Capítulo 56

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O beep constante da máquina que exibe os batimentos cardíacos de Malia é a única coisa que escuto durante à madrugada. Horas se passaram desde que os vitoriosos foram resgatados, desde que o corredor era movido por gritarias e pedidos por ajuda dos feridos. Ainda consigo ouvir os berros de dor, consigo ouvir os médicos e auxiliares gritando ordens. É tudo muito familiar para que eu não me sinta incomodado.

Mesmo em sonhos carregados pelos remédios, Malia não para de sussurrar pedidos sôfregos por ajuda, não para de chamar meu nome e implorar para que eu apareça. Ela parece tão diferente, tão machucada por dentro que temo que ela nunca fique bem. Às coisas que ela deve ter passado.
Meu estômago se contorce apenas de pensar. Não consigo afastar a dor, não consigo controlar o tremor que começa em minhas mãos e se espalha aos poucos pelo meu corpo.

— Eu sinto muito, sinto muito — repito para o vazio, meus dedos acariciando sua bochecha pálida. — Nunca mais tirarei meus olhos de você, eu prometo.

É inevitável não pensar no que aconteceu com nossa filha, inevitável não notar a ausência em seu corpo, e como está diferente desde a última vez que eu a vi. Não consigo não pensar no pior, não pensar que o que ela passou foi tão forte a ponto de faze-la perder nossa filha.

Não sei quanto tempo se passa, quantos minutos ou horas até que uma enfermeira abre à porta e a segura entreaberta. Cora passa por ela, ofegante, como se tivesse corrido para chegar aqui. Seus olhos arregalados e a mão sobre o peito como se precisasse de ajuda para respirar. Ela corre em nossa direção, na direção de Malia.

— Não consegui avisa-la antes que ela tinha chego — eu digo.

— Você está aqui! Está aqui! — ela repete enquanto abraça minha noiva.— Minha bebê, meu passarinho... eu fiquei tão preocupada...

Cora me enche de perguntas sobre o estado da filha, sobre como eles a resgataram, se ela está bem, sobre o que ela passou na Capital. Cora me pergunta sobre nossa filha, e a ausência de todas às minhas respostas é tudo que ela precisa para concluir o pior. Não consigo consola-la quando ela se desmancha em lágrimas, não consigo fazer nada, porque eu mesmo não sei como lidar com tudo isso.

— Malia não disse nada, ela não conseguia falar nada apenas me dizer que tinha perdido nossa filha.— eu digo, enquanto enxugo meu rosto com às costas da minha mão. — Ela estava alterada e nervosa... estava se machucando.

— Eles a sedaram? — ela pergunta e eu assinto. — Quanto tempo para ela acordar?

— Eu não sei.— sussurro.

Nós ficamos em silêncio, vendo-a dormir em um sono perturbado. Mais horas se passam até que os relógios em nossos pulsos anunciam a hora do café da manhã. Cora se dispõem a buscar para mim, ela diz que precisa ver às crianças, mas promete que voltará logo.

Uma enfermeira entra assim que Cora sai, pega mais amostras de sangue e troco o soro que está no acesso a veia da minha noiva.

Eu estou quase cochilando quando a mão de Malia aperta à minha levemente, ela geme e se move devagar, resmungando baixinho. Me levanto da poltrona de imediato, me inclinando sobre sua cama para olha-la.

— Lia? Está acordada, meu amor? — eu pergunto, meu tom baixo para não assusta-la.

Malia abre os olhos, às pupilas dilatas, o olhar apavorado. Ela começa a olhar tudo envolta e levanta o braço, segurando em seus pulsos como se estranhasse a ausência de algo a prendendo na cama. Quando finalmente seus olhos batem em mim, ela sorri e começa à chorar, mas não para de me olhar.

70° edição dos Jogos Vorazes Onde histórias criam vida. Descubra agora