80 • remembrance

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Há três anos atrás eu tive uma briga muito feia e injusta com alguém com quem jamais devia brigar... uma briga com a minha mãe. Jamais vou esquecer o quanto foi horrível. Ainda me culpo, mas sei que nada daquilo é culpa minha... Talvez nem tudo. Mesmo que todos, principalmente minha mãe, diga que a culpa é dela, sinto que tenho sim uma boa parcela de culpa por tudo o que aconteceu. Porque se nunca tivesse aceitado fazer as vontades da minha mãe em relação a carreira que ela queria que eu seguisse, só simplesmente tivesse dito não quero ser isso” e me sentado para conversar com ela numa boa, sem xingar ou aumentar o tom de voz, nada do que aconteceu dos meus 14 até meus 24 anos teria acontecido, e tudo estaria perfeitamente bem. Mas agora sei que nem tudo precisa ser perfeito sempre. As dificuldades e os conflitos sempre vão existir, para que possamos aprender com nossos erros e acertos — principalmente erros —, para nos fazer enxergar que ninguém é perfeito.
Claramente não são todos que aprendem logo, alguns levam tempo. Eu mesma levei um bom tempo para aprender com tudo o que aconteceu e entender tudo também. Todas as palavras ditas, as vozes alteradas, os xingamentos, coisas que nunca devíamos ter dito uma a outra... Lembrar de tudo aquilo ainda dói exatamente quando e como aconteceu, mas não como estar exatamente onde tudo aconteceu.

Ao abrir a porta do meu antigo quarto, eu apenas fico parada por alguns segundos, então olhei para Gwil.

Kyra: Liga a luz pra mim, por favor?

Gwil: Okay. — ele dá um passo e acende a luz apertando o interruptor ao lado da porta. — Prontinho, está acesa.

Eu estava de olhos fechados, não queria ver o quarto, meu peito doía só de saber o quanto já chorei naquele cômodo.

Gwil: Midget, quer mesmo fazer isso? Você está bem? — pergunta.

Kyra: Eu preciso, só não consigo olhar.

Só eu e mais três pessoas sabemos que aquele quarto tem uma energia pesada, existe muitas dores e mágoas presas naquelas quatro paredes.

Gwil: Nada mais vai te machucar, eu estou aqui com você, okay? — me abraça forte. — Se doer, eu vou estar aqui para ajudar a fazer a dor parar.

Eu inspirei fundo e o cheiro de Gwil parece me deixar mais tranquila, assim como seus braços em volta de mim, então finalmente soltei o ar, desfizemos o abraço e abri os olhos apenas para olhar em seus olhos.

Kyra: Obrigada por estar aqui comigo. — digo baixo e ele apenas sorri.

Gwil: Se sente melhor? — acaricia meu rosto.

Kyra: Sempre consegue me acalmar, amo isso em você. — sorrimos um para o outro. — Agora preciso entrar nesse quarto.

Gwil: Vamos entrar juntos então. — segura minha mão.

Eu suspiro e assinto. Gwil entra no quarto primeiro segurando minha mão, até que finalmente atravesso a porta também entrando no meu antigo quarto. A energia pesada e o sentimento angustiante daquele quarto ainda me fazia mal, mas não deixei aquilo me atingir, pelo menos não até olhar o quarto um pouco mais e perceber que tudo ali permanecia quase exatamente como eu o deixei no dia que saí de casa e fui passar um tempo na casa de Dominic.

Olhei a cama, era a mesma — claro — e ainda estava com os mesmos lençóis, os travesseiros com as mesmas fronhas, ainda havia a boneca de pano que ganhei quando era criança. Olhei as paredes, eram as mesmas paredes lilás que pintei aos 13 anos com a ajuda do meu pai e meu tio, ainda haviam quadros das fotos que meu tio havia tirado, algumas minhas, outras de lugares que sempre quis conhecer, pôsteres de filmes, na minha mesa de cabeceira porta retratos com fotos minhas com Dom e Maddie, com meus pais e meus avós. Me aproximei da minha penteadeira, ao redor do espelho haviam recortes e mais fotos, não tantas como antes de eu levar metade comigo quando fui embora. Olhei para um certo canto do quarto e havia um espelho grande, que também é de quando ainda morava aqui. Parei em frente a ele e vi que havia uma parte quebrada, passei a mão por cima e sem querer me cortei.

𝑭𝒓𝒐𝒎 𝒀𝒐𝒖𝒓 𝑬𝒚𝒆𝒔 𝑻𝒐 𝒀𝒐𝒖𝒓 𝑺𝒐𝒖𝒍Onde histórias criam vida. Descubra agora