Capítulo 7

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Adriano sentiu um arrepio percorrer seu corpo volumoso. O que teria ela para revelar que ainda não o tivesse feito? E que ele, como bispo, já não soubesse? Era um homem habituado as confissões dos fiéis e nunca sequer refletia sobre elas, mas eram desabafos de pessoas comuns, confusas, sofridas, a espera de uma palavra que as salvasse. Mas Salamandra não era, em absoluto, um ser humano comum!
Fora testemunha ocular de fatos extraordinários envolvendo-a e por isso tudo que se referia a ela lhe despertava um temor reverencial. Mistérios insondáveis envolviam a existência daquele ser singular, mistérios esses que extrapolavam qualquer explicação lógica. Mas ele agora precisava, melhor, dependia de desvendar esses mistérios e de confirmar a origem divina dela para evitar cair de vez no inferno.
- Diga-me alguma coisa que já não tenha me dito ou que eu já não saiba.
Ela balançou a cabeça, desolada. Por que as pessoas, ainda que religiosas, não conseguiam enxergar o que estava tão claro? Era só uma questão de olhar ao seu redor e observar.
Então retrucou:
- Por que não me pergunta exatamente o que quer saber? Seria mais fácil para mim e menos doloroso para você. – E fechou os olhos para em seguida reabri-los e fixá-los no homem a sua frente.
Adriano sentiu suas mãos levemente suadas. Também seu corpo suava e o suor começava ensopar sua batina. O diálogo com ela nunca fora fácil, mas naquela manhã estava especialmente difícil. De certa forma não sabia como perguntar aquilo que precisava saber. Quebrando o pesado silêncio que se estabeleceu, perguntou, já temeroso da resposta:
- Quem é você?
E ele a viu erguer a cabeça e era uma nova mulher, empertigada na cadeira, com os olhos fixos no espaço. Reconheceu aquele olhar vazio, e soube que ela estava distante do momento presente, resvalando para o passado ou para o futuro, nunca se sabia.
Salamandra lembrou da visão que tivera sobre o passado de sua origem e da história do seu povo. E disse:
- Eu sou uma atlante.

SalamandraOnde histórias criam vida. Descubra agora