Capítulo 11

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Salamandra entrou em casa furtivamente, como uma gata. Não queria acordar Miloch e ter que dar explicações que ela ainda não sabia quais seriam.
Sentiu um grande alívio quando viu que ele já estava dormindo. Olhou em torno sentindo uma imensa saudade da vida de antes, quando eram felizes e livres para amar. Era tudo um sonho bom. Conseguiria restabelecer a paz de outrora? Segundo Renzo eles seriam muito felizes. E ainda, segundo Renzo, ele era o enviado. E ela confiava nisso.
Lembrou de quando o salvara do incêndio, de morrer nas chamas, quando ainda era uma criança de berço. Mas ele não sabia disso. De lá para cá muitos acontecimentos misteriosos e sobrenaturais se sucederam; ele envelheceu enquanto ela rejuvenesceu, a redoma de proteção da cidade trincou, o andarilho chegou com seus pergaminhos e após entregá-los ao bispo desapareceu subitamente na frente de dezenas de pessoas, e no espaço de um dia um segundo sol surgiu e os dias ficaram mais longos que as noites.
E agora aquele gesto abrupto, violento, inesperado e inexplicável de mordê-lo enquanto ele dormia.
Deitou-se ao lado de Miloch e fechou os olhos agradecendo por ele estar dormindo.
Mas Miloch não dormia. Desde que ela sumira de casa sem qualquer explicação que perdera a paz. Viu ela desaparecer, não atender seus telefonemas e nem responder suas mensagens, e chegar sorrateira como uma ladra. Sentiu a raiva crescer dentro dele. Talvez fosse ciúmes! E uma vontade imensa de matá-la, ou esquecê-la ou... possuí-la.
Virou-se na cama e encostou seu corpo sedento nela. Sentiu ela estremecer e pareceu ouvir um suspiro. Cheio de ciúmes a tocou com mãos nervosas, querendo sentir o que sua imaginação o fazia acreditar que encontraria. Ela gemeu com o toque rude. Sabia o que se passava com ele e se sentiu excitada. Virou-se e viu seus olhos negros brilharem de desejo na penumbra do quarto.
Sentiu suas mãos firmes invadirem suas entranhas até doer. Ele a mordia e depois passava a língua úmida como bálsamo para a dor, para em seguida apertar suas carnes até arderem.
O ciúmes era agressivo e queria punir, ao mesmo tempo que subjugava. E ele sucumbia ao próprio desejo se realimentando dele. Ele queria confirmar a posse, o seu território. Se ela se dava para outros ele seria o melhor deles!
Então, com rudeza a puxou para cima dele, e seus corpos se encaixaram. Ele a suspendia e abaixava num ritmo frenético, dotado subitamente de uma força anormal. Era um animal no cio, instinto puro, cego e desarrazoado.
Ela suportou aquela posse violenta como uma pecadora pedindo perdão por ter feito o que não fez.
Ao final, seus corpos tombaram para o lado e adormeceram imediatamente.

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