diz, me olhando de um jeito carinhoso, do mesmo jeito que se olha para um gato ou cachorro fofo. Sou a bonequinha deles.
— Você vai chamar toda atenção com certeza! — Pall ou Steve diz, não consigo diferencia-los.
— Obrigada... me sinto bonita.— falo pela primeira vez e eles gritam novamente em meu ouvido.
— Vamos leva-la a Fenty agora, depois quero algumas fotos com você.— Pall ou Steve diz.
Eles não parecem muito inteligentes, Maven e eu agíamos da mesma forma com nossas poucas bonecas, quando conseguíamos um vestido novo ou glitter.
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70° edição dos Jogos Vorazes
Hayran KurguPerto de completar seus tão esperados 19 anos, Malia Dareaux estava contente por ser seu último ano sendo obrigada a escrever seu nome para ser sorteada como Tributo para os Jogos Vorazes. Ela sabia que depois desse fatídico dia, não teria mais que...