Capítulo 113

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Nunca havia tocado a emoção com a palma das mãos, mas acariciar as inscrições milenares transcendia o extraordinário. Fechou os olhos por breves segundos, respirou fundo e começou a leitura dos símbolos mediadores entre a mente Divina e o mundo criado.
        O 1º Livro falava sobre o começo e o fim:
Deus criou o Homem a um milhão de anos atrás dotado de vontade e programou o seu desenvolvimento alternando a vida e a morte.
         Homens bons e homens maus se perpetuaram por milênios, porquê mesmo praticando o mal e ficando milhares de anos no Inferno, era permitido que o espirito se elevasse e voltasse a reencarnar neste mundo.                       Isso veio se repetindo até hoje, por isso dizia-se que o espirito era eterno.
         O incremento do elemento Fogo irradiado do Sol é inexorável, e tem um significado atemporal, o Homem não tem o poder de dete-lo. O Mundo Espiritual será desintegrado desde o fundo do Inferno até a ultima camada do Plano Intermediário até que só reste o Plano Superior e o Céu, onde somente Deus habita. Então no Mundo
só restarão os semelhantes à Ele.
        Quando o elemento Fogo chegar ao máximo, as pessoas irão cair uma após a outra e seus espíritos serão desintegrados para sempre, as almas serão queimadas.
Quando o espirito for queimado, iniciando pelos pés,  a dor, o calor, o sofrimento serão indescritíveis.  E mesmo que ainda reste uma pequena parte do espirito, persistirá o sofrimento até queimar totalmente. Uma vez a alma sendo extinta, não voltará mais a nascer no Mundo Material; desaparecerá completamente. Isso é o Juízo Final. E esse momento está próximo.
        Ele tem nas mãos o direito sobre a felicidade, infelicidade, vida e morte de todos. Se fizerem o que Ele manda, infalivelmente, os salvará.
       O 2º Livro falava sobre ela:
        Quando a força que controla o Fogo redescobrir seu lugar na hierarquia Divina, liberará Seus mil braços, e o Mundo será habitado por seres divinos. Assim Deus ordenou.
         Onde nasce o Sol é o começo e o fim dos demais. A Deusa do Sol gerou um filho que se apaixonou pela deusa protetora do Monte Fuji, berço da Humanidade. Logo depois do casamento, ela engravidou e ele morreu. Isso causou dúvida em outros deuses que cogitaram que ela poderia ter engravidado de outro. Assim, para provar que não havia traído seu amado, entrou em uma cabana e tacou fogo nela. Disse que se a criança que carregava em seu ventre realmente fosse dele, nada lhe aconteceria de ruim. Quando o fogo arrefeceu ela saiu das cinzas carregando a criança nos braços. Diante seu poder, outros que temiam o fogo a perseguiram e para não ser morta, fugiu para o interior de uma montanha inexpugnável, nela permanecendo por Eras. E todos de bem que com ela fugiram tiveram por ela as mentes acendidas para sentiram doces brisas no frio congelante e iluminadas para enxergarem nas trevas cavernosas.
        Mas um dia, no desterro imposto, um calor ardente a fez despertar e viu um dragão dourado.
         Por muito tempo tinha se desviado do Caminho, por muito tempo tinha resistido ao combate, por muito tempo tinha esperado pelo sinal e, finalmente, as Portas do Céu se abriram e iluminaram o seu mundo mergulhado numa noite sem fim. Escreveu nas pedras sua impressão digital, para que quando retornasse para libertar os demais seres divinos que nela confiaram, pudesse reconhecer-se nas marcas deixadas, na história registrada. Partiu no
dorso do brilhante dragão e para ludibriar seus inimigos, pintou-se de velha.
     Ali estava o livro de sua alma. E ela soube, quando já não acreditava que pudesse haver alguma coisa, que Deus só escrevia por linhas retas. O Dono do Mundo tinha um jeito especial de contar Sua história e ela de ouvi-Lo.
Eles eram tão íntimos que pareciam um só, mas apenas pareciam, porquê todos o seres criados por Ele eram apenas partículas da Sua incomensurável grandeza.
        Como naquele convento desconhecido de todos, começou a ouvir sussurros e a ver sombras se movimentando pelas paredes da caverna. Como havia prometido há milênios, voltara para liberta-los; eles eram os mil braços de Deus.
        Tornou a tocar a rocha que começou a se abrir com um grande estrondo ao mesmo tempo que o chão se abria sob seus pés. E caiu num abismo sem fim.

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