Capítulo 8

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Com a revelação inesperada, Adriano foi subitamente arrebatado de sua zona de conforto. Seu coração parou no peito, ou pareceu parar, e sentiu a boca seca. Riu alto, na esperança de quebrar o espanto que o esmagava, e que ela voltasse a sua postura servil, mas nada mudou, continuava a se sentir esmagado e ela continuava como um soldado aguardando ordens. E o encanto que suas revelações causavam ainda pairava no ar, e ele sabia que haveria de pairar para sempre.
A atmosfera estava pesada. E ela continuava sentada, impassível, como se não estivesse ali, ou como se estivesse ali por toda a vida, ou, ainda, como se pudesse permanecer para sempre.
Então perguntou, num misto de medo e coragem:
- Não entendi... Pode explicar o que quis dizer?
- Eu sou descendente do povo que fundou Atlântida.
Viu a expressão incrédula dele e sentiu pena daquele homem sempre tão impoluto, tão seguro de si e das suas próprias verdades.
Ele pigarreou para limpar a garganta, se recompôs e readquirindo o equilíbrio, disse:
- Atlântida é uma lenda platônica.
- Não, não é. Negar a existência de Atlântida é negar que estou aqui, hoje. Então você teria que negar sua própria existência também.
- Como você pode ter tanta certeza disso?
Salamandra fechou os olhos e voltou no tempo, ao dia em que vislumbrou quem era.
Seu espírito tivera origem numa ilha muito próspera, regida por leis justas, que fizera parte do que agora se conhecia como Japão. A terra natal de sua alma fazia parte desse vastíssimo território oriental, que tinha três vezes o tamanho atual. Mas há cem mil anos, por determinação cósmica, essa ilha do continente lendário submergiu em decorrência de um cataclismo geológico. O maremoto tragou a cidade em um dia e uma noite. Surgiram novos penhascos e o lodo que se aflorou nos planos tornaram suas saídas, inavegáveis. Então mais de 50 milhões de atlantes submergiram. E seu solo sagrado, sua Pátria, cedeu lugar ao mar do país do sol nascente.
- Como você pode ter tanta certeza disso? – tornou a perguntar Adriano.
- Eu só sei o que vivi.

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