Capítulo 77

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Rosa Fernandez

Fiquei completamente petrificado quando me deparei com a visão da minha avó parada diante da minha porta. Sua face, antes serena e afetuosa, havia se transformado em algo monstruoso. No momento em que seu olhar desviou-se para minha barriga, vi uma expressão de fúria se intensificar em seu rosto assustador. O medo tomou conta de mim, numa onda avassaladora, ao perceber que ela encarava meu ventre com um misto de repugnância e ira.

Era como se a mera existência do meu filho fosse algo tão abominável que seu rosto distorcido já falava mais alto do que qualquer palavra. Ela nem precisou abrir a boca para que eu notasse todo o ódio que transbordava de seu ser. O medo ganhou ainda mais força diante do olhar cheio de fúria que ela dirigia à minha barriga, como se estivesse encarando a criatura mais horrenda que poderia existir.

Talvez tenha sido a maneira como seus olhos pareciam brilhar de forma ameaçadora ou a expressão determinada que assumiu, mas o medo cresceu a uma proporção incontrolável dentro de mim. Era como se a presença do meu filho em meu ventre despertasse o pior que havia dentro dela. Aterrorizado, eu me perguntava o que aquela raiva poderia significar e como ela poderia afetar não só a mim, mas também a vida do meu pequeno e indefeso bebê.

- Então esse é o motivo para essa viagem? - ela falou com raiva, entrando sem pedir licença, literalmente invadindo o meu espaço. Eu me afastei quando percebi que ela ia me empurrar.

- Vó, o que está fazendo aqui? - perguntei, ainda sem entender como ela sabia onde eu morava e o que ela estava falando. Ela viu a minha expressão de espanto e coloquei minha mão sobre meu ventre em sinal de proteção, o que fez ela gargalhar.

- Olha só a santinha, a inválida, a deficiente! Vim ver com meus próprios olhos esse monstro que é você. Tinha que ver com meus próprios olhos este circo. Como você pode, você é mesmo uma vadia ingrata! - ela gritou, assustando o meu bebê que estava no colo da avó. - Me conta, Rosa, que história é essa de você estar grávida? Ouvi você contando para a Ramona e parece que essa não é a primeira vez que está grávida. Aquele curso no México foi muito divertido, não é? E eu, a tola, te sustentando lá no México, enquanto você fica transando com todo mundo. Você é uma prostituta, uma vagabunda! - ela continuava gritando e parecia ficar sem ar. Então ela se virou e viu a minha sogra sentada, olhando para nós, chocada e tentando acalmar o meu bebê.

- Vovó, se acalma, por favor! Você tem pressão alta. Vou pegar um copo de água. - falei, mas ela não me deixou dar um passo.

Eu acho que já estou tão acostumada ouvi ela me chingando que simplesmente ignorei está mais preocupada dela ter um troço na minha sala.

- Por que você não pensou nisso antes? Tive que ficar sabendo por um desconhecido. Bem que ele me disse que você era uma mentirosa - ela falou, já bastante vermelha. - Como pode, Rosa? - ela gritou.

- Se acalma, por favor! Eu não te contei pelo mesmo motivo de você não querer que a minha mãe me tivesse. Você provavelmente iria querer que eu tirasse e, morando na sua casa, seria capaz de colocar remédio na minha comida só para não ter a minha filha. E eu nunca fui sustentada por você, pelo contrário, você vive do meu dinheiro. Esse showzinho é só porque eu tenho herdeiros. E sim, eu tenho herdeiros, eu tenho filhos. E você não vai vir aqui ficar gritando na minha casa, como você fazia com o meu pai, que nunca foi bom para você...

- Não fala do imprestável do seu santo pai! E sim, Rosa, eu com toda certeza teria mesmo feito você tirar esse bastardo. Cansava de dizer para sua mãe que o idiota do seu pai não era homem para ela, um homem que nem família tinha e que trabalhava em uma sorveteria. Eu só queria o melhor para a minha filha, e você foi a pior coisa que aconteceu para ela. Se você não tivesse nascido, ela estaria viva hoje. Foi por sua culpa que sua mãe morreu! - ela gritou, vermelha de raiva.

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