Capítulo 26

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       Miloch acordou a tarde, com sede, sentindo os olhos pesados, e com um martelo batendo em sua cabeça. E novamente não a viu deitada ao seu lado. E antes mesmo de chamá-la soube que ela não estava mais ali. E sentiu novamente que perdia o controle de tudo, principalmente de si mesmo.
        Levantou-se e se dirigiu para o banheiro. Estava trôpego, com a garganta seca e com o raciocínio lento. Espiou o box e não viu as suas roupas e quando o desespero ia dominá-lo lembrou que já tinha jogado a prova do crime no lixo.
        Se olhou no espelho e viu a cicatriz no peito. Aquilo também já havia acontecido fazia um tempinho. E foi então que lembrou, subitamente, do dragão dourado.
       Aquela lembrança o fez cambalear. Se apoiou na pia e devagar se olhou no espelho, com receio de ver aquele ser mitológico de novo. Mas estava livre dele, suspirou aliviado.
        Que era aquilo tudo? Acordava sozinho na cama. Só tinha pesadelos. E via um dragão espiando-o tomar banho. E para agravar o caos sua mulher estava de caso com um cliente! E concluiu que toda confusão começara com aquela maldita mordida! Aquele foi o exato instante em que a vida começou a degringolar. Mas não ia prosseguir naquele enredo! Ia retomar o controle de tudo, e reconquistar sua mulher!
        Ligou para Murilo avisando-o de que a casa estaria pronta em menos de um mês, sugerindo que deveria dar uma festa para inaugurá-la. E sorriu quando ele concordou, achando a ideia excelente. Daria uma grande festa, e combinariam os detalhes pessoalmente no escritório. Marcaram o encontro para o dia seguinte.
       Trabalhou pouco, porque o martelo na sua cabeça não parava de bater. Bebeu muita água. E devorou os lanches que a secretária discretamente ia colocando sobre sua mesa.
       Desde que acordara que espiava o celular esperando uma notícia, mas nada dela dar sinais de vida. Chegou até a pensar em largá-la de vez e seguir adiante, sem olhar para trás. Mas duvidou de si mesmo, de que fosse capaz disso, e apostaria qualquer coisa se um outro conseguisse fazer diferente dele. Não na situação dele.
       Antes de abrir a porta ouviu a música e soube que ela estava em casa. Seu coração bateu mais forte, o sangue latejou nas veias e ficou excitado. Quando abriu a porta se deparou com ela. Viu ela sorrir, e sentiu seu beijo nos lábios, e soube que ela andara bebendo. E esse breve beijo reacendeu suas desconfianças.
        Ela percebeu pelo olhar que ele lhe lançou que estava pisando em terreno movediço. Não queria pedir explicações e nem ter que dá-las, por isso perguntou se ele estava bem.
        - É que ontem você bebeu um pouquinho. – não havia reprovação em sua voz.
        - Agora me sinto melhor.
        - Posso preparar algo para você comer. – sugeriu.
        Mas ele não queria comer. Ele queria estar com ela e saber dela.
        - Vamos jantar fora? – convidou.
        - Vamos! – e pensou que apesar de não estar com fome, comeria o mundo só para restabelecer a harmonia de antes.
        E saíram rodando de carro pelas ruas da cidade, indecisos onde ir, o que comer, e acabaram num Buddha Bar onde além de comer e beber, poderiam dançar.
       Pediram um drinque, e mais outro, que beberam em silêncio. No terceiro drinque os olhos se cruzaram e as mãos se tocaram por cima da mesa. Quando sentiu que ele abaixara a guarda, colocou a mão dele em sua perna e depois entre suas coxas. E ele ficou ali a explorar aquele território como se fosse a primeira vez.
        Uma música mais tranquila começou a tocar e foram dançar. Ele a puxou para junto de si, e ela pode sentir o quanto estava excitado. E isso iluminou sua alma. Porque ela se excitava assim quando percebia o desejo dele, e ele continuava a deseja-la ardentemente.
        Então ficaram ali, mais se esfregando do que dançando, ao som da música que tocava, da bebida que subia a cabeça, e da paixão que os consumia.
        Sentiu sua respiração pesada muito próxima e a quentura de seu hálito próxima da boca, e fechou os olhos. Esperava por um beijo que não veio, por um carinho que não recebeu, e ficou irritada. O afastou o suficiente para mergulhar em seus olhos e mostrar o quanto estava decepcionada, mas ele não reagiu. Talvez quisesse castigá-la, mas por que o faria? E concluiu que quem merecia ser castigado era ele! Então aproximou a boca e mordeu de leve seu queixo, enquanto acariciava suas costas. Então ele sucumbiu ao desejo e se aproximou para beijá-la, mas ela virou levemente o rosto, recusando o beijo que tanto desejava. E quando insistiu, ela se afastou ainda mais. Então, subitamente, a puxou com força, e segurando sua nuca encostou a boca na dela. Não cedeu na pressão até que sentiu os lábios dela se abrirem para receber sua língua. E passaram a noite num jogo de provocações mútuas. Até que não se controlando mais a puxou para o terraço e ficou imprensando-a de encontro a mureta até sentir sua tensão explodir dentro dela. Ouviram vozes. Ela desceu o vestido, enquanto ele fechava a calça. E deixaram o terraço sem qualquer palavra.

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